Músicas de Rita Lee, Ro Ro e poemas: o setlist da turnê de Maria Bethânia

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Maria Bethânia encantou o público ao estrear sua nova turnê, 60 Anos de Carreira, neste sábado (6), no Vivo Rio. Com um repertório que trouxe referências a seus shows mais marcantes e clássicos, mas nada óbvio, a artista de 79 anos mostrou, mais uma vez, por que segue sendo uma das grandes intérpretes da música brasileira.

As homenagens às mulheres tiveram destaque no roteiro do espetáculo, criado pela própria cantora, que também assina a direção. Como Veja Rio já havia antecipado, a principal novidade foi a canção inédita de Rita Lee e Roberto de Carvalho, Palavras de Rita, a partir de uma emocionante letra deixada pela compositora especialmente para a baiana.

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Rita Lee deixou uma letra-poema com um pedido: que eu a cantasse. Entregou à minha voz seus pensamentos, reflexões e lucidez. Pediu que Roberto, seu amor e parceiro, musicasse. Comovida, realizo o desejo dessa artista imensa”, disse Bethânia, em um vestido branco assinado por sua ex-companheira, Gilda Midani — no segundo ato, ela vestiria por cima um casaqueto com detalhes em dourado.

“Eu, hermafrodita / Da água respirei a vida / No sangue que bebi, o soro / Nos ares, explodi em choro / Da gula que comi, a fome / Da fêmea que nasci, homem / Eu me transformei em mim / Do Deus que duvidei, o sim / Das mortes que vivi, o além / Dos vícios que virei refém / Dos bichos que sou, felina / Na velha que estou, menina”, diz a canção.

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Angela Ro Ro, que estava internada em estado delicado de saúde desde julho e morreu nesta segunda (8), foi outra celebrada pela Abelha Rainha, que cantou duas músicas suas em sequência. A primeira foi a intensa Mares de Espanha, inédita na voz da baiana, foi lançada originalmente no disco de estreia de Ro Ro, homônimo, em 1979.

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Ela, então, emendou na não menos forte Gota de Sangue, gravada por Bethânia no álbum Mel (1979), ajudando a impulsionar a carreira da então estreante compositora.

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Nana Caymmi, morta em 1º de maio, também recebeu tributo da amiga, que declamou um doce texto assinado pelo poeta Eucanãa Ferraz e, em seguida, cantou Sussuarana (de Heckel Tavares e Luiz Peixoto), que a baiana e Nana gravaram em dueto no disco Brasileirinho (2003), de Bethânia.

Ao fundo, o telão (sob direção visual de Otávio Juliano) exibia assinaturas de diversas cantoras, incluindo a de Gal Costa, outra grande amiga da artista.

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Foram 39 canções e mais quatro citações, entremeadas por cinco textos, divididos em dois atos e o bis. Compositores marcantes na carreira de Bethânia, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Gonzaguinha e Chico César estão presentes no setlist, mas muitas vezes em escolhas menos óbvias, em vez dos grandes hits.

Ela também incluiu músicas de compositoras importantes, como Maysa, Sueli Costa e Marina Lima, além de Ro Ro e Rita. A turnê traz cinco inéditas: a já citada Palavras de Rita; Eu Mais Ela, de Chico César; Balangandã, de Paulo Dáfilin e Roque Ferreira; o fado Se Não te Vejo, do português Pedro Abrunhosa; e Vera Cruz, de Xande de Pilares e Paulo César Feital.

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O show conta com direção musical de Pedro Guedes, que assina os arranjos ao lado de Jorge Helder (baixo e bandolim) e Thiago Gomes (teclados e guitarra). Entre as novidades na sonoridade da turnê, está a presença de metais e do coro formado por Fael Magalhães, Janeh Magalhães e Jenni Rocha.

Maria Bethânia se mostra antenada com o mundo ao seu redor, dando o recado por meio de músicas de tom político — de Podres Poderes, de Caetano Veloso, à inédita Vera Cruz (Xande de Pilares e Paulo César Feital), com a letra que afirma as religiões de matriz africana estampada no telão: “Sou Brasil, sou pátria dos Exus / Sou Pilintra, viro Zé”.

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Ou ainda no texto declamado do xamã ianomâmi Davi Kopenawa, um grito contra a opressão aos povos indígenas e à destruição da natureza: “Mais tarde, na floresta, talvez morramos todos. Mas não pensem os brancos que vamos morrer sozinhos. Mesmo sendo muitos, também não são feitos de pedra. Seu sopro de vida é tão curto quanto o nosso”, diz um trecho.

Os sessenta anos de carreira da cantora são comemorados a partir de sua estreia no espetáculo Opinião, em 1965, substituindo Nara Leão. Bethânia arrebatou o Brasil na época com sua interpretação de Carcará, de João do Vale e José Cândido, e é uma citação dessa música que encerra o show com o clássico refrão: “Carcará, pega, mata e come”.

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No bis, ela cantou Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá, samba-enredo do desfile que deu o campeonato à Mangueira em 2016, e Reconvexo, de Caetano Veloso, uma das músicas mais emblemáticas de seu repertório, e despediu, enquanto o público entoava em coro: “Sem anistia”.

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Veja o repertório do show:

Ato I

1. Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972) – citação do trio de vocalistas

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