Depois da visita marcada para esta segunda-feira (15) ao Complexo Penitenciário de Gericinó, onde serão ouvidos os principais ladrões de carros do estado, a CPI (muito além) das Câmeras da Assembleia Legislativa (Alerj) já desenhou seus próximos passos.
Na oitiva do dia 22, a comissão voltará sua atenção às associações e cooperativas de proteção veicular e deve determinar mais de 30 conduções coercitivas, com a presença de agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Entre os alvos das conduções estarão representantes de empresas do setor de recuperação de veículos roubados — ou mais de um — que foram convidadas para outras oitivas, mas não compareceram, muitas sem apresentar justificativa. Já as associações e cooperativas que têm colaborado nas reuniões da CPI serão apenas convidadas.
‘Montar o quebra-cabeça‘
A expectativa, segundo Alexandre Knoploch (PL), presidente da CPI, é que a visita ao presídio na Zona Oeste do Rio ajude a montar o quebra-cabeça que apura possível ligação entre essas empresas e o crime organizado. Assim, com o apoio da Draco, a comissão tomará as medidas necessárias com base no que for encontrado durante as atividades.
“A importância dessa próxima diligência é começar a montar o quebra-cabeça para identificar os possíveis envolvidos nas práticas criminosas relacionadas à proteção veicular”, afirmou Knoploch.
Presidiários que serão ouvidos
Entre os presidiários que serão ouvidos no dia 15 estão Vinicius Sebastian dos Santos Catrinck, o “Capetão”; Thiago Fernandes Virtuoso, o “Tio Comel”; Gildásio Esteves Lima; Luciano da Silva Teixeira, conhecido como “Sardinha da CDD”; e Jefferson Dias Lino, apelidado de “Rouba Cena”. Segundo Knoploch, todos já receberam pagamentos de empresas ligadas a associações.
Sobre a quantidade de conduções no dia 22, o parlamentar enfatizou que o número se deve ao fato de que a investigação não se limita a algumas empresas, mas trata-se de um levantamento mais amplo sobre o setor de proteção veicular. Serão convocadas tanto associações e cooperativas que não apresentaram atividades suspeitas quanto outras que já estão na mira da CPI, como a APVS.
CPI continuará investigando a Pontual
Entre os que terão condução coercitiva determinada está a sócia-administradora da Pontual Clube de Benefícios, Carla Conceição Barbosa, que já havia descumprido outra convocação da CPI na última segunda-feira (8). A pressão dos parlamentares sobre ela vem aumentando desde as falhas consideradas contratuais na reunião de 25 de agosto.
As acusações contra a Pontual, apresentadas por meio de slides por Knoploch no dia 8, indicam o uso de recursos dos associados para beneficiar um grupo restrito de pessoas, apesar de registrada como associação sem fins lucrativos. Além disso, dirigentes também teriam participação em suas principais fornecedoras, garantindo controle sobre o dinheiro e lucro direto.
Os deputados contestam ainda a versão apresentada por Carla Conceição Barbosa, que afirmou receber apenas R$ 3 mil por mês como sócia-administradora. Knoploch exibiu diversas imagens de viagens internacionais, incluindo Paris, na França, e Disneyland, nos Estados Unidos.
Representante da Rioben será ouvida novamente
A presidente da Rioben, Nathalia Paiva David, que quase recebeu voz de prisão na oitiva do último dia 8, também terá a condução coercitiva determinada. O clima tenso surgiu após parlamentares afirmarem que ela atua como “laranja” do seu tio, Saed David Fuerte, apontado como o verdadeiro dono da empresa, que também será intimado pela comissão.
Nathalia alegou que não havia prestadores de serviço ligados a parentes na Rioben, associação de proteção veicular, mas a informação foi desmentida pelos deputados, que apontaram a relação da Rioben com a empresa MMA, ligada a outro tio, Marcus David Fuerte, além de seu pai, Sérgio Belo David, e mais um tio, Paulo David Fuerte.
Diante disso, a CPI determinou a quebra de sigilo fiscal, bancário e telemático da Rioben, de Nathalia e de todos os parentes envolvidos. Também foi determinada a quebra de sigilo da MMA, com solicitação de relatórios sobre carros recuperados junto às associações e seguradoras, além da condução coercitiva de todos os envolvidos, que ainda será determinada.
Sobre a CPI das Câmeras
Instalada em 16 de junho, a CPI investiga empresas privadas responsáveis pela instalação de câmeras em locais públicos, além de cooperativas ligadas à recuperação de veículos roubados. A comissão foi criada por iniciativa de Alexandre Knoploch.
Com o andamento das investigações, também entraram na mira da CPI locadoras de veículos, ferros-velhos, roubos de cargas e o uso de ouro em práticas criminosas, como lavagem de dinheiro, reflexo da prisão do deputado estadual TH Joias (ex-MDB).
Além de Knoploch, a CPI das Câmeras conta com Marcelo Dino (União) como vice-presidente e Filippe Poubel (PL) como relator. Os membros titulares são Rodrigo Amorim (União) e Luiz Paulo (PSD), e os suplentes incluem Alan Lopes (PL), Renan Jordy (PL), Professor Josemar (PSOL), Thiago Rangel (Avante) e Sarah Poncio (SDD).