prefeituras vão fiscalizar se barreiras serão refeitas pelo tráfico

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Governador Claudio Castro, a cúpula da segurança do estado e prefeitos da Região Metropolitana discutem a retirada de barricadas — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo


O governador Cláudio Castro reuniu na manhã desta segunda-feira, no Palácio Guanabara, prefeitos e representantes de 12 municípios da Região Metropolitana para apresentar o plano Barricada Zero, uma força-tarefa que pretende remover as 13.604 barreiras mapeadas pelo estado em áreas dominadas pelo crime organizado. O programa, inspirado no modelo iniciado em Belford Roxo, marca uma nova fase da política de segurança após a megaoperação que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, há três semanas — a mais letal da história do Rio.

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A estratégia prevê que o Estado entre com maquinário “pesado” e segurança policial, enquanto as prefeituras assumem a parte logística, como retirada do entulho, aterramento de valas, requalificação urbana (iluminação, poda e limpeza) e definição dos locais de descarte.

— O planejamento é até o fim do dia as prefeituras indicarem os seus pontos focais. Até quarta-feira o planejamento já ter começado e ao longo da semana que vem nós já temos as primeiras ações.

Segundo o governador, a retirada será diária até o fim do mandato, e qualquer tentativa de reconstrução será respondida imediatamente:

— Voltou uma barricada, vai ter nova operação. O criminoso vai ter certeza que, se colocar novamente, o Estado volta com uma ação ainda maior — afirmou Castro.

Prefeitos presentes, ausentes e o recado político

Participaram da reunião prefeitos de difrentes partidos. Foram: Eduardo Paes (Rio – PSD); Capitão Nelson (São Gonçalo – PL); Marcelo Delaroli (Itaboraí – PL); Dudu Reina (Nova Iguaçu – PP); Marotto (Mesquita – PL); Glauco Kaiser (Queimados); Léo Vieira (São João de Meriti – Republicanos); Fernanda Ontiveros (Japeri – PT); e Márcio Canella (Belford Roxo – União Brasil). Também foram representantes de Nilópolis, Japeri, Caxias e Maricá.

Outros municípios enviaram apenas representantes: Nilópolis, Duque de Caxias e Maricá (governada por Washington Quaquá, do PT). A ausência física de parte dos prefeitos — especialmente Quaquá e o prefeito de Caxias, cidades críticas na geografia do crime — foi notada nos bastidores, mas o governador evitou politizar:

— Independente de partido ou indicação política, fiquei entusiasmado com a colaboração dos prefeitos. Precisamos do empenho de todos — disse.

A reunião para discutir o plano contra as barricadas ocorre cerca de três semanas após operação que deixou 121 mortos (117 suspeitos e quatro policiais) nos complexos da Penha e do Alemão, considerada a mais letal da história do Rio e do Brasil.

Ele fez questão de citar Márcio Canella, de Belford Roxo, como precursor do modelo, ressaltando que a estratégia “ganhou força” porque a cidade integrou esforços com o estado.

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Como funcionará o Barricada Zero

O plano envolve órgãos do estado como GSI, PM, Polícia Civil, ISP, Seap e secretarias municipais. O Instituto de Segurança Pública criou uma geointeligência baseada em denúncias, imagens de dronne e registros policiais, apontando 13.604 pontos — número que “pode ser maior”, segundo Castro.

As prefeituras terão de indicar ao estado dois servidores por cidade: um para a área de ordenamento e outro para serviços urbanos. Cada município também informará onde serão feitos os descartes. Em Caxias, por exemplo, será usado um centro que poderá atender outros municípios sem estrutura própria.

O governo estadual ficará responsável pelo maquinário pesado, retroescavadeiras, tratores, 50 kits de demolição e corte, mas promete apoiar financeiramente os municípios que necessitarem.

Alguns tipos de barricadas encontrados nas últimas semanas:

  • Valas abertas por criminosos (que serão aterradas imediatamente)
  • Entulhos e restos de construção
  • Barracas improvisadas e estruturas de engenharia
  • Concreto com ferros chumbados e carros abandonados

Segundo Castro, a meta é romper as barreiras e restaurar o direito de ir e vir:

— É uma ação integrada. No Rio, demonstramos o que está acontecendo, e não impomos às prefeituras: chamamos à mesa e convidamos a fazer parte.

Segurança, riscos e continuidade

Indagado sobre como pretendia garantir a integridade dos moradores durante o processo, o governador afirmou que a presença de barricadas na porta das casas “não é sinal de proteção”:

— Conforme aprimoramos, montando estratégia local, vamos minimizando o risco. É uma grande preocupação nossa. Se o criminoso acerta uma criança, vão colocar a culpa no Estado — disse.

Castro também reconheceu não ter garantia de que não haverá resistência:

— Não dá para garantir que não haverá reação, mas quando desarticulamos, eles vão diminuindo o poderio.

Para incentivar equipes, o governo criou um sistema de bonificação para agentes envolvidos na retirada, mas não explicou como funcionara.

O governo aponta São Gonçalo e São João de Meriti como os casos mais graves, onde disputas territoriais e valas abertas impedem o acesso de viaturas e ambulâncias. Em áreas da capital, como Vigário Geral, barricadas já chegam às margens de vias expressas como a Avenida Brasil.

Em setembro, dois policiais do 17º BPM ficaram feridos por explosivos acoplados a uma barricada na Ilha do Governador — um dos episódios que acelerou o plano.

Confira as cidades da primeira fase da operação:

  1. Rio de Janeiro
  2. Belford Roxo
  3. Japeri
  4. Nova Iguaçu
  5. São Gonçalo
  6. Itaboraí
  7. Duque de Caxias
  8. Queimados
  9. São João de Meriti
  10. Nilópolis
  11. Mesquita
  12. Maricá

Em entrevista ao GLOBO na semana passada, Castro anunciou o combate às barricadas instaladas nos acessos de regiões dominadas pelo crime organizado para dificultar o acesso das forças de segurança e garantir maior controle do território.

— A ideia é a que gente retire (das ruas) o material das barricadas. Não será só desobstruir o acesso, é retirar dali construções, carros, cabos e restos de madeira usados nessas obstruções. Por isso, as prefeituras serão importantes, sobretudo, com caminhões para tirar esse material. Valas (abertas pelos bandidos) também serão aterradas. Vamos colocar concreto na mesma hora. O Estado provê os kits de demolição, de corte, etc. Vamos começar com 50 equipamentos e, em seguida, aumentaremos até conseguir tirar tudo. Vamos utilizar também maquinário (como retroescavadeiras e tratores) de contratos que temos com diferentes secretarias. E o papel da Polícia Militar será dar segurança para que o Estado possa entrar e retirar. A operação envolve prefeituras e diversas secretarias. Teremos ainda outras operações conexas que serão vistas em breve — disse Castro.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/11/17/operacao-contra-barricadas-tera-inicio-em-11-cidades-da-regiao-metropolitana-do-rj.ghtml

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