É dos afetos e das trocas que nasce o novo trabalho de Xande de Pilares. Gravado no Bar do Zeca Pagodinho, “Nos braços do povo — Volume I” chega às plataformas digitais hoje, com 35 faixas que atravessaram a infância e a juventude do artista. Xande relembra, na entrevista a seguir, a própria trajetória e a força coletiva que move o samba. Fala ainda sobre sua família, o carnaval e o seu cotidiano. Confira!
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Músicas da infância
“Esse trabalho representa minha trajetória. Comecei a tocar aos 12 anos. Regravei ‘Aos novos compositores’, de Arlindo Cruz, Chiquinho e Acyr Marques, que marcou minha infância. Comecei a compor fazendo paródias de músicas e essa foi uma. “Patota de Cosme”, do Zeca Pagodinho, também me influenciou. Fiz uma homenagem ao Bebeto, que esteve presente em minha infância. Gravei 70 músicas, mas o repertório tinha 130, e dividi em três volumes. O segundo gravo na próxima semana e, em dezembro, o terceiro”.
‘Nos braços do povo’
“Preciso estar na rua para saber o que o povo quer. Continuo frequentando tudo. Quando ia ao Cacique de Ramos, vi Beth Carvalho lá. Na Portelinha, na Estrada do Sapê, vi a Clara Nunes no meio de uma mesa, já vi Marisa Monte entre a Velha Guarda da Portela. Isso sempre foi comum no samba. Se o artista se afasta do povo, não é bem-sucedido. Nosso trabalho depende do público para sobreviver. Claro que tem um preço: às vezes, você não consegue curtir direito, porque muita gente nunca te viu e vem falar. Mas a única reação que me deixa triste é quando acham que sou nariz em pé. Meu comportamento não mudou, continuo o mesmo”.
Onde ele encontra colo
“Já perdi gente querida e precisei subir no palco no mesmo dia. Já fiz show com febre de 40 graus, com pressão baixa. O público é quem me segura. Muitas vezes, começo borocoxô, mas sinto a energia vindo de baixo e aquilo me levanta. O povo me pega no colo. Por isso o nome do meu projeto, “Nos braços do povo”, faz tanto sentido. Quem me conduz é o povo”.
Xande de Pilares lança “Nos braços do povo – volume I” e celebra suas raízes musicais
Natan Costa
Emoção com o que canta
“Me emociono sempre com ‘Velocidade da luz’, por exemplo. Eu trabalhava em supermercado com 12 anos, tentando ajudar em casa. Parei na porta de um bar e ouvi essa música pela primeira vez. Fiz uma letra por cima dela, porque não sabia a original. Mais tarde, com 15, aprendi a cantar e descobri depois que ela falava de morte. Por isso muita gente evitava. Arlindo (Cruz) e Beth (Carvalho) odiavam. Mas eu gravei. E as pessoas cantam numa felicidade…”.
Vida após ‘Caetano’
“Conquistar espaço e simpatia é uma responsabilidade. Quando isso começa a expandir, você vê que o trabalho está dando certo. Aí você passa a cuidar mais, aperfeiçoar, dar qualidade. É como uma hortinha ou um jardim: você precisa regar, podar, manter. Depois de ser premiado com o ‘Xande canta Caetano’, não me acomodei”.
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Talento como ator
“Atuar em ‘Todas as flores’ foi um convite. Enxergaram em mim um potencial que eu nem sabia que tinha. Minha esposa (a atriz e nutricionista Mikimbeth, de 26 anos) me ajudou muito em casa. No set, todos trabalhavam para que eu desse certo. Gostei, entrei numa escola de teatro, e isso mudou meu olhar. Hoje não consigo assistir nada na TV sem reparar nas câmeras, expressões, roteiro…”.
Enredo de escola de samba
“Tenho muito chão para andar, mas, ao mesmo tempo, são 30 anos de música. Ainda não consigo me ver nessa condição de referência. Só que até vou virar enredo de escola de samba (a Unidos do Jacarezinho vai desfilar na Série Ouro em 2026 cantando a vida do cantor). Fiquei surpreso. A princípio, eu não ia aceitar. Mas pesou o fato de eu já ter morado no Jacaré e foi dali que vieram muitas oportunidades. Os moradores me incentivaram, e pensei: se Deus está me dando essa oportunidade, não posso dizer não. Estou me preparando psicológica e emocionalmente para entrar na Avenida na sexta-feira de carnaval, como enredo de uma escola que já teve como intérprete Carlinhos de Pilares, que é responsável por meu nome ser Xande de Pilares”.
Xande de Pilares
Leo Aversa
Samba campeão na mocidade
“Dei minha contribuição musical e fizemos um samba bonito. Sou salgueirense, mas tenho carinho pela Mocidade. Escrever meu nome na história da escola foi uma honra”.
Filha já sambava na barriga
“Estrela (a caçula, que vai fazer 1 ano e meio dia 5) está demais. Já samba! Desde a barriga da mãe, reagia quando eu tocava. Já conta de 1 a dez, e tenho cuidado para não falar palavrões porque ela reproduz num piscar de olhos!”.
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Mulher nutricionista
“Minha esposa é nutricionista e bem exigente. Se você vir minha comida, você chora. Como brócolis ralado no lugar do arroz, suco de melancia todo dia… Nunca gostei de alface, tomate, mas tenho que obedecer regras. Até porque gravo audiovisual e não quero ficar insatisfeito com o vídeo. A câmera não favorece. Saímos grandões e larguinhos (risos)!”.
Sem temer a morte
“Você já reparou que quem não tem medo da morte vive mais? Não tenho medo. Um dia vou embora mesmo. Se tiver dez garrafas de vinho, vou beber as dez! Só quero viver o que tenho pra viver de forma intensa. Por isso até aceito comer brócolis”.
Conquistas financeiras
“Todo dia tenho alguma coisa nova para conquistar. Sou muito família. Não adianta eu comer um pedaço de carne sabendo que tem um familiar meu comendo ovo. Penso muito nisso. Se todo mundo está bem, estou bem”.
Música vem antes da relação
“Tenho minha vozinha de 96 anos, dona Enedir, a primeira cantora da família, e minha mãe, Maura, de 76, que também canta. A geração da minha mãe abandonou a música por relacionamentos. Por isso, decidi: relação é depois da música para mim. Se mandar eu escolher, pode fazer a mala e meter o pé. Lá atrás, já tentaram armar até um ‘tribunal’ para mim, perguntando o que eu queria da vida. E eu disse: ‘A música’’’.
Peitando os críticos
“As pessoas falam, zombam, mas depois que você conquista, elas voltam dizendo que você mudou, que ficou besta. No começo do Revelação, teve gente que chamava o grupo de Enganação. Um dia, levei o disco para esse cara e disse: ‘Tá aqui a enganação para você ouvir ’. Às vezes até a crítica negativa te ajuda’’.
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/entretenimento/musica/noticia/2025/10/xande-de-pilares-lanca-album-emplaca-samba-na-mocidade-vira-enredo-no-carnaval-e-diz-quem-me-conduz-e-o-povo.ghtml