Mortos em operação chegam a 121, e governos federal e do Rio criam Escritório de Combate ao Crime Organizado; entenda

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Fila de corpos na Vila Cruzeiro, após operação no Complexo da Penha — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo


O saldo estarrecedor de 64 mortos na última terça-feira (28), durante o confronto entre forças de segurança e traficantes do Comando Vermelho encastelados nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, foi anunciado como resultado da operação mais letal da história do Estado do Rio. Na quarta (29), após a madrugada, quando moradores em busca de parentes se embrenharam pela Vacaria, área de mata na região — onde se deram os principais conflitos —, mais corpos foram encontrados e esse número quase dobrou: chegou a 121. A nova marca assombrosa bateu outra tragédia sem precedentes, a do massacre do Carandiru, que deixou 111 presidiários mortos em São Paulo, e passou a ser considerada a mais letal do país.

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Os dois casos envolvem contextos bem diferentes: o episódio em São Paulo aconteceu dentro do sistema prisional e o confronto carioca, em plena área urbana, no combate direto a uma facção criminosa. Em entrevista coletiva, o governador Cláudio Castro definiu a megaoperação no Rio como um “sucesso” e disse que “de vítimas lá só tivemos os policiais”, referindo-se aos quatro agentes mortos no cerco aos criminosos na Zona Norte.

— Mais uma vez, queria me solidarizar com as famílias dos nossos quatro guerreiros que deram a vida para libertar a população. Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas que tivemos ontem (na terça-feira). De vítima ontem lá, só tivemos os policiais e eu rogo a Deus pela vida desses policiais e pelo conforto às suas famílias — acrescentou.

Ao longo da madrugada e da manhã de quarta, dezenas de corpos foram retirados da mata e levados até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. A fileira de cadáveres sobre o asfalto causou comoção:

— Cadê o meu filho? — gritou uma mulher.

Ontem, a cúpula da segurança do Rio deu mais detalhes sobre a ação, fruto de dois meses de planejamento, montada com detalhes como a formação de um “muro” de agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na área de mata das favelas, que era usada como rota de fuga dos criminosos. Outros batalhões se posicionaram nos demais acessos das favelas e foram subindo, “empurrando” os traficantes para a região menos habitada.

— A operação foi o maior baque que o Comando Vermelho já tomou em sua história, desde a fundação na década de 1970. Foi uma grande perda de armas, drogas e lideranças — disse Felipe Curi, secretário de Polícia Civil.

O secretário de Polícia Militar Marcelo Menezes disse que quem quis se entregar, foi preso — 113 foram detidos —, e ressaltou ainda que os agentes observaram roupas táticas, como uniformes de camuflagem, foram retiradas dos corpos levados para a praça do Complexo da Penha.

O secretário de Segurança Pública Victor Santos afirmou que levar o confronto para a área de mata da favela foi uma estratégia para preservar vidas inocentes e que “a alta letalidade era previsível, mas não desejada”.

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Para Santos, todos os mortos que não foram os policiais são criminosos:

— Até pelo horário era difícil ter alguém que não estava a serviço do tráfico naquela mata fechada. Por isso, temos base para dizer que os 117 mortos são criminosos. A gente não consegue ver o inocente com roupa camuflada ou colete balístico.

O secretário de Polícia Civil Felipe Curi exibiu vídeos gravados pelas câmeras corporais de agentes feridos durante os intensos confrontos, além de imagens mostrando moradores que estariam retirando peças de roupas camufladas dos cadáveres trazidos da mata. Ele afirmou que essas pessoas serão investigadas, pelo crime de fraude processual, em inquérito instaurado na 22ª DP (Penha).

— Quero passar um vídeo para desmistificar mais uma narrativa. Parece que teve uma mágica, desses corpos que estão aparecendo hoje aí, desses narcoterroristas. Eles estavam na mata. Nós temos imagens deles todos paramentados, com roupas camufladas, coletes balísticos, portando essas armas de guerra. Aí apareceram vários deles só de cueca ou de short, descalços. Sem nada — declarou.

Moraes pede informações

Os moradores alegam, no entanto, que cortaram as roupas para facilitar a identificação e mostrar marcas nos corpos. Maria Sampaio, médica da UFRJ, onde estava de plantão, foi para o Complexo da Penha na quarta-feira, depois do expediente, com a expectativa de poder ajudar feridos, mas perdeu a viagem:

— Não tem nada que eu possa fazer aqui. Achei que iria encontrar pessoas feridas, precisando de atendimento médico, mas só há pessoas mortas, já em estado de decomposição — resumiu.

Também na quarta, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governador Cláudio Castro prestasse informações detalhadas sobre a megaoperação, em decisão tomada no âmbito da ADPF 635, a ADPF das Favelas, que trata da letalidade policial no Rio.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/10/30/mortos-em-operacao-chegam-a-121-e-governos-federal-e-do-rio-criam-escritorio-de-combate-ao-crime-organizado-entenda.ghtml

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