O avanço da medicina e dos fármacos faz com que a expectativa de vida ganhe alguns preciosos anos se compararmos com o cenário de décadas atrás. Doenças consideradas irremediáveis no século passado hoje são perfeitamente controláveis. Tratamentos estéticos recuperam cada vez com mais naturalidade alguns “anos perdidos”. Porém, para algumas pessoas, isso não é o bastante. Para elas, o objetivo é subverter o tempo de forma radical e encontrar uma espécie de “fonte de juventude”, mesmo com procedimentos inusitados, controversos e sem aval científico. Esses indivíduos são conhecidos como biohackers. Naturalmente, na era das redes sociais, apareceu a figura do influencer de biohacking.
Um dos principais biohackers — e, provavelmente, o mais midiático — é o americano Bryan Johnson, de 48 anos. Bryan investe cerca de US$ 2 milhões (R$ 10,7 milhões) por ano em protocolos antienvelhecimento, a fim de “voltar a ter 18 anos”. O bilionário já injetou sangue do seu filho na sua corrente sanguínea (ele depois abandonou a medida pois os exames e biomarcadores indicaram que não houve benefício), substituiu todo o seu plasma por proteína (a técnica permitiria remover definitivamente os “poluentes não naturais” que circulam pelo organismo, como microplásticos, algo que nossos órgãos responsáveis pela filtragem de impurezas, como o fígado e os rins, não seriam capazes de realizar com sucesso, incrementando sua busca por uma juventude celular eterna), toma quase 100 suplementos por dia e é responsável por “vender” o sonho da juventude eterna.
‘Ouro líquido’: o empresário Bryan Johnson posa com uma bolsa contendo o próprio plasma sanguíneo, removido em procedimento
Reprodução/Instagram
O magnata antienvelhecimento mantém uma rotina extremamente rigorosa, com exercícios físicos, dietas de pílulas, sono regulado e cerca de 90 ml de vinho pela manhã. O bilionário come apenas alimentos a base de plantas e suplementa colágeno diariamente. Além disso, consome apenas 1.977 calorias diárias e busca a garantia de que o seu corpo funcione da mesma maneira de quando era adolescente. Utopia? Ele garante que não.
Bryan Jonhson atualmente (à esquerda) e aos 20 anos
Reprodução/Instagram
Veja: Em ‘turnê’, magnata que quer voltar a ter 18 anos cobra ingresso de R$ 2 mil e é visitado pela ‘Morte’
Saiba mais: Biohacker que quer viver até 180 anos injeta células-tronco das nádegas no rosto
Outro caso emblemático de biohacking é o do americano Dave Asprey, de 51 anos, que recentemente realizou uma circuncisão facial. No procedimento, Asprey recebeu uma injeção de cerca de 100 milhões de células-tronco e gordura retirada de suas próprias nádegas para acelerar o tempo de recuperação. Além disso, ele já gastou milhares de dólares em tratamentos com células-tronco e terapia criogênica.
Dave Asprey após ‘circuncisão facial’ e injeção no rosto de células-tronco retiradas das nádegas
Reprodução/Facebook
Luke Lintz, milionário nascido em Porto Rico (território não incorporado dos EUA), utiliza técnicas de biohacking para se manter “jovem e sexy” por muitas décadas. O empreendedor — que recebe soro intravenoso regularmente e só come alimentos orgânicos — também está aberto a tratamentos mais controversos, como congelar suas células para transferência e trocar plasma sanguíneo com alguém mais jovem.
“Ficar jovem e sexy para sempre não tem preço”, diz o milionário.
Luke Lintz
Reprodução/Instagram
As mulheres também não escaparam dessa nova tática de rejuvenescimento. A britânica Tracy Kiss, de 38 anos, pratica biohacking há dois anos e revelou ao “Daily Star” que gasta até 2.000 libras (R$ 14.250) por mês em busca da juventude eterna. Após concluir vários cursos de bem-estar e estética, Tracy adotou o biohacking, trocando 12 anos de preenchimentos e botox, por filtragem de sangue, câmaras de oxigênio e terapia de luz.
Tracy decidiu transformar a sua vida depois de se sentir com aparência de uma pessoa de 80 anos e “esgotada” quando tinha apenas 25 anos. Agora, ela diz que é constantemente questionada sobre a apresentação de documentos para o consumo de álcool e confundida com a irmã de sua filha de 18 anos.
Tracy Kiss num regenerador humano
Reprodução
“Biohacking é como renascer. Renovo minhas células para ter uma aparência naturalmente jovem”, comentou ela, de acordo com o “Daily Mirror”. “As pessoas sempre ficam muito surpresas quando percebem que sou a mãe da minha filha. Percebi que o meu estilo de vida estava perfeito quando conseguia carregar um homem adulto nos ombros e vencê-lo em corridas. Ele ficava exausto e eu, cheia de energia”, acrescentou ela.
Na busca pela juventude perdida, Tracy chegou a aplicar uma vez por semana máscara facial de esperma cedido por um amigo.
Tracy Kiss realizando Oxigênioterapia Facial para regeneração e saúde da pele
Reprodução/Instagram
O casal americano Kayla Barnes-Lentz, de 33 anos, e Warren Lentz, de 36, dedica-se a viver mais do que quaisquer outras pessoas no planeta, com o objetivo de chegar a 150 anos com saúde. Kayla é especialista em biohacking e exigiu que seu amado passasse por uma bateria de testes para certificar que ele seria seu par perfeito. Os dois seguem uma rotina criteriosa de cuidados, baseada em terapia de campo eletromagnético pulsado, treinos, café da manhã orgânico, mergulho frio, câmara hiperbárica de oxigênio e o NanoVi, estabelecem uma rotina de relaxamento e sessão de sauna com luzes vermelhas e mais uma infinidade de procedimentos para manter a jovialidade, inclusive dormir numa gaiola.
Kayla destaca que o cuidado com o seu estilo de vida não fica só na alimentação e no corpo, mas também na higiene oral. A biohacker passa por uma rigorosa rotina de higiene que inclui raspagem da língua, tratamento com ozônio e enxágue da boca com óleo de coco.
Layla Barnes-Lentz usa as técnicas de biohacking nela mesma e no parcerio.
Reprodução
Confira: Biohacking: casal dos EUA planeja viver mais do que qualquer outra pessoa no mundo
O holandês Wim Hof, de 66 anos, é conhecido como “o homem do gelo”, por praticar atividades sob o gelo, como nadar e correr descalço no gelo e na neve. O biohacker construiu o seu método se baseando em técnicas que utilizam concentração da respiração e exposição ao frio. Entre suas façanhas estão escalar o Monte Kilimanjaro (localizado no norte da Tanzânia, junto à fronteira com o Quênia) de bermuda e correr uma meia maratona acima do Círculo Polar Ártico descalço.
Alguns benefícios do método de Hof foram comprovados cientificamente, dois deles são a redução da inflamação no corpo e o aumento da energia e do foco. O frio tem capacidade anti-inflamatória, aumenta a circulação e liberação de endorfinas, resultando em energia e clareza mental. No entanto, o método pode não ser eficaz e nem seguro para todas as pessoas. Qualquer pessoa que queira iniciar o método, precisa de acompanhamento médico para entender suas limitações.
Wim Hof, o “homem do gelo”, é um entusiasta de alguns métodos de biohacking
Reprodução/Instagram
O biomédico Aubrey de Grey, de 62 anos, pesquisa há mais de duas décadas sobre longevidade e rejuvenescimento de células humanas. O foco de De Grey é identificar todos os componentes que causam o envelhecimento humano e desenvolver soluções que previnam cada um deles. O cientista segue a premissa de que o envelhecimento pode ser tratado. Como ex-Diretor Científico da Fundação de Pesquisa SENS, ele defende a ideia de que o envelhecimento pode ser tratado como uma doença.
Ele é conhecido pelo livro “Ending Aging” (Acabando com o Envelhecimento) e por suas ideias provocativas sobre a possibilidade de estender significativamente a longevidade humana. Aubrey já afirmou que os primeiros seres humanos que viverão até os 1.000 anos já nasceram.
Aubrey de Grey, cientista e pesquisados do envelhecimento
Reprodução/LEV Foundation
Aaron Traywick foi o que se pode considerar um “acidente” no segmento que procura prolongar “além do limite” a vida. O biohacker morreu em 2018, aos 28 anos, após injetar em si mesmo, durante a convenção BodyHacking Con, em Austin, no Texas (EUA), uma droga não testada para o tratamento de herpes. Seu corpo foi encontrado em um spa de hotel em Washington (EUA), dentro de um tanque de terapia de flutuação.
Traywick fundou a Ascendance Biomedical, empresa de biohacking que defendia a realização de pesquisas médicas independentes, fora do controle da indústria farmacêutica. A companhia faliu após a morte do seu fundador.
Aaron Traywick, biohacker que faleceu em 2018, após injetar em si uma droga não testada para tratar herpes
Reprodução/Instagram
O que é o biohacking?
O biohacking é a prática de intervir no corpo humano por meio de tecnologias e métodos científicos (muitos sem comprovação) visando a melhorar ou expandir as capacidades físicas e mentais. Essa abordagem pode envolver desde o uso de nootrópicos (também conhecidos como smart drugs) e técnicas de alimentação específicas, até intervenções biotecnológicas mais complexas, como a criação de implantes de biochips, probióticos personalizados, dispositivos cerebrais e até edição genética. Um exemplo emblemático é a inserção de chips sob a pele para aprimorar a cognição, a inteligência e o desempenho do corpo, explorando assim o máximo potencial humano com o auxílio da tecnologia.
Será que o biohacking realmente funciona?
Embora o biohacking pareça ser uma prática promissora, seus métodos e suas técnicas, em sua maioria, não são comprovados cientificamente, e os resultados variam de pessoa para pessoa. Muitos influenciadores do biohacking compartilham abordagens diferentes, às vezes conflitantes, e não há consenso oficial na comunidade científica, o que torna a escolha do método correto um desafio. Técnicas inadequadas podem gerar frustração com o fato de resultados não serem atingidos e, para piorar, podem até prejudicar a saúde em diferentes níveis.
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/blogs/page-not-found/post/2025/11/troca-de-plasma-celulas-tronco-das-nadegas-no-rosto-noite-em-gaiola-como-biohackers-tentam-subverter-o-tempo-na-busca-da-fonte-da-juventude.ghtml
Troca de plasma, células-tronco das nádegas no rosto, noite em gaiola: como biohackers tentam subverter o tempo na busca da 'fonte da juventude'
Nenhum comentário
