Teatro, por Claudia Chaves: “O Homem Decomposto”

Tempo de leitura: 3 min


O dramaturgo franco-romeno Matéi Visniec, radicado em Paris há décadas, é reconhecido por seu olhar agudo sobre os conflitos humanos — íntimos, sociais e políticos. Autor de cerca de quarenta peças encenadas em mais de trinta países, Visniec combina humor, absurdo e uma sensibilidade que expõe o desamparo do indivíduo diante de mecanismos opressores pouco identificáveis, mas sempre presentes.

(Nil Caniné/Divulgação)

Em “O Homem Decomposto”, apresentado em versão inédita no Brasil, com tradução de Luiza Jatobá e direção de Ary Coslov, essa perspectiva se desdobra em cenas curtas, articuladas com ritmo preciso. O encadeamento dos textos — que vão dos mais cotidianos aos mais densos — privilegia a fragmentação como método: personagens e situações se sobrepõem para revelar um mundo de incomunicabilidade crescente, num registro que evita a tese e aposta na sugestão.

O elenco mantém um conjunto equilibrado. Dani Barros, em especial, destaca-se pela capacidade de integrar gesto e fala com fluidez, utilizando o corpo como eixo expressivo que acentua a tensão das passagens. A direção de movimento e a preparação corporal de Lavinia Bizzotto e Alexandre Maia aparecem de forma clara nesse trabalho mais físico, sem jamais resvalar no excesso.

A movimentação geral dos atores confere dinamismo às passagens mais rápidas, como a cena em que Marcelo Xavier corre enquanto fala — momento que ilustra bem a ideia de um sujeito pressionado por demandas que não se resolvem, mas apenas se acumulam. O restante do elenco — Guida Vianna, Júnior Vieira, Marcelo Aquino e Mario Borges — sustenta a alternância entre humor e incômodo, indispensável ao texto de Visniec.

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O Homem Decomposto, fotos Nil Caniné _R4A1717
(Nil Caniné/Divulgação)

A iluminação de Aurélio de Simoni funciona como elemento de costura, alternando atmosferas que ajudam a manter a fluidez entre as histórias e sugerindo mudanças de foco sem que a cena perca continuidade. O figurino de Wanderley Gomes e a trilha sonora de Ary Coslov adotam a discrição necessária, permitindo que o texto e as interpretações ocupem o centro da narrativa.

Sem recorrer a grandes efeitos, a montagem privilegia a clareza e o ritmo, mantendo-se fiel ao espírito de Visniec: revelar, em fragmentos, a dificuldade de existir num mundo onde as pressões são difusas, mas constantes.

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Serviço:

Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h

Ingressos aqui. 

Claudia Chaves
(Arquivo/Arquivo pessoal)





Com informações da fonte
https://vejario.abril.com.br/coluna/lu-lacerda/teatro-por-claudia-chaves-o-homem-decomposto/

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