Sonho da casa própria: metade da população carioca tem intenção de comprar imóveis; número atinge patamar histórico

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Nunca tantos cariocas pensaram em realizar o sonho da casa própria. Em junho deste ano, 3,9 milhões de famílias estavam em busca de imóveis online, segundo pesquisa inédita da Brain Inteligência Estratégica apresentada no Rio Construção Summit durante o painel “Mudanças de comportamento do consumidor”. O estudo também apontou que a intenção de compra atingiu 49% da população, o maior nível da série histórica. O movimento é puxado principalmente pelas rendas mais altas — 58% entre famílias com renda acima de R$ 20 mil por domicílio. Já nas faixas mais baixas, até R$ 5 mil, o interesse também segue elevado, com 43% declarando intenção de comprar a casa própria nos próximos 24 meses.

Outro dado relevante é a mudança no perfil dos lares: as famílias com três pessoas se tornaram maioria (41%), enquanto os domicílios com quatro ou mais caíram de 37% para 21%. Além disso, 45% dos entrevistados vivem momentos de transição — 34% querem sair do aluguel, 34% estão em processo de upgrade e 15% pretendem comprar para investir.

Casa própria, mas com qualidade ambiental e bem-estar

No painel, especialistas reforçaram que esse novo ciclo vem acompanhado de demandas por sustentabilidade, qualidade ambiental e bem-estar.

“O comportamento do consumidor mudou. Há um desejo claro de contato com a natureza, de espaços abertos, e isso aumenta a responsabilidade das construtoras e incorporadoras. Quem não olhar para isso vai ter uma negação dos seus produtos”, disse Marcos Saceanu, presidente da Ademi-RJ e CEO da Piimo.

Ele lembrou ainda a importância de questões como origem dos materiais e desempenho térmico, para quem busca a casa própria.

“É um caminho de aprendizado para o mercado imobiliário”.

Saceanu também destacou os impactos positivos da revisão do último Plano Diretor, que retirou a obrigatoriedade das vagas de garagem.

“Essa mudança veio totalmente alinhada ao desejo do consumidor. Muitas vezes o comprador já não queria a vaga, mas era obrigado a pagar por ela. Agora conseguimos oferecer apartamentos mais acessíveis, sem perdedores: a cidade ganha, o empreendedor ganha e o consumidor ganha”, afirmou.

Para Marcelo Gonçalves, sócio-diretor da Brain, esse conjunto de indicadores reflete uma virada estrutural no setor.

“A pandemia mudou a forma como estamos vivendo. Trouxe flexibilidade de enxergar possibilidades, e o nosso mercado tem a obrigação de acompanhar isso”, afirmou. Ele destacou ainda que 50% das vendas do Minha Casa Minha Vida já foram para a geração Z, um sinal claro da força das novas gerações no mercado.

Frederico Kessler, diretor executivo de incorporação da Gafisa, chamou atenção para a influência geracional na escolha da casa própria.

“Estamos recebendo a geração Z no mercado, que já nasce com consciência ambiental e demanda soluções sustentáveis. É um caminho sem volta. Hoje, pensar em cotas de inundação ou bombas de recalque deixou de ser diferencial e virou premissa de projeto”, disse.

Na avaliação de Wagner Barros da Fonseca, diretor da Larq Arquitetura e Planejamento, a transformação do comportamento do consumidor já é realidade.

“O cliente está mais exigente e valoriza ainda mais o local e o contexto onde vive. Isso nos obriga a pensar empreendimentos com permeabilidade, conforto ambiental e custos que o consumidor aceite operar”, destacou. Segundo ele, as unidades compactas, os espaços compartilhados e o retrofit são caminhos irreversíveis: “O público que busca a casa própria está mais conectado, exige flexibilidade, praticidade e áreas comuns. É um potencial muito interessante, mais que um desafio”.

Já Guilherme Takeda, diretor da Takeda Design, destacou a dimensão humana e cultural dessas mudanças.

“Estamos projetando para pessoas que ainda vão nascer. É uma mudança de cultura que nos aproxima de modelos como o japonês: apartamentos pequenos, mas de alta qualidade. A arquitetura da felicidade, inspirada na neurociência, mostra que o espaço construído pode influenciar o cérebro e promover bem-estar. É sobre criar cidades para pessoas, ambientes que tragam propósito e felicidade”, explicou.

Para os participantes, a soma desses fatores cria um horizonte positivo para o setor imobiliário no Rio e no Brasil, como destacou Saceanu.

“Se temos pessoas dispostas a comprar, é tarefa nossa saber projetar para elas. A cidade é múltipla, e o cliente responde majoritariamente que quer comprar. Para crescer 50% é porque cresceu em toda a cidade. Temos boa legislação, pessoas desejando ficar no Rio e uma boa safra de produtos”.

O painel concluiu que, diante de um consumidor mais exigente, conectado e ambientalmente consciente, o setor precisa oferecer soluções práticas, sustentáveis e integradas.

Hoje, segundo a Brain, menos de seis meses seriam suficientes para consumir todo o estoque disponível de imóveis — um retrato da força e da velocidade desse novo ciclo.



Com informações da fonte
https://temporealrj.com/sonho-da-casa-propria-metade-da-populacao-carioca-tem-intencao-de-comprar-imoveis-numero-atinge-patamar-historico/

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