aEm 1868, a capital do Império era uma cidade em plena transformação, com desmonte de morros, obras de saneamento e implantação de bondes. Passeios na praia começavam a fazer parte do cotidiano, e equipamentos de lazer brotavam timidamente aos moldes europeus, com jardins internos. Naquele ano, em 31 de outubro, data do aniversário de Dom Luiz I, rei de Portugal, foi fundada a Real Sociedade Clube Ginástico Português, por dois irmãos lusitanos, na Rua do Hospício, hoje Buenos Aires, no Centro. O intuito da entidade era estreitar laços entre brasileiros e “patrícios”.
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Em 1938, em sua terceira e definitiva sede, na Avenida Graça Aranha, foi inaugurado o Teatro Ginástico, onde se apresentaram estrelas como Bibi Ferreira (1922-2019) e Grande Otelo (1915-1993). Fechadas em janeiro de 2023 para reforma do equipamento, as cortinas reabrem no próximo sábado (13), sob as bênçãos de Fernanda Montenegro, que aporta por lá com a leitura dramatizada da obra de Simone de Beauvoir (1908-1986). “Agradeço a recuperação e a retomada desse espaço cultural histórico. Nada é mais importante numa cidade do que seus teatros em trabalho de parto”, diz Fernanda, que neste mesmo palco encenou O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, em 1961 e, em 2019, celebrou seus 90 anos justamente com Nelson Rodrigues por Ele Mesmo.
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A sala de espetáculos ganhou poltronas mais confortáveis, revestimentos acústicos e um novo sistema de iluminação. “A ideia é oferecer modernidade sem perder a tradição”, afirma Christine Braga, gerente de cultura do Sesc RJ, que comprou o teatro em 2002 e, em 2019, virou dono de todo o prédio. Ainda em dezembro, Andréa Beltrão estrela Lady Tempestade e Wagner Tiso celebra seus 80 anos homenageando o lendário Clube da Esquina. Os ingressos, que variam de 15 a 60 reais, estão esgotados.

Sócia de Marieta Severo nos teatros Poeira e Poeirinha, fincados em Botafogo há duas décadas, Andréa conhece a dor e a delícia de manter um equipamento desta monta. “É preciso muito empenho, apoio financeiro e parceria. É lindo ver um teatro de rua, com entradas a preços acessíveis, voltar a funcionar a pleno vapor”, observa a atriz. “Terei a oportunidade de mostrar detalhes da minha carreira em várias formações. Fazer 80 anos não é fácil, mas temos que comemorar”, aponta Tiso, que receberá convidados como Beto Guedes e Rogério Flausino. Em 9 de janeiro, estreia o musical O Céu de Bibi Ferreira, tributo à dama da arte.
Ótimos ventos, aliás, sopram pela cena carioca. Entre outubro e novembro, o Festival de Teatro do Rio, promovido pela Aventura, levou 21 000 espectadores ao Riachuelo e ao Adolpho Bloch, com sessões lotadas de doze montagens. “No governo Bolsonaro, as produções ficaram recolhidas, sem incentivo. Então, tudo que estava travado estreou, e o público se engajou”, avalia Maria Siman, curadora do festival, adiantando que a segunda edição será em julho.
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Enquanto o Teatro Villa-Lobos, no Leme, destruído por um incêndio em 2011, aguarda captação de recursos para ressurgir das cinzas, outro equipamento estadual esbanja frescor: o Gláucio Gill, reaberto em janeiro após reforma. No mês passado, para celebrar seus 60 anos, ofereceu trinta montagens em trinta dias, com entradas a 20 reais. “Temos 93% de ocupação; de segunda a segunda. É só abrir as vendas que os ingressos somem”, celebra o diretor do espaço, Rafael Raposo.
Protagonista de O Céu da Língua, um dos principais sucessos atuais, Gregorio Duvivier conta que cerca de um terço dos 170 000 espectadores o viram no Rio. “Tem gente que me aborda dizendo que veio de outros estados para assistir à peça. A cidade vive um momento bom para o turismo e isso afeta o teatro”, constata Duvivier. Em tempos dominados pelas telas, a arte do encontro evidencia o seu vigor.
Vem aí
As mudanças no prédio da Avenida Graça Aranha

O retrofit do clube tem previsão de terminar em maio de 2026. A área de 14 000 metros quadrados vai receber cinema ao ar livre, restaurante, academia, quadras esportivas e uma piscina semiolímpica no terraço. Não só associados vão usufruir, e o público geral poderá fazer aulas mediante o pagamento de uma taxa. “O complexo vai dialogar com a revitalização do Centro”, observa o diretor de engenharia e infraestrutura do Sesc RJ, Fábio Soares.


