Autoridades de Washington, a capital dos Estados Unidos, contestaram judicialmente a tomada de controle do departamento de segurança do distrito pelo presidente Donald Trump nesta sexta-feira, horas depois de a Casa Branca intensificar a repressão ao policiamento, concedendo a um funcionário federal poderes de chefe da polícia local. De acordo com Brian Schwalb, procurador-geral do Distrito de Columbia, a ordem presidencial está indo muito além dos poderes previstos em lei.
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“As ações ilegais do governo são uma afronta à dignidade e à autonomia dos 700 mil americanos que chamam Washington de lar. Esta é a mais grave ameaça ao governo autônomo que o Distrito já enfrentou, e estamos lutando para detê-la”, disse Schwalb, solicitando a um juiz que determinasse que o controle do departamento permanece nas mãos do distrito e também uma ordem de restrição de emergência.
O processo ocorre depois que a secretária de Justiça Pam Bondi declarou, na noite de quinta-feira que Terry Cole, chefe da Agência de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês), que já supervisionava a tomada federal do departamento de polícia da cidade, assumirá como “delegado de polícia emergencial”, com “todos os poderes e deveres” investidos na chefe de polícia da cidade, Pamela Smith. A partir dessa determinação, o departamento de polícia de Washington, incluindo Smith, agora precisará receber a aprovação de Cole antes de emitir quaisquer diretivas, declarou Bondi.
A diretiva parece ter como objetivo transformar Washington de uma cidade santuário em uma cidade que persegue agressivamente imigrantes em situação irregular, e foi a imposição mais explícita do Departamento de Justiça à polícia da cidade desde a tomada de poder federal, que tem duração de 30 dias. Também pareceu abrir um novo ponto crítico na relação entre a liderança democrata da cidade e o governo republicano.
Nas redes sociais, a prefeita Muriel Bowser reagiu escrevendo que “não há estatuto que transfira a autoridade pessoal do Distrito a um funcionário federal”. Porta-vozes do Departamento de Justiça e da Casa Branca não responderam imediatamente aos pedidos comentários sobre o processo do distrito na manhã desta sexta-feira.
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Agentes federais começaram a desmontar acampamentos de moradores de rua em Washington na noite de quinta-feira, um dia após Trump publicar uma foto de barracas na beira da estrada a caminho de seu campo de golfe, dizendo que “os moradores de rua precisam se mudar”. Segundo o presidente americano, a medida faz parte de seu plano de “embelezamento” da capital. Autoridades municipais e ativistas passaram grande parte do dia pedindo à população em situação de vulnerabilidade que se retirasse do local ou fosse para abrigos, sob o risco de detenção.
A operação começou por volta das 21h (22h em Brasília). Agentes do FBI e do Serviço Secreto dos EUA chegaram a Washington Circle, na área de Foggy Bottom, para remover algumas barracas onde moradores de rua estavam instalados há muito tempo, segundo o New York Times. Eles recuaram depois que uma mulher apresentou um aviso da prefeitura informando que ela tinha até segunda-feira para sair do local.
— Fomos informados de que haveria uma lista de locais que seriam fechados pelo Serviço Nacional de Parques e outras autoridades policiais, e nós apoiaríamos essa iniciativa fornecendo uma conexão com serviços para moradores de rua para aqueles que fossem afetados negativamente — disse Wayne Turnage, vice-prefeito de Saúde e Serviços Sociais de Washington, aos repórteres no local.
De acordo com um comunicado do vice-prefeito de Saúde e Serviços Humanos, “o Distrito trabalhou proativamente com moradores de rua antes dessas ações para fornecer serviços e ofertas de abrigo”, e “apoiará as ações com serviços de acompanhamento e coleta de lixo, mas as ações planejadas são, de resto, de responsabilidade das agências federais.”
Trump anunciou na segunda-feira que o governo federal assumiria a responsabilidade pela aplicação da lei na capital do país, invocando uma cláusula da lei nunca antes utilizada. A medida está transformando o cotidiano do policiamento em Washington. Chamadas de rotina que poderiam ser atendidas exclusivamente pelo Departamento de Polícia Metropolitana agora atraem uma sopa de letrinhas de agências federais, incluindo o Departamento de Investigações de Segurança Interna, a Agência de Repressão às Drogas e o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, além do FBI.
Em uma cidade onde os agentes federais costumam trabalhar em escritórios, eles de repente estão nas ruas, visíveis em quase todos os lugares — exceto aqueles escondidos atrás dos vidros escuros de carros sem identificação. Todas as noites desta semana, agentes federais saíram de uma grande delegacia da Polícia Federal ao sul do rio Anacostia para patrulhar o distrito até as primeiras horas da manhã. Os agentes apareceram em vários locais, passeando por bares e restaurantes no badalado U Street Corridor, patrulhando o National Mall quase vazio após o anoitecer e percorrendo complexos de apartamentos.
O trabalho incluiu uma série de atividades de aplicação da lei que normalmente seriam realizadas por policiais locais, que continuam a fazer seu trabalho, mas agora os agentes federais frequentemente colaboram ou observam. Ao longo da semana, eles procuraram armas e veículos roubados, realizaram apreensões de drogas e perseguiram cidadãos que fugiram quando abordados. Alguns agentes foram vistos parando carros por infrações menores ou lembrando as pessoas em um posto de controle de sobriedade para usarem o cinto de segurança.
Uma ação típica ocorreu na manhã desta sexta-feira, quando um policial de Washington parou um Toyota no bairro de Carver Langston, no quadrante nordeste da cidade. A abordagem foi iniciada em frente a uma loja de roupas com descontos, onde uma brigada de agentes federais estava sentada no estacionamento em cerca de uma dúzia de carros sem identificação. Assim que o carro foi parado, os agentes federais — da Imigração e Alfândega e de várias outras agências — se reuniram ao redor dele, bloqueando duas faixas de tráfego e uma linha de bonde por cerca de 10 minutos antes de dizer ao motorista que ele estava livre para ir embora.
Em outra parte da cidade, no início da semana, policiais do FBI chegaram quando outros policiais que realizavam uma blitz de trânsito no bairro de Brentwood relataram que o homem ao volante tinha um mandado de prisão em aberto e uma arma. Moradores que estavam do lado de fora, aproveitando a noite de verão, observaram a cena com cautela enquanto o homem era preso e os agentes retornavam aos seus carros.
Autoridades federais dizem já ter efetuado mais de 150 prisões e apreendido 27 armas desde o início da operação, mas ofereceram poucos detalhes sobre o trabalho policial específico que está sendo realizado ou as acusações apresentadas.
2025-08-15 11:17:00