suspeita de mortes em série, Ana Paula fez concurso para auxiliar de necropsia da polícia do Rio

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Ana Paula Veloso: suspeita de ser serial killer — Foto: Reprodução


Acusada de ser uma serial killer (assassina em série, em inglês), a carioca Ana Paula Veloso Fernandes tentou ingressar na Polícia Civil do Rio. Ela se inscreveu para o concurso de auxiliar policial de necrópsia da corporação. A estudante de Direito foi presa e acusada de matar quatro pessoas envenenadas no Rio e São Paulo. Com uma delas, Ana Paula confessou ter dividido a casa com o corpo da vítima por cinco dias até o cheiro ficar insuportável e o filho e vizinhos reclamarem.

Ana Paula estava morando em São Paulo desde janeiro, mas é carioca e passou a vida no Rio. No final de 2021 ela se inscreveu para tentar uma das 10 vagas de auxiliar de necrópsia da polícia civil fluminense, que necessitava somente do ensino Fundamental Completo. Entre as funções do profissional está lidar diretamente com corpos que chegam aos Institutos Médicos Legais (IML): do auxílio ao médico legista à manipulação, limpeza e até cortes cadavéricos quando necessário. O salário inicial era de R$ 4.606,29

Ana Paula não passou da primeira fase dos exames, que consistia em duas provas: uma de conhecimentos gerais de Língua Portuguesa e Matemática e outra específica de noções básicas de biologia, anatomia humana e Direito Penal. Não há informações se ela fez a prova ou faltou, já que a organização só divulgou a lista dos aprovados. Mas os candidatos tiveram que responder, por exemplo, sobre as células afetadas pelo cianeto — um dos venenos mais letais para o ser humano.

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Ana Paula Veloso é acusada de ser serial killer pela Polícia Civil de São Paulo — Foto: Reprodução / TV Globo

Ana Paula disse não ter tido medo de ser descoberta

No relatório final que indiciou a universitária Ana Paula Veloso por quatro assassinatos, o delegado de São Paulo Halisson Leite a descreveu como uma “criminosa contumaz”, “serial killer” e destacou que as mortes foram cometidas com “alto grau de frieza”. Como mostrou O GLOBO, a estudante de Direito fazia questão de continuar nas cenas dos crimes e até ligar para a polícia avisando sobre as mortes. Após ser presa, ela confessou aos investigadores duas mortes e negou ter participado das outras. Ela contou, por exemplo, ter passado cinco dias com o corpo de sua primeira vítima em casa e só ter chamado a polícia quando o cheiro de podre começou a incomodar seu filho e os vizinhos.

Enquanto detalhava o que teria feito, um policial a questionou se ela sentiu medo de ser descoberta, com tranquilidade e calma respondeu:

— Não. Não fiquei com medo de desconfiarem que fui eu, não tinha como. Eles (policiais militares que atenderam a ocorrência) já sabiam que ele tinha sido assassinado. Falaram que iam puxar a câmera da rua, mas falaram que era bandido e seria um a menos — disse ela.

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A frase que Ana Paula diz ter ouvido da agente que estava no local contradiz a gravação da câmera corporal da agente. Nos 16 minutos de gravação, a policial só indica ter alguma noção de quem pode ser a vítima ao dizer que já esteve no local para atender outra ocorrência. Essa não é a única contradição da acusada com as imagens e perícias do local. Ela nega ter envenenado Marcelo Hari e diz ter o matado com uma faca, mas não havia sinais de violência no corpo.

Ana Paula disse não ter tido medo de ser descoberta

Ana Paula disse não ter tido medo de ser descoberta

O delegado Halisson Ideiao Leite, do 1º Distrito Policial de Guarulhos, classifica Ana Paula no relatório do inquérito como uma serial killer que, “em caso de soltura, certamente voltaria a atentar contra a vida de terceiros”. A investigação ainda está aberta e apura se a universitária fez outras vítimas.

— É uma pessoa extremamente manipuladora. Desde o início tentou controlar a narrativa, inclusive conosco, indo à delegacia, perguntando sobre o andamento do inquérito e se apresentando sempre como vítima — explica o delegado. — Nós, como policiais, somos treinados para reconhecer esse tipo de comportamento. Por isso, a estratégia foi mantê-la por perto, deixando que acreditasse estar nos influenciando, enquanto, na verdade, estávamos estudando ela.

Aos policiais civis, Ana Paula detalhou o que a teria motivado a matar Marcelo. Segundo a universitária, ela e a irmã haviam pagado R$ 2 mil para ficarem nos fundos da casa com dois adolescentes, filhos das duas, e mais alguns cães. Pouco tempo depois, ela contou que o senhorio teria ameaçado o filho dela e tentado entrar na área que seria reservada a ela e aos jovens. Em seguida, eles teriam discutido:

— Ele sentou no sofá e ficou com os braços abertos, falando um monte de coisa na minha cara. Aí dei uma facada nele debaixo da axila direita — diz ela.

Ela disse que cobriu a entrada da sala com um lençol para o filho e sobrinha não verem Marcelo ferido, e jogou a faca fora no dia seguinte em um bueiro. Ana Paula conta que só contou ao filho quando o adolescente reclamou do mau cheiro vindo da sala. Ela ainda diz que no terceiro dia abriu o lençol e viu que a vítima estava morta e na mesma posição desde domingo.

— Esperei passar uns dias e vi que ele não chamou a polícia ou foi ao médico. Só que começou a feder muito. Aí meu filho falou: “mãe, meu Deus, está fedendo demais”. Vi os bichinhos andando lá na frente atravessando a parede — disse.

Para delegado do caso, Ana Paula tem o perfil típico de psicopata — Foto: Reprodução
Para delegado do caso, Ana Paula tem o perfil típico de psicopata — Foto: Reprodução

A defesa de Ana Paula Veloso afirmou que, até o momento, não há “elementos robustos e definitivos que autorizem a conclusão sobre a sua participação”.

“Ana Paula, como todo cidadão no Estado Democrático de Direito, está amparada pelo sagrado princípio constitucional da presunção de não culpabilidade. Qualquer afirmação prematura sobre sua participação, autoria ou responsabilidade é uma violação direta deste princípio fundamental. Reconhecemos a gravidade dos fatos investigados e a comoção social que geram. Nesta fase, em que as provas ainda estão sendo formadas e examinadas, não é possível, e (seria temerário), afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva”, diz nota assinada pelo advogado Almir da Silva Sobral.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/10/15/serial-killer-suspeita-de-mortes-em-serie-ana-paula-fez-concurso-para-auxiliar-de-necropsia-da-policia-do-rio.ghtml

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