Entre fariseus, publicanos e o valor da verdade emocional na vida em família
“ O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. 12 Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. 13 O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” Lucas 18.11-13
Recentemente, presenciei uma cena simples, mas profundamente reveladora. Duas crianças, por volta de um ano de idade, brincavam sentadas no chão. Uma delas encontrou um carrinho e imediatamente se encantou por ele. A outra, percebendo o novo vínculo entre o amigo e o brinquedo, investiu sobre ambos e, em tom de autoridade infantil, exigiu o carrinho para si.
O que se seguiu foi uma pequena batalha: empurrões, gritos, lágrimas. Até que as mães intervieram — repreenderam, pegaram o carrinho, exigiram uma reconciliação. Ainda que as pazes tenham sido apenas simbólicas, ao menos a confusão cessou.
Essa cena me remeteu a uma parábola bem conhecida: a do fariseu e do publicano.
O fariseu se apresenta como alguém íntegro, correto, exemplar. Já o publicano, sem esconder suas fraquezas, expõe sua fragilidade, suas limitações, seu lugar à margem. Curiosamente, é este último que, segundo o próprio Jesus, foi acolhido e compreendido por Deus.
Voltando à cena das crianças, percebi como, já tão cedo, somos ensinados a conter certos sentimentos — raiva, ciúme, tristeza, egoísmo. Aprendemos que é “feio” senti-los, e mais ainda, demonstrá-los. A repressão vira hábito, e com o tempo, a máscara substitui a expressão genuína.
Como psicólogo e conselheiro de casais, vejo isso com frequência. Adultos que, em suas relações, vestem papéis que não lhes pertencem. Esposos que agem como se estivessem sempre bem. Esposas que fingem não se ferir. Pais que não admitem cansaço. E assim, de tanto esconder, adoecem — emocionalmente, espiritualmente e nas suas relações mais íntimas.
A parábola nos mostra que o caminho mais humano não é o da aparência impecável, mas o da vulnerabilidade verdadeira.
A terapeuta familiar Monica McGoldrick afirma:
“A honestidade emocional é o terreno onde vínculos autênticos florescem, mesmo quando a dor se faz presente.”
A pergunta que fica é: quem somos, quando não estamos tentando agradar ou impressionar?
Em um mundo de filtros e aparências, viver com verdade emocional é um ato de coragem. Mas é também um caminho de saúde. De liberdade. De afeto que cura.
E você? Sente-se mais próximo do fariseu — admirável, porém distante de si mesmo? Ou do publicano — imperfeito, mas inteiro?
Seja qual for sua resposta, seja bem-vindo ao estilo de vida que começa na escuta das suas verdades mais profundas.
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