Coronel do Bope exonerado após operação que deixou jovem morto em festa junina no Santo Amaro é nomeado superintendente da PM

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Coronel Aristheu Lopes, ex-comandante do Bope exonerado por Castro após operação em festa junina no Santo Amaro é nomeado superintendente da Superintendência de Gestão Integrada (SUPGI) — Foto: Reprodução/ Instagram


Três meses após o governador Cláudio Castro exonerar o coronel Aristheu de Góes Lopes do comando do Batalhão de Operações Especiais (Bope), por autorizar uma operação no Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, o oficial foi nomeado superintendente da Polícia Militar. A ação, realizada em 8 de junho deste ano, aconteceu durante uma festa junina na comunidade, quando agentes entraram atirando. O jovem Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, foi baleado na barriga e morreu. Além dele, outras cinco pessoas ficaram feridas. Segundo a PM, o coronel não foi alvo do Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou o crime e não tem qualquer restrição para assumir o cargo.

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A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado na última sexta-feira, 5 de setembro. O ato foi assinado pelo secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo Menezes — que, dois dias após a morte de Herus, admitiu publicamente que os agentes não seguiram os protocolos da corporação.

Segundo a publicação no Diário Oficial, Aristheu assume o cargo em comissão de superintendente da Superintendência de Gestão Integrada (SUPGI), vinculada à Subsecretária de Comando e Controle da PM. A função estava vaga desde agosto e passa agora a ser ocupada oficialmente pelo coronel.

A Polícia Militar do Rio justificou que o novo cargo foi definido por “critérios técnicos e estratégias definidas pelo comando”.

Três meses depois da ação que terminou com a morte de Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, durante festa junina no Catete, oficial volta à cúpula da corporação em cargo publicado no Diário Oficial — Foto: Reprodução/ Diário Oficial do Estado

Em junho, menos de 24 horas após a operação, também foram afastados o coronel André Luiz de Souza Batista, então comandante do Comando de Operações Especiais (COE), além de 12 policiais do Bope que participaram da ação.

“Agora pela manhã, em uma reunião com os secretários de estado de Segurança e da Polícia Militar, determinei o afastamento imediato dos responsáveis por autorizar a operação na madrugada de ontem, na comunidade do Santo Amaro, em meio a uma festa popular”, postou o governador nas redes sociais, na época.

Segundo a PM, a Superintendência de Gestão Integrada (SupGI) é o órgão responsável pela coordenação e integração das ações das agências de emergência no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) e está subordinada à Subsecretaria de Comando e Controle (SSCC).

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O pai de Herus, jovem morto durante a operação, Fernando Guimarães, criticou a falta de posicionamento do governo do estado em relação à morte do filho.

— Até hoje, após três meses, ninguém do governo do estado nos procurou para dar uma satisfação ou posição. Incrível que pessoas que não tem nada a ver com o caso, nos procurou, nos ajudou com medicamentos, ajuda psicológica e o que nos precisaremos até hoje — disse o pai de Herus.

Para ele e a família do jovem morto aos 23 anos, saber que um dos oficiais foi nomeado para um novo cargo na PM ascende “um sentimento de impotência”.

— Chega a beirar o ridículo. Ficamos muito tristes, chateados, muitas pessoas da comunidade manifestaram revolta. Mas eu sei que Deus, já tem algo escrito para acontecer na vida deles, o que só saberemos num futuro próximo. A Justiça será feita — declarou Formado Guimarães.

Segundo ele, a comunidade fará uma homenagem a Herus com a tradicional quadrilha junina do Santo Amaro, a mesma que se apresentava no dia 8 de junho deste ano, no momento em que os agentes entraram na comunidade.

Secretário que nomeou coronel chegou a admitir erro do agente

Na época em que admitiu erro dos agentes envolvidos na operação, o secretário da Polícia Militar também prometeu que faria uma apuração “firme e transparente” contra os oficiais.

— Eu vou citar aqui alguns requisitos. Primeiro requisito: avaliação de risco. Que tipo de impacto a nossa operação vai causar naquela comunidade? Segundo: princípio da oportunidade. O dia em que aquela operação vai ser realizada, o horário, se está havendo algum evento na comunidade. E o principal: que é a preservação das vidas. E a gente pode observar que esses requisitos não foram contemplados nessa operação emergencial — afirmou Menezes, em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo.

Segundo o secretário, o protocolo para ações emergenciais será reavaliado:

— As investigações (do que aconteceu no Santo Amaro) vão fazer com que a gente entenda o que ocorreu naquela madrugada, entenda como foi a execução daquela operação. As perícias realizadas no local e as armas dos policiais serão juntadas aos autos e vão subsidiar as nossas conclusões e dar a resposta que a sociedade merece neste momento.

O jovem Herus foi baleado no Morro Santo Amaro e não resistiu — Foto: Arquivo pessoal
O jovem Herus foi baleado no Morro Santo Amaro e não resistiu — Foto: Arquivo pessoal

Um operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Comando de Operações Especiais (COE), na madrugada do dia 8 de junho deste ano, gerou pânico entre os moradores da comunidade do Santo Amaro. Segundo relatos, os agentes entraram na região efetuando disparos em meio a uma tradicional festa junina. O jovem Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, foi atingido na barriga, chegou a ser socorrido ao hospital Glória D’Or, mas não resistiu aos ferimentos. Além dele, pelo menos outras cinco pessoas também ficaram feridas.

Fontes ouvidas pelo GLOBO contaram que os policiais foram ao Santo Amaro em busca de um bandido procurado que estava na festa com vários homens armados. Responsáveis por esta incursão, os então comandantes do Bope, Aristheu de Góes Lopes, e do COE, André Luiz de Souza Batista — que foram exonerados —, são os mesmos que planejaram em maio deste ano a ação no Complexo da Maré em que o chefe do tráfico Thiago da Silva Folly, o TH, um dos bandidos mais procurados do Rio, foi morto.

— Meu filho estava feliz, tinha emprego, amava dançar quadrilha. Tiraram isso dele. Ele foi comprar um lanche e não voltou — disse Fernando Guimarães, pai do rapaz, no programa Encontro com Patrícia Poeta, da TV Globo.

Uma bala, aparentemente de fuzil, foi retirada do corpo de Herus, e a perícia fará um confronto do projétil com as armas recolhidas dos agentes do Bope. Fernando Guimarães contou que, após ser baleado, o filho foi arrastado por policiais por uma escadaria. Vídeos que circulam na internet mostram a vítima sendo carregada por moradores e agentes até um veículo do Bope. A imagem do rosto do rapaz todo arranhado não sai da mente de Mônica Guimarães, mãe de Herus, que pede punição para os policiais:

— Eu não quero uma nota, senhor governador Cláudio Castro. A sua nota não me ajuda. A sua nota não faz a minha dor passar. A sua nota não vai trazer o Herus para casa. Eu só quero justiça. O policial só debochava. Eles só debochavam.

À época, Castro chegou a declarar que as investigações deveriam ser conduzidas com “extremo rigor e agilidade”, tanto pela Polícia Civil quanto pela Corregedoria Interna da PM. Ele também garantiu, em conversa com o Ministério Público, que todas as imagens captadas pelas câmeras corporais dos policiais envolvidos serão disponibilizadas para apuração das responsabilidades.

“Me solidarizo com os familiares e amigos do jovem Herus Guimarães Mendes e das outras vítimas que foram atingidas durante a festa. Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta e nem diminuir a dor de se perder um ente querido, mas fica aqui a minha tristeza e indignação”, afirmou.

Festa junina no Santo Amaro, na sexta-feira, que terminou com um homem morto, contava com quadrilhas juninas, roupas e musicas tradicionais — Foto: Reprodução
Festa junina no Santo Amaro, na sexta-feira, que terminou com um homem morto, contava com quadrilhas juninas, roupas e musicas tradicionais — Foto: Reprodução

Segundo o pai de Herus, toda a família estava na festa junina — inclusive ele e a esposa — quando, por volta de 3h30, homens do Bope entraram no local atirando:

— A gente estava na festa, cheia de crianças. Eles entraram dando tiro, sem motivo algum. Meu filho tinha acabado de sair para comprar um lanche. Graças a Deus o filho dele não estava presente. Ele chegou a ser reanimado no hospital, mas não resistiu. Era trabalhador, sem ficha criminal, pagava pensão. Infelizmente, não vai voltar. Hoje ele é mais um. Mas as autoridades precisam explicar o que estavam fazendo no morro naquele horário. Quem autorizou essa operação?

A família de Herus relata, ainda, que os policiais agiram de forma truculenta, arrastando o rapaz ferido numa escada. De acordo com parentes, os agentes agiram com agressividade também ao falar com eles.

Protesto contra a morte de Herus Guimarães no Morro do Santo Amaro, no Catete — Foto: Alexandre Cassiano
Protesto contra a morte de Herus Guimarães no Morro do Santo Amaro, no Catete — Foto: Alexandre Cassiano

PM do Bope diz que foi o único a atirar

Um dos agentes do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, envolvido na morte de Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, no morro Santo Amaro, contou à polícia, em junho, ter sido o único a atirar durante a operação. A informação, divulgada pelo RJ2, da TV Globo, contrapõe a primeira versão da Polícia Militar, que informou na data que traficantes da comunidade teriam atirado contra os policiais, que não teriam reagido à agressão.

Em depoimento, o sargento do Bope Daniel Sousa da Silva afirmou que houve confronto com criminosos na comunidade, que recebia uma festa junina e estava lotada de moradores em celebração. Em nenhum momento da fala, como destacou o RJ2, ele mencionou a festividade.

Na operação, o sargento Daniel Sousa exercia a função de policial ponta de patrulha, o que vai à frente da equipe nas incursões. Ele portava um fuzil calibre 5,56, apreendido para análise de balística. A munição vai ser comparada às balas que atingiram o jovem, o que vai determinar a autoria do crime.

A equipe de Daniel era composta por outros dois sargentos — Dyogo de Araújo Hernandes e André Luiz de Souza — e dois cabos — Leonardo Oliveira Alves e Rodrigo da Rocha Pita.

Também segundo o RJ2, Daniel Souza revelou ter efetuado 13 disparos durante a operação. O confronto teria começado na escadaria na Rua Marília Toninni, onde os primeiros criminosos teriam sido abordados.



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2025-09-09 07:00:00

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