Deputado estadual TH Joias foi levado para a sede da Superintendência da Polícia FederalReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Em entrevista coletiva na sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio, no Centro, o superintendente Fábio Galvão destacou que o parlamentar tem forte ligação com o traficante Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, líder do CV no Complexo do Alemão, na Zona Norte. Os contatos eram realizados por intermédio de Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, braço direito de Pezão.
Com todo esquema criminoso, a investigação identificou que Pezão movimentou cerca de R$ 120 milhões em cinco anos. Já TH cerca de R$ 8 milhões em três anos.
Para Galvão, Thiego entrou na política para representar o interesse do Comando Vermelho, inclusive, dando cargos a pessoas na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), como a mulher do traficante Índio do Lixão e para Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, que trabalhou como seu assessor e também é acusado de ligação com a facção.
“Os anseios e objetivos do parlamentar desde que entrou era transparecer preocupado, ironicamente, com a segurança pública. Logicamente, ele se aproveitou disso. Todo evento ligado à segurança ele queria colocar a imagem dele. Isso deixou bem claro qual era o objetivo. Ele, nos bastidores, era um membro importante do Comando Vermelho. Ele se aproveita disso e está bem claro que os interesses que está atendendo não é o da sociedade e sim o da facção. Ele extrapolava muito mais do que poderia se imaginar e ganhava dinheiro em cima dos chefes do tráfico”, destacou o superintendente.
Segundo o secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, que comandou as investigações de 2017, não houve surpresa com as acusações contra TH.
“Em 2025, essa pessoa está sendo presa praticamente pelos mesmos crimes, fazendo as mesmas coisas, condutas graves. Um detentor de um mandato parlamentar tem que representar o povo. Quem detém um mandato parlamentar representa o povo, mas ele não estava lá para isso e sim para interesses do Comando Vermelho, utilizando desse cargo que é tão nobre. Isso a gente não pode permitir”, ressaltou.
Thiego assumiu o cargo na Alerj após a morte de Otoni de Paula Pai, em 2024. O parlamentar recebeu 15.105 votos na última eleição e entrou como suplente. Ele é presidente da Comissão de Defesa Civil da Casa.
Questionada, Alerj informou que tomou conhecimento nesta quarta da expedição de mandados de busca e apreensão em face do deputado, cumpridos em seu gabinete. A Casa informou que as diligências foram acompanhadas pela Procuradoria Legislativa, que prestou apoio às autoridades competentes.
A reportagem tenta localizar a defesa de Thiego. Segundo sua assessoria, não haverá posicionamento no momento por orientação jurídica.
Operação e vazamento
O deputado foi preso no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, em um condomínio de luxo, durante a realização de duas operações simultâneas. Os agentes não o encontraram em sua residência, na Barra da Tijuca. A Polícia Federal apura o vazamento da ação, pois Thiego não dormiu em casa.
“O deputado estadual TH, não estava em casa, tinha fugido. Vamos instaurar um inquérito para apurar um eventual vazamento de informação. Temos indicativos de que chegou ao conhecimento dele e nós vamos apurar. Nossa equipe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) continua as diligências”, explicou Galvão.
Para as duas ações, ao todo, foram 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão expedidos pela Justiça Estadual e Federal. As operações terminaram com 15 presos, entre eles um delegado da Polícia Federal, policiais militares e um ex-secretário municipal e estadual. Um agente do Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Degase) também teve mandado de prisão expedido, mas não foi encontrado.
“O grupo integrado pelos quatro policiais militares da ativa, um PM da reserva e um agente da Degase, tinha função de vazamento de informação. Outra era fazer tanto a segurança do transporte dos traficantes, quanto das armas, drogas e do dinheiro. Eles faziam o leva e traz do interesse da facção. Era polícia fazendo escolta de traficantes. Fizemos dever de casa e esse colega [delegado da PF] infelizmente, passava informações de interesse para o Comando Vermelho. Ele estava de plantão no Aeroporto Internacional”, comentou Galvão.
Sobre o ex-secretário, o superintendente da PF informou que ele também vazava informações e que tentou tirar uma unidade do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHq) da Gardênia Azul, Zona Oeste, pois os policiais estariam atrapalhando os interesses do tráfico.
“Esse secretário recebeu uma ligação do TH, que recebeu do Índio, e fez ingerência para tentar tirar a unidade de lá. Ele vazava informação. A facção sempre irá buscar infiltração no poder público e conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Essa continuidade é perigosa”, disse o superintendente.
Na Operação Bandeirantes, motivada pelos crimes de associação para o tráfico de drogas e comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito, foram cumpridos três dos quatro mandados de prisão: TH, Índio e Dudu. Pezão, líder do Comando Vermelho no Complexo do Alemão, segue foragido.
Já na Operação Zargun, na esfera federal, os investigados poderão responder pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
2025-09-03 13:55:00