Sono e pressão alta: como noites mal dormidas sobrecarregam o coração

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Quando dormimos pouco ou de maneira irregular, o organismo passa a produzir mais hormônios ligados ao estresse, como cortisol e adrenalina

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Dormir bem não é luxo; é parte do tratamento e da prevenção da pressão alta

Dormir bem não é apenas um momento de descanso. Trata-se de um processo biológico fundamental, que ajuda a regular os hormônios, reparar tecidos e proporciona ao coração e aos vasos sanguíneos a chance de “respirar fundo” e se recuperar. Quando o sono é ruim ou insuficiente, essa pausa essencial não ocorre — e o organismo entra em um ciclo recorrente de sobrecarga que pode levar à pressão alta e a complicações sérias.

O que é hipertensão arterial?

A hipertensão arterial, mais conhecida como pressão alta, ocorre quando os valores da pressão sanguínea permanecem elevados — acima de 140 x 90 mmHg (ou seja, 14×9) — de forma persistente. Isso significa que o coração precisa fazer mais esforço para bombear sangue pelas artérias, o que aumenta o desgaste dos vasos sanguíneos e eleva o risco de doenças cardiovasculares.

Como o sono regula a pressão arterial

Durante a fase de sono profundo, há uma queda natural da pressão arterial e da frequência cardíaca. Esse relaxamento dos vasos sanguíneos, chamado de tônus vascular, funciona como um “modo de automanutenção” do corpo, essencial para manter o equilíbrio da pressão durante o dia.

No entanto, quando dormimos pouco ou de maneira irregular, esse mecanismo falha. O organismo passa a produzir mais hormônios ligados ao estresse, como cortisol e adrenalina, que mantêm os vasos contraídos, levando à pressão elevada mesmo em repouso, tanto de dia quanto à noite. Assim, noites mal dormidas repetidas vezes podem contribuir de forma significativa para o surgimento da hipertensão arterial, mantendo a pressão acima dos valores normais e exigindo cada vez mais esforço do coração.

Distúrbios do sono que afetam o coração

Alguns problemas de sono aumentam o risco cardiovascular, como:

  • Insônia: dificuldade para iniciar ou manter o sono de forma prolongada;
  • Apneia do sono: pausas na respiração durante a noite, geralmente acompanhadas de ronco, que causam quedas repetidas de oxigênio no sangue e micro despertares;
  • Síndrome das pernas inquietas: movimentos involuntários dos membros inferiores que fragmentam o sono;
  • Privação de sono: dormir com frequência abaixo do que o corpo necessita (geralmente menos de 6 horas por noite).

Todos esses distúrbios, de maneiras diferentes, podem levar a uma ativação excessiva do sistema cardiovascular. A apneia do sono, por exemplo, além de se manifestar com ronco alto, provoca repetidas quedas e elevações de oxigênio, gerando estresse elevado para o coração e favorecendo arritmias cardíacas. Já a insônia e a privação de sono mantêm o organismo em estado de alerta constante, aumentando de forma persistente a pressão arterial e dificultando o controle mesmo com medicamentos tradicionais. São situações preocupantes no cenário de saúde dos dias atuais.

Como noites mal dormidas aumentam o risco de infarto e AVC

Quando a pressão arterial permanece alta, as artérias sofrem desgaste contínuo. Isso favorece a formação de placas de gordura, coágulos e até a ruptura de vasos. O resultado pode ser um infarto agudo do miocárdio (IAM) ou um dos tipos de acidente vascular cerebral (AVC).

  • No AVC isquêmico, o mais comum, um coágulo interrompe o fluxo de sangue em uma artéria e na região correspondente do cérebro.
  • No AVC hemorrágico, menos frequente, um vaso intracraniano se rompe e causa sangramento cerebral.

O sono ruim está associado a ambos os tipos: aumenta a chance de formação de coágulos e também eleva o risco de rompimento de vasos frágeis, principalmente em razão da pressão mal controlada.

Hábitos saudáveis para proteger o sono e o coração

A boa notícia é que existem medidas simples para melhorar o sono e, por consequência, proteger o coração e o cérebro:

  • Estabelecer horários fixos para dormir e acordar, inclusive nos fins de semana.
  • Reduzir o consumo de café, chá preto, energéticos e álcool à noite.
  • Desligar telas (incluindo a TV) e celulares antes de dormir, favorecendo a produção natural de melatonina, hormônio do sono.
  • Praticar atividade física regularmente, preferindo horários afastados do período de dormir.
  • Manter o quarto silencioso, escuro e com temperatura agradável.
  • Procurar atendimento médico ao identificar ronco frequente, pausas na respiração ou sonolência excessiva durante o dia, pois podem indicar apneia do sono.

Dormir bem não é luxo; é parte do tratamento e da prevenção da pressão alta, sendo uma necessidade vital. O sono é um dos pilares invisíveis que sustentam a saúde do coração e dos vasos sanguíneos, reduzindo significativamente — mas não exclusivamente — o risco de infarto e AVC.

Vale ressaltar que as patologias cardiovasculares costumam ocorrer por múltiplos fatores, sendo fundamental também o controle do colesterol, da glicemia, do peso corporal, de bons hábitos alimentares, do consumo de álcool e, principalmente, a não utilização de tabaco. É essencial nos enxergarmos de forma integral sempre!

*Por Dr. Leonardo Jorge Cordeiro de Paula – CRM-SP 118.359 RQEs: Clínica Médica 56.423 | Cardiologia 56.424 Médico Cardiologista





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