A Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste, foi projetada na década de 1960 para receber moradores removidos de favelas. Fez parte do programa Aliança para o Progresso, criado pelo então presidente americano John Kennedy. A ideia bem-intencionada, contudo, desandou. Hoje, assim como comunidades do entorno, o conjunto habitacional enfrenta descaso público e foi tomado por organizações criminosas, em constante disputa pelo território.
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As recentes operações policiais mostram que, nessa região, atuam quatro organizações criminosas: Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro, Amigos dos Amigos e uma milícia. Rivais, esses grupos estão há décadas em guerra para aumentar seu poderio, o que resulta numa rotina de confrontos e de operações policiais — com moradores vivendo cerceados e amedrontados pela violência.
Na manhã de ontem, seis criminosos foram mortos e duas pessoas foram presas durante uma operação conjunta das polícias Civil e Militar na Vila Aliança, chefiada, atualmente, pelo TCP. Quando a violência não é deflagrada pelas ações oficiais do governo, são os bandidos rivais que levam medo aos moradores. Bem ao lado, na Vila Kennedy, ficam os traficantes do Comando Vermelho.
Sala de tortura no Catiri
A facção também trava uma guerra na comunidade do Catiri, em Bangu, a oito quilômetros da Vila Aliança. Há dois anos, a favela vem sendo cobiçada pelo CV que, da Vila Kennedy, envia traficantes para tentar derrotar a milícia que manda na comunidade. Em julho, um trabalho de inteligência da Polícia Civil apontou que há até um piloto de drone que monitora a favela inimiga e avisa sobre possíveis brechas para ataques.
De acordo com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária, o Catiri é alvo por ser próximo aos presídios em Bangu, onde grandes representantes do CV estão presos. A pasta reforça que o plano da facção é consolidar um “cinturão” com as comunidades de Jardim Bangu, Catiri e Vila Kennedy. Um pouco mais distante fica a Vila Vintém, em Padre Miguel, dominada pela ADA, que também tem se envolvido nessa guerra.
Anteontem, policiais da 58ª DP (Posse) descobriram um galpão em Realengo, ainda na mesma região, que funcionava como uma “sala de tortura”. Segundo o delegado Tiago Venturini, o espaço era de criminosos envolvidos na disputa do Catiri — só não se sabe ainda se pertencia ao CV ou à milícia.
— O galpão estava sendo usado como cativeiro, local de tortura, guarda de veículos roubados e clonagem de viaturas policiais. Vamos apurar qual organização criminosa estava usando o espaço — explicou.
O cômodo, segundo os agentes, tinha até isolamento acústico à prova de gritos. Nele foram encontrados uma cadeira com cordas amarradas, um tonel com água (onde as vítimas eram afogadas) e um gancho preso ao teto para pendurar os rivais.
Na área externa, havia um Toyota Corolla, que estava sendo pintado de preto e branco, para ser usado como viatura da Polícia Civil.
2025-09-05 04:30:00