O caso dos influenciadores Hytalo Santos e Israel Nata Vicente completa um mês nesta segunda-feira. Os dois passaram a ser investigados integralmente pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado da Paraíba (Gaeco-PB). Eles foram detidos há um mês, em 15 de agosto, numa apuração de tráfico humano e exploração sexual infantil que corre em segredo de Justiça.
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Hytalo e Israel foram presos em Carapocuína, na Grande São Paulo, e transferidos em 28 de agosto para uma penitenciária da Paraíba. Na ocasião, a investigação corria nas promotorias de Bayeux e João Pessoa, lideradas pelos promotores Ana Maria França e João Arlindo. A partir do fim de agosto, porém, foi transferida ao Gaeco. O advogado do casal, Felipe Cassimiro, disse ao g1 que seus clientes são inocentes e que aguarda decisão judicial sobre “muitos pedidos” de soltura.
O presídio em que ambos foram alocados, conhecido como Róger, é a unidade prisional de maior importância em João Pessoa na custódia de presos provisórios masculinos. Atualmente, conta com oito pavilhões. Na cadeia, há uma cela exclusiva para a população LGBTQIA+.
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) de 2024, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presídio do Róger conta com 677 presos, incluindo analfabetos até pessoas que têm algum curso superior. Já de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (Seap-PB), o presídio conta com 890 detentos, para uma capacidade de 700 presos. O número é 27% acima do limite previsto da capacidade total.
Hytalo e Israel, que cumpriam o período de reconhecimento no presídio, vão poder receber visitas a partir deste domingo. Até então, apenas advogados eram autorizados a entrar no local para contatá-los, e parentes só puderam entregar suplementos.
A defesa do casal tinha pedido que eles fossem transferidos para a Penitenciária de Tremembé, em São Paulo, conhecida como “penitenciária dos famosos”. Porém, a Justiça recusou o pedido da defesa e determinou que o casal fosse encaminhado à Paraíba, estado onde o processo contra Hytalo e Israel tramita.
Desde 2024, o influenciador já era alvo de duas denúncias do Ministério Público da Paraíba, em João Pessoa e Bayeux, além de uma apuração pelo Ministério Público do Trabalho. Hytalo é acusado pelos crimes de tráfico humano e exploração sexual infantil. Ele foi um dos denunciados no vídeo do youtuber Felipe Bressamin Pereira, o Felca, sobre a “adultização” de crianças, que teve milhões de visualizações e mobilizou políticos a discutirem novas regras de proteção infantil nas redes sociais.
O que levou Hytalo à cadeia
A alegação do Ministério Público, que fez um pedido de detenção preventiva para ambos, foi com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. A solicitação foi aceita pela Justiça em 14 de agosto.
“O acusado pratica ‘adultização’ de adolescentes, consistente na indução precoce a comportamentos e performances sexualizadas, empregada como estratégia deliberada de engajamento digital e rentabilização econômica. Ainda que sob aparência de lazer, tal conduta traduz utilização indevida da imagem de menores com finalidade lucrativa, configurando exploração sexual e trabalho infantil artístico irregular, uma vez que o conteúdo produzido é monetizado em plataformas digitais” afirmou, na época, a promotora Ana Maria França, da 2ª Promotora de Justiça de Bayeux.
Segundo os investigadores, Hytalo centraliza seu conteúdo em um grupo de jovens (chamados de “crias”, “filhas” e “genros”), muitos menores de idade, que residiam em uma “mansão” sob sua tutela informal. O influenciador realizaria apoio financeiro aos menores e também a seus pais.
As condutas de Hytalo não se limitavam à exploração da imagem e da sexualidade dos jovens. Em depoimento ao Ministério Público do Trabalho (MPT-PB), um policial militar que fez serviço de segurança para os dois acusados afirmou que recebia dinheiro em sua conta oriundo de plataformas de apostas que patrocinavam o influenciador, e que Hytalo não remunerava as mulheres que serviam como “vitrine” para seu negócio.
“Hytalo fica com todo o dinheiro dos contratos de publicidade fechados pelos adolescentes e demais integrantes da turma. Além disso, eles não possuíam cartão de crédito e não recebiam qualquer dinheiro do influenciador. Tudo era pago por Hytalo e os menores não tinham dinheiro nem para tomar um sorvete na esquina”, disse o policial aos promotores do MPT paraibano.
Para dar ar de legalidade a seus atos, o influenciador paraibano dizia ter a tutela dos jovens, mas o máximo que conseguia era a autorização verbal dos pais deles. Para a acusação, caso estivesse em liberdade, Hytalo poderia destruir provas e fugir do estado e até mesmo do país.