Remover esse tecido abre portas para germes, inflamações e deformações nas unhas, riscos que podem ser evitados com cuidados simples
As cutículas fazem parte de um sistema de proteção muito eficiente. Embora discretas, selam a área entre a pele e a unha, impedem a entrada de microrganismos e protegem a matriz ungueal, região responsável pelo crescimento saudável das unhas. Ainda assim, o hábito de tirar a cutícula é comum no Brasil e segue causando alerta entre dermatologistas, pois pode provocar danos que muitas vezes passam despercebidos.
Por que não devemos cortar as cutículas
O que chamamos de cutícula é formado por células mortas, mas logo abaixo existe a dobra proximal ungueal, pele viva, sensível e essencial para a defesa natural da unha. Sempre que esse tecido é cortado ou agredido, abrem-se pequenas portas de entrada para bactérias e fungos, favorecendo paroníquia (inflamação dolorosa ao redor da unha), micoses e infecções recorrentes.
Além do risco de infecção, retirar a cutícula repetidamente pode alterar o formato das unhas, causar ondulações, deixar a superfície mais frágil e aumentar o risco de lascamento. Muitas pessoas passam anos acreditando que têm unhas fracas, quando na verdade lidam com os efeitos de uma barreira protetora constantemente lesionada.
Nos Estados Unidos, essa preocupação levou muitos estados a restringir o corte de cutículas por profissionais de estética. Como a prática envolve manipulação de pele viva, alguns conselhos de cosmetologia consideram o procedimento fora do escopo permitido em salões. Na prática, o que se defende é a segurança: a remoção agressiva cria riscos que nem sempre podem ser controlados no ambiente de manicure.
Como cuidar das cutículas de forma segura e saudável
O ideal é não cortar. Em vez disso, recomenda-se amolecer a área com água morna ou produtos específicos e apenas empurrar suavemente o excesso aparente. A hidratação regular com óleo para cutículas ou creme nutritivo mantém a pele flexível, reduz rachaduras e ajuda a preservar a função de barreira.
Outra medida essencial é a esterilização adequada dos instrumentos usados em salões. A contaminação cruzada entre clientes é uma das principais causas de infecções nas unhas. Pessoas com diabetes, má circulação ou baixa imunidade devem ter cuidado redobrado, já que pequenos ferimentos podem evoluir de forma mais séria.
O hábito de roer cutículas ou puxá-las com os dentes também cria microfissuras que facilitam infecções. Além de prejudicar a aparência, pode causar dor contínua, inflamação e até deformidades permanentes.
Cuidar das cutículas é cuidar da saúde das unhas. Elas não são um simples detalhe estético, mas parte da estrutura de proteção do organismo. Com orientação adequada e pequenas mudanças na rotina, é possível manter unhas bonitas, fortes e saudáveis, sem remover o que foi feito para proteger.
Profa. Dra. Flávia Alvim Sant Anna Addor – CRM/SP 66.293 RQE 42.404
Dermatologista
Membro da Academia Americana de Dermatologia
Sócia titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia
Membro da Brazil Health

