Um dos envolvidos na morte a tiros do candidato à Presidência da Colômbia Miguel Uribe, que morreu em agosto após várias semanas em estado crítico, foi condenado a 21 anos de prisão, anunciou o Ministério Público nesta terça-feira. De acordo com a promotoria, o homem admitiu a responsabilidade pelo atentado de 7 de junho em Bogotá contra o senador opositor ao governo de esquerda de Gustavo Petro, um incidente que abalou a disputa pelas eleições presidenciais de 2026.
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O condenado foi responsável pelo transporte do assassino menor de idade, que foi condenado a sete anos de prisão. Outras quatro pessoas estão presas pelo assassinato, mas o mandante ainda não foi identificado.
O político era um dos principais nomes da oposição ao atual governo de Gustavo Petro e havia conquistado espaço entre os líderes da direita colombiana. Uribe perdeu a mãe em 25 de janeiro de 1991, aos quatro anos, devido a uma armadilha arquitetada pelo famoso chefe do narcotráfico Pablo Escobar.
A jornalista Diana Turbay havia viajado para supostamente entrevistar o líder com exclusividade, quando foi sequestrada como mecanismo de pressão para evitar a extradição de traficantes colombianos para os Estados Unidos.
Após uma operação de resgate mal estruturada, Diana acabou morta, deixando Uribe e sua irmã, María Carolina, órfãos. Os fatos foram narrados pelo Nobel de Literatura Gabriel García Márquez no romance “Notícia de um sequestro” (1996), que inclui uma menção ao pequeno Miguel Uribe durante a angustiante espera de cinco meses entre o sequestro e a morte da mãe. Em uma entrevista à revista Bocas, em 2021, o político disse que perdoou todos os envolvidos no crime.
— A reconciliação é a única coisa que ajuda a dar o próximo passo e superar um momento tão difícil.
Política como legado de família
Integrante de uma família com história na política colombiana — seu avô Julio César Turbay foi presidente entre 1978 e 1982 — Uribe estudou em uma das melhores escolas de Bogotá, formou-se em Direito e fez mestrado na Universidade Harvard, nos EUA.
Sua trajetória política começou em 2012, quando foi eleito vereador da cidade de Bogotá, aos 25 anos. Quatro anos depois, ele se tornou secretário de governo do prefeito Enrique Peñalosa, cargo que renunciou em 2018 para candidatar-se à prefeitura da capital. Em 2022, foi eleito senador pelo partido de direita Centro Democrático e, ano passado, anunciou que disputaria a Presidência.
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Durante um ato de campanha em um bairro popular de Bogotá, o político foi atingido por tiros disparados por um criminoso de 15 anos. Minutos antes dos tiros, ele recordou a mãe em um discurso para convencer aqueles que o escutavam de que é uma pessoa que viveu a violência “na própria pele”.
Uribe era um crítico ferrenho do presidente Gustavo Petro e da esquerda em geral. No Congresso, ele participou de vários debates contra as guerrilhas e a política do atual chefe de Estado de negociar a paz com elas. Também era um dos principais críticos das reformas sociais promovidas pelo mandatário.
Apesar de estar bem posicionado na liderança do partido, Uribe não era o rosto mais visível da legenda, e não eram conhecidas ameaças contra ele. O líder do Centro Democrático, o ex-presidente Álvaro Uribe, considerava o senador uma “esperança da pátria”.
Quando foi candidato à prefeitura de Bogotá, em 2019, Miguel Uribe se definiu como um político “transparente, sem nenhum escândalo de corrupção”. Naquela época, ele defendia a linha dura contra o crime como caminho para solucionar os problemas de segurança da cidade e a luta contra o consumo de drogas.
A morte do político foi confirmada por sua mulher, María Claudia Tarazona, em uma publicação nas redes sociais. Ele estava internado desde o dia 7 de junho, após ser baleado três vezes — sendo dois disparos na cabeça e um na perna. No último sábado, Uribe havia sofrido uma hemorragia no sistema nervoso central e foi submetido a procedimentos emergenciais.
“A equipe encarregada pelos cuidados de Uribe Turbay trabalhou incansavelmente durante mais de dois meses, desde sua chegada gravemente ferido. Apesar de todos os esforços, é um triste desfecho e nos solidarizamos com a família Uribe Turbay neste momento de imensa dor”, escreveu o diretor médico da Fundación Santa Fe de Bogotá, Adolfo Llinás, em um comunicado divulgado pelo jornal colombiano El Tiempo.
Em 1948 e entre as décadas de 1980 e 1990, cinco candidatos à Presidência foram assassinados. A maioria dos casos envolveu, supostamente, os cartéis do narcotráfico em aliança com outros políticos e agentes do Estado.