O secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, criticou nesta quarta-feira a ausência de estratégias de segurança que assegurem a presença do Estado em áreas dominadas pelo tráfico e pela milícia. A declaração foi dada um dia após a Prefeitura informar que homens armados ameaçaram operários que trabalhavam na obra da Clínica da Família do Vidigal e determinaram a suspensão do projeto. Na 15º DP (Gávea), o caso foi registrado como fato atípico e não há citação de ameaça de homens armados.
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Na ocorrência feita pela representante legal da Organização Social (OS), a mulher afirmou que um homem, que se apresentou como proprietário do imóvel, “solicitou a desmobilização imediata das atividades”. De acordo com o boletim, a abordagem ocorreu por volta das 11h desta terça-feira. Em relato, a responsável alegou que a solicitação “nos obrigou a retirar a equipe e o material e ferramentas operacionais”. A equipe deixou o local em seguida.
Antes de o registro ser oficializado da delegacia pela responsável legal da OS, Soranz criticou a política de segurança pública e afirmou que o poder paralelo dificulta a execução dos serviços.
— A gente não tem nenhuma estratégia policial estruturada que garanta a presença do Estado dentro dos territórios. Infelizmente, Rocinha, Vidigal e outras comunidades do Rio de Janeiro têm o domínio do poder paralelo, que atrapalha muito a execução dos serviços públicos. Em algum momento, disseram que a violência acontece por falta de serviços públicos, como saúde e educação. Não é verdade. A violência acontece por falta de uma política de segurança estruturada, e isso compromete também os serviços públicos de saúde e educação — disse Soranz, secretário de Saúde do prefeito Eduardo Paes, que não admite publicamente, mas é pré-candidato ao governo do Rio.
Segundo o secretário, as unidades de saúde precisaram interromper suas atividades 516 vezes devido a conflitos armados.
— No passado, tínhamos uma equipe de polícia que estava presente nas comunidades para evitar esse intenso domínio do tráfico. Hoje é diferente. Temos muitos locais com barricadas, o que impede a entrada dos funcionários da secretaria de Saúde — diz.
Há dois anos, quando o Vidigal figurava entre os destinos turísticos mais cobiçados da cidade, o prédio na Rua Doutor Olinto Magalhães, agora reservado para uma futura Clínica da Família, teve sua construção embargada pelo poder municipal: era uma obra irregular, bancada pelo crime organizado, e já estava com dez andares. Em 2025, após liberação dos órgãos técnicos, a prefeitura iniciou obras para dar novo uso à edificação.
A reforma, avaliada em R$ 6 milhões, foi uma das promessas feitas durante a campanha eleitoral do prefeito Eduardo Paes, em 2024. O espaço destinado à unidade de saúde contará com oito consultórios, sala de acompanhamento ambulatorial, medicação e um espaço para a realização de ressonância magnética. A previsão, antes do episódio de terça-feira, era de que os trabalhos fossem concluídos até o ano que vem.
A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da área, na Zona Sul, entrou em contato com a Prefeitura e garantiu a segurança para a continuidade da obra. A retomada dos trabalhos está prevista para ainda nesta quarta-feira.
— Esperamos que essa questão esteja realmente resolvida, que as forças de segurança consigam garantir a atuação das equipes dentro da unidade, porque é um equipamento de saúde que a comunidade do Vidigal espera há muito tempo e que faz muita diferença no dia a dia da população — afirmou Soranz.
Em nota divulgada nesta terça-feira, a Prefeitura afirmou que “homens armados ameaçaram os operários que estavam trabalhando na obra da futura clínica da família do Vidigal. Visando a segurança dos funcionários, a Secretaria Municipal de Saúde suspendeu temporariamente a obra e fará um boletim de ocorrência na Polícia Civil, além de pedir apoio das forças de segurança do Estado para que os trabalhos possam ser retomados o mais breve possível”.
2025-09-10 14:21:00