Prazer imediato engana: por que a felicidade de verdade pede tempo e vínculo

Tempo de leitura: 4 min


A pressa por alívio instantâneo pode nos deixar vazios; entenda por que relações consistentes, paciência e
elaboração emocional constroem uma felicidade mais estável do que a euforia passageira

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Sigmund Freud, fundador da psicanálise, já alertava para esse conflito interno

Vivemos no tempo das respostas rápidas, das relações por aplicativo e da satisfação em um clique. Mas
quanto mais perseguimos o prazer imediato, mais nos afastamos daquilo que sustenta a vida: vínculo,
sentido e elaboração emocional.

Sigmund Freud, fundador da psicanálise, já alertava para esse conflito interno. De um lado, o princípio do prazer, que busca aliviar o desconforto rapidamente. Do outro, o princípio da realidade, que exige espera, renúncia e elaboração. A maturidade começa quando entendemos que nem tudo o que sentimos precisa ser atendido no instante em que surge.

Prazer que passa rápido, vazio que volta cedo

Na lógica atual, somos incentivados a consumir, sentir prazer e seguir. Uma comida, uma compra, um
like, uma conversa rápida. Funciona — por alguns minutos. Depois, o vazio retorna. A psicanalista Maria
Rita Kehl chama isso de “cansaço afetivo moderno”: estamos exaustos de sentir pouco, rápido e de modo
superficial.

O sociólogo Zygmunt Bauman chamaria esse fenômeno de “modernidade líquida” vínculos frágeis,
promessas breves, relações descartáveis. O outro vira objeto de uso, não de encontro. Se frustra, troca-
se. Se exige esforço, abandona-se.

Amar é elaborar — e elaborar leva tempo

O amor verdadeiro começa quando somos capazes de adiar o prazer. Amar exige lidar com a falta, com a
imperfeição, com a presença real do outro — e não com a fantasia idealizada. Em outras palavras: amar é
elaborar aquilo que sentimos, e não apenas buscar alívio emocional.

A psicanálise mostra que não existe vínculo sem frustração. Relação é troca, conflito, reparo. O contrário
disso é o amor instantâneo: sem espera, sem incômodo, sem profundidade — e, por isso, sem raiz.

Relações no mundo de hoje

No mundo contemporâneo, aprendemos a acreditar que sentir algo é suficiente para justificar
permanecer ou partir. Mas a afetividade adulta não nasce do impulso: nasce do compromisso. Bauman
resume bem: “As relações são consumidas como produtos; quando perdem o brilho, são substituídas”.

Mas vínculos reais não têm brilho constante. Eles têm história. Têm falhas, reconciliação, palavra,
silêncio. Vínculo é continuidade, não intensidade.

Felicidade não é euforia — é atravessamento

A busca frenética por sentir prazer o tempo todo tem um preço: perdemos a capacidade de esperar, de
suportar o desconforto e de transformar dor em crescimento. A psicanálise chama esse processo de
elaboração psíquica — quando uma experiência deixa de ser apenas dor e se transforma em significado.

É nesse ponto que o prazer e a felicidade se separam. O prazer é rápido. A felicidade, não. Ela surge
quando aceitamos o tempo, as imperfeições e o outro como ele é. Talvez a felicidade não esteja na intensidade, mas na continuidade

Em um tempo que nos convida a viver de picos de emoção, talvez o caminho não seja lutar contra isso,
mas aprender a escolher o que permanece. A felicidade não é feita apenas de instantes incríveis — é
construída na soma dos dias possíveis, nos vínculos que atravessam dificuldades e continuam existindo,
mesmo quando a vida não é perfeita.

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Porque, no fim, o que sustenta não é o prazer rápido, e sim a calma de estar em algo que faz sentido —
mesmo sem euforia, mesmo sem pressa, mas com verdade.

Caroline Ferraz de Paula – CRP: 06/111519
Psicóloga





Com informações da fonte
https://jovempan.com.br/saude/prazer-imediato-engana-por-que-a-felicidade-de-verdade-pede-tempo-e-vinculo.html

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