O presídio federal de Catanduvas, no Paraná, que deverá receber os sete chefes do tráfico do Comando Vermelho (CV) transferidos nesta quarta-feira do sistema penitenciário fluminense, conta com uma estrutura de segurança para impedir o contato dos presos com o mundo externo. A exemplo de outros quatro presídios federais, a penitenciária possui, entre outras coisas, sistemas de vigilância por áudio e vídeo, com todo procedimento de rotina da cadeia acompanhado por câmeras; equipamentos de segurança e de inteligência; além de uma estrutura física reforçada para evitar tentativas de invasão e fuga.
- Longe do Rio: chefes do Comando Vermelho são transferidos para penitenciária federal em Catanduvas
- Atrás das grades: polícia prende quadrilha especializada em roubo de residências no Rio e apreende granada e uniformes falsificados
Em Catanduvas está preso outro velho conhecido da polícia do Rio de Janeiro. Trata-se do traficante Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Ele inaugurou a unidade, em 2006, e após passar por outros presídios federais, num sistema de revezamento, retornou ao presídio, onde está à disposição da Justiça. De acordo com o regulamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais( Senappen), responsável pelas unidades penais federais, todos os detentos vindos de outros estados ficam recolhidos em celas individuais.
No caso dos presos transferidos nesta quarta-feira, assim que chegarem ao presídio do Paraná, ele ficarão isolados por pelo menos 50 dias. No período, eles não poderão receber visitas de parentes ou ter contato com outros presos, e só tomarão banho de sol em espaços conhecidos como solários individuais.
Nos primeiros 20 dias na unidade, conhecidos como tempo de adaptação, cada preso é cientificado dos seus direitos e deveres. Após este período, parentes do interno poderão requerer um pedido de visitas, que será examinado por 30 dias, até ser aceito ou não.
Crime organizado: dos dez chefes do tráfico que Rio quer transferir para presídios federais, cinco já cumpriram pena fora do estado
Segundo a Senappen, nas penitenciárias federais, cada preso ocupa uma cela individual e permanece 22 horas por dia em regime de isolamento, e duas horas de banho de sol, sob monitoramento permanente por equipes da Polícia Penal Federal, com uso de tecnologia de vigilância. A entrada de alimentos vindos de fora é proibida. Todos os itens de higiene, alimentação e vestuário são fornecidos pelas próprias unidades prisionais.
O detento ainda é revistado todas as vezes que deixa o seu dormitório. A cela também é revistada sempre que o preso se retira do local para outro ambiente. Já a comunicação com familiares, amigos e advogados, quando é permitida, deve ser feita por parlatório ou por videoconferência. O regulamento prevê ainda que ele não tenha acesso a meios de comunicação externos.
Serra da Misericórdia: dez dias após operação, bandidos mantêm base no maciço que separa Alemão e Penha
Uma vez estabelecido em presídio federal, cada um dos detentos terá direito a seis refeições por dia adequadas à necessidade nutricional e a duas horas diárias de banho de sol. Além disso, poderão receber atendimento médico, odontológico, farmacêutico, psicológico, quando for necessário.
Antes de serem transferidos, os sete chefes do tráfico aguardavam a transferência na Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino, mais conhecido como Bangu I.
Segundo o governo estadual, eles teriam ordenado a instalação de barricadas e o sequestros de ônibus em atos de retaliação à megaoperação policial, realizada no dia 28, nos conjuntos de favelas da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. Durante a ação policial houve confronto entre bandidos e policiais. Na ocasião, 121 pessoas morreram, entre elas 117 suspeitos.
Veja os nomes dos sete chefes transferidos:
Marco Antônio Pereira Firmino, o My Thor, é citado em processos como chefe do tráfico no Morro Santo Amaro, no Catete, na Zona Sul. Ele está preso há mais de 23 anos.
Arnaldo da Silva Dias, o Naldinho, foi condenado por tráfico e homicídio a mais de 50 anos de prisão. Ele é apontado como chefe de favelas em várias cidades do Sul Fluminense e porta-voz do CV, sendo responsável por levar as ordens do topo até a base da facção.
Fabrício de Melo de Jesus, o Bicinho, é a pontado em processos como chefe do tráfico do bairro Dom Bosco, em Volta Redonda. Integrante de uma comissão do CV, responde a crimes de tráfico e de homicídio. Ele foi condenado a uma pena de 26 anos de prisão por envolvimento no assassinato de um homem que teve o corpo jogado no Rio Paraíba do Sul.
Carlos Vinicius Lirio da Silva, o Cabeça da favela do Sabão, em Niterói, foi apontado pela Polícia Civil como o mentor de um plano de usar uma aeronave para tirar bandidos da cadeia em Bangu, em 2021. Ele próprio seria um dos alvos do resgate, já que, na ocasião, cumpria pena no Complexo Penitenciário de Gericinó.
Eliezer Miranda Joaquim, o Criam. Apontado pela polícia como um dos sucessores de Elias Maluco, é dos chefes do tráfico na Baixada Fluminense. Criam tem 27 anotações criminais e uma ficha que inclui tráfico de drogas, homicídios, sequestros, formação de milícia privada e organização paramilitar. Ele já foi condenado a 60 anos de prisão por um ataque ocorrido em 2007, quando, junto a outros seis comparsas armados com fuzis e escopetas, executou um morador que se opunha à instalação de bocas de fumo em São João de Meriti.
Alexander de Jesus, o Choque. Também conhecido como Coroa, é integrante da cúpula do CV e apontado como chefe do tráfico em Manguinhos, na Zona Norte do Rio. Em agosto desse ano, ele foi autorizado a realizar uma cirurgia no Hospital Samaritano, unidade de alto padrão em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Já passou por unidade de alta periculosidade federal, em Mato Grosso do Sul.
Roberto de Souza Brito, o irmão Metralha. Apontado pela polícia como integrante do segundo escalão do Comando Vermelho, com atuação no Complexo do Alemão. Ele foi preso por tráfico em 2007, condenado a 50 anos, 2 meses e 20 dias.
