Teatro, por Claudia Chaves: “O Som que Vem de Dentro”

Tempo de leitura: 3 min


 (Annelize Tozetto/Divulgação)
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“O Som que Vem de Dentro” é um daqueles raros espetáculos que não se contentam em narrar uma história comum: ele insere o espectador dentro da própria trama, costurando cada silêncio e cada palavra de modo a criar uma atmosfera em que pensamento e emoção se confundem. A peça mergulha na relação entre duas figuras profundamente marcadas pela literatura e pela angústia existencial, construindo um tecido dramático que oscila entre intimidade e tensão, leveza e perigo.

(Annelize Tozetto/Divulgação)

A direção de João Fonseca é decisiva para essa profundidade. Eclético e competente em todas as frentes, Fonseca demonstra pleno domínio da dramaturgia e um senso refinado de ritmo, criando transições fluidas entre memória e presente, fantasia e realidade. Permite que a obra respire com naturalidade, sem perder intensidade. Ele evita soluções fáceis e aposta na força da palavra, mas sem abrir mão de uma composição visual precisa, na qual a luz, o espaço e o movimento mínimo ampliam a densidade emocional das cenas.

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(Annelize Tozetto/Divulgação)

O elenco — formado por Gláucia Rodrigues, na pele de uma professora de literatura confrontada com uma doença grave, e André Celant, como o jovem escritor inquieto e desajustado — sustenta a peça com interpretações que nunca cedem ao melodrama. Rodrigues entrega um retrato comovente de uma mulher de força vulnerável, em que coragem e fragilidade coexistem de forma palpável, enquanto Celant captura com sensibilidade a inquietude e o fervor criativo de seu personagem. Juntos, eles constroem um diálogo que pulsa entre afeto, estranhamento e uma necessidade visceral de se entender e ser compreendido, transformando a relação numa verdadeira coreografia emocional que margeia o íntimo e o universal.

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(Annelize Tozetto/Divulgação)

O resultado é um espetáculo que continua reverberando muito depois de as luzes se apagarem. Em vez de entregar respostas prontas, O Som que Vem de Dentro provoca reflexões profundas sobre criação, solidão, responsabilidade e desejo, deixando no público a sensação incômoda — e bela — de que algo dentro de nós foi tocado. Talvez para nunca mais se calar por completo.

SERVIÇO:

Teatro Glauce Rocha – Avenida Rio Branco, 179, Centro
Até dia 14/12
Sextas e sábados: 19h
Domingos: 18h

Claudia Chaves
(Arquivo/Arquivo pessoal)



Com informações da fonte
https://vejario.abril.com.br/coluna/lu-lacerda/teatro-por-claudia-chaves-o-som-que-vem-de-dentro/

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