O Brasil apresentou piora na prevalência do crime organizado, segundo relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC) divulgado nesta segunda-feira (11). A pesquisa, que coleta informações de 193 nações, coloca o país na 14ª posição em criminalidade no Índice Global de Crime Organizado, uma piora em relação a edição de 2023.
Na pesquisa anterior, o Brasil figurava na 22ª colocação. A pesquisa coletou dados de 2021 a 2025 tanto em níveis de criminalidade quanto na capacidade dos estados de combater os grupos criminosos (veja ranking ao final). A metodologia formula pontuações, de 0 a 10, em que avalia o impacto do crime organizado em um país considerando diversos fatores, como a estrutura dos grupos criminosos e os mercados ilícitos que operam em cada local.
Na classificação de resiliência ao crime, o Brasil aparece na 86ª posição, uma melhora em relação a 2023, quando estava na 94ª colocação. No quadro geral, o país aparece em uma categoria de 66 países que contam com alta criminalidade e baixa resiliência. No mesmo quadrante aparecem nações como México, Camboja, Rússia, Camarões, Etiópia e outros. A nação que concentra os piores indicadores é Mianmar, na Ásia.
Segundo a pesquisa, esses países enfrentam ameaças em níveis significativos do crime organizado em múltiplos mercados e contam com deficiências em mecanismos de combate.
Em junho, em entrevista para O GLOBO, o diretor da GI-TOC, Mark Shaw, afirmou que o Brasil tem uma combinação problemática: concentra altas taxas de criminalidade, é corredor de escoamento de ilícitos, tem grande consumidor interno de cocaína e ainda baixa resiliência para enfrentar o crime.
— O Brasil é um país enorme que serve tanto como corredor para escoamento de mercadores ilícitos quanto como um mercado interno, também de muitos mercados ilícitos, como cocaína, recursos ambientais, drogas sintéticas, extorsão, tráfico humano. Além disso, tem vários atores criminais diferentes, não só facções, como setor privado, alguns atores estrangeiros, como a Ndrangheta, os grupos dos Balcãs…. Somado a isso, o Brasil ainda tem baixos níveis de resiliência para o crime organizado. E o que significa resiliência? É a capacidade do Estado e da sociedade para responder às máfias — disse Shaw.
A pesquisa indica que, de forma global, os ramos de atuação dos grupos criminosos passam por diversas mudanças. Os crimes financeiros continuam sendo o mercado criminal com maior prevalência global e registrou a maior expansão entre todos os mercados desde 2023.
No mercado de drogas é observada a ascensão das drogas sintéticas e da cocaína, enquanto maconha e heroína perdem espaço. A maconha, no entanto, permanece como a substância ilícita mais usada no planeta. Os pesquisadores observam que a ascensão da cocaína é diretamente ligada à América do Sul e é uma prova do alcance global dos cartéis que atuam na região, e que mantém conexões com grupos criminosos de outras partes do planeta para viabilizarem o comércio.
Em comparação à cocaína, o mercado de drogas sintéticas, também em alta, tem se mostrado mais flexível e descentralizado por contar com centros de produção que podem ser montados mais próximos dos mercados consumidores, o que leva a custos operacionais e de produção menores, segundo o estudo.
“As rotas tradicionais de tráfico estão sendo redesenhadas, novas mercadorias substituem antigas, agentes criminosos que atuam em nível transnacional ou dentro da economia formal estão se consolidado e novos mercados ilícitos, visíveis ou não, estão se espalhando”, diz o texto.
Outras frentes de atuação dos grupos são os crimes não violentos, como os financeiros e os que ocorrem na internet. O relatório também chama atenção para a falsificação, que segundo a pesquisa se torna um crime cada vez mais atrativo por fatores como a inflação global e as guerras comerciais, que levam consumidores de menor poder aquisitivo a buscar produtos mais baratos.
Grupos que contam com infiltração no Estado são o tipo de agente criminosos mais prevalente no mundo, mostram os dados. Em 80 dos 193 países analisados os grupos exercem influência classificada como severa sobre o Estado.
— Esse relatório deve servir com base para a ação, a fim de mudar o rumo de como enfrentamos os danos crescentes causados pelo crime organizado — afirmou Mark Shaw sobre o lançamento do novo ranking.
Segundo a GI-TOC, o crime organizado não está apenas se expandindo globalmente, mas se reorganizando. “As evidências apontam para mudanças profundas na dinâmica do cenário criminal”, diz o relatório. A integração global no combate ao crime organizado, segundo a GI-TOC, está cada vez menor por uma retração no multilateralismo.
Pontuação de criminalidade
- Mianmar (8.08)
- Colômbia (7.82)
- México (7.68)
- Paraguai (7.48)
- Equador (7.48)
- República Democrática do Congo (7.47)
- África do Sul (7.43)
- Nigéria (7.32)
- Líbano (7.30)
- Turquia (7.20)
- Quênia (7.18)
- Iraque (7.17)
- Honduras (7.10)
- Brasil (7.07)
- Líbia (7.05)
- República Centro-Africana (7.03)
- Afeganistão (7.02)
- Cambodja (7.02)
- Síria (6.98)
- Venezuela (6.97)
