O dramaturgo franco-romeno Matéi Visniec, radicado em Paris há décadas, é reconhecido por seu olhar agudo sobre os conflitos humanos — íntimos, sociais e políticos. Autor de cerca de quarenta peças encenadas em mais de trinta países, Visniec combina humor, absurdo e uma sensibilidade que expõe o desamparo do indivíduo diante de mecanismos opressores pouco identificáveis, mas sempre presentes.
Em “O Homem Decomposto”, apresentado em versão inédita no Brasil, com tradução de Luiza Jatobá e direção de Ary Coslov, essa perspectiva se desdobra em cenas curtas, articuladas com ritmo preciso. O encadeamento dos textos — que vão dos mais cotidianos aos mais densos — privilegia a fragmentação como método: personagens e situações se sobrepõem para revelar um mundo de incomunicabilidade crescente, num registro que evita a tese e aposta na sugestão.
O elenco mantém um conjunto equilibrado. Dani Barros, em especial, destaca-se pela capacidade de integrar gesto e fala com fluidez, utilizando o corpo como eixo expressivo que acentua a tensão das passagens. A direção de movimento e a preparação corporal de Lavinia Bizzotto e Alexandre Maia aparecem de forma clara nesse trabalho mais físico, sem jamais resvalar no excesso.
A movimentação geral dos atores confere dinamismo às passagens mais rápidas, como a cena em que Marcelo Xavier corre enquanto fala — momento que ilustra bem a ideia de um sujeito pressionado por demandas que não se resolvem, mas apenas se acumulam. O restante do elenco — Guida Vianna, Júnior Vieira, Marcelo Aquino e Mario Borges — sustenta a alternância entre humor e incômodo, indispensável ao texto de Visniec.

A iluminação de Aurélio de Simoni funciona como elemento de costura, alternando atmosferas que ajudam a manter a fluidez entre as histórias e sugerindo mudanças de foco sem que a cena perca continuidade. O figurino de Wanderley Gomes e a trilha sonora de Ary Coslov adotam a discrição necessária, permitindo que o texto e as interpretações ocupem o centro da narrativa.
Sem recorrer a grandes efeitos, a montagem privilegia a clareza e o ritmo, mantendo-se fiel ao espírito de Visniec: revelar, em fragmentos, a dificuldade de existir num mundo onde as pressões são difusas, mas constantes.
Serviço:
Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h
Ingressos aqui.


