Após um primeiro dia de debates sobre os desafios atuais da mobilidade urbana no Rio de Janeiro, o segundo e último dia do seminário “O Rio do Futuro” abordou as inovações que prometem transformar a cidade. O evento, que reuniu especialistas, autoridades e cidadãos, é realizado pela Editora Globo, com apoio da Câmara do Rio.
O painel “Transporte inteligente, cidade melhor: o futuro já começou?” discutiu como a tecnologia pode ser a principal aliada para criar um sistema de transporte mais eficiente e integrado para os cariocas. O vereador Pedro Duarte (Novo) destacou que o Rio ainda precisa evoluir em muitos aspectos, mas esbarra nos limites do orçamento. Por outro lado, o parlamentar declarou que alguns avanços mais simples precisam acontecer com urgência, como a integração mais efetiva entre os sistemas de transporte público. “É inadmissível que a população tenha que usar um cartão para o metrô e outro para o ônibus ou para o VLT. O grande salto que o Rio precisa ter é essa padronização de tarifas e de bilhetes”, afirmou o parlamentar.
A vereadora Monica Benício (PSOL) complementou, apontando que a falta de integração é, também, um agravante para a desigualdade social, e o Rio precisa trabalhar para diminuir essa disparidade. A parlamentar afirmou que o deslocamento é um direito básico e deve ser garantido a todos os cidadãos. Monica defendeu a implementação da Tarifa Zero, propondo que em até quatro anos o transporte público seja gratuito. “O orçamento é uma questão, mas precisamos ter vontade política para discutir a tarifa zero e para garantir o direito de acesso à cidade. Se deslocar não pode ser um privilégio”, justificou a vereadora.
A especialista em mobilidade urbana e consultora do Banco Mundial e do BID Cristina Albuquerque concordou que a questão tarifária afeta diretamente a qualidade de vida da população. Para ela, a solução para a mobilidade deve ter como meta o bem estar dos cidadãos. A especialista trouxe exemplos de cidades que conseguiram realizar a integração dos modais com tarifa única e reforçou o quão importante isso é para o Rio de Janeiro.
Cristina indicou também que a mobilidade começa desde o momento em que a pessoa sai de casa até chegar ao transporte. Segundo ela, um planejamento mais eficiente da viagem antes de sair de casa facilita a vida da população: “As informações de horários, previsão de chegada e os locais onde estão os veículos são fundamentais para a qualidade de vida”.
A crise climática, tema em alta no pós-COP30 no Brasil, esteve presente na fala do diretor de Implementação da C40 para a América Latina, Gabriel Tenenbaum. Ele apontou que a redução da poluição também é um tema que afeta a mobilidade, trazendo exemplos de cidades ao redor do mundo que implementaram transportes não poluentes ou zonas de ar limpo, que são mais agradáveis para lazer, comércio e moradia. Gabriel citou o projeto Reviver Centro como um exemplo de oferta de mais qualidade de vida para a população, pensando no cotidiano para além do trabalho, mas ressaltou que é necessário pensar esses projetos para as periferias: “Precisamos também ter oportunidades para outras áreas e não concentrar tudo na região central da cidade”.

Transportes acessíveis para toda a população
O segundo painel debateu o tema “Do acesso à autonomia: o transporte que faz diferença na vida real”. O vereador Dr. Rogério Amorim (PL) ressaltou que, para pensar a acessibilidade dos transportes, deve-se ter em vista a parcela da população excluída digitalmente. Ele explica que grande parte dos idosos não lida tão bem com tecnologia e isso dificulta o acesso aos transportes públicos, porque o pagamento é feito por meio de aplicativos.
O parlamentar defendeu ainda que o deslocamento não pode ser um estorvo para o carioca: segurança, dignidade e comodidade devem ser garantidas. “O morador quer ter segurança e conforto no transporte público, disso não há dúvida”, argumentou.
Já o vereador Rafael Satiê (PL) indicou que o Rio, como uma grande metrópole, tem que se inspirar em outros exemplos a nível mundial. O parlamentar trouxe referências externas de melhorias na acessibilidade da mobilidade urbana, como aplicativos que permitem monitorar em tempo real a localização dos ônibus. “A tecnologia permite que melhoremos a usabilidade do usuário nos transportes públicos, facilitando a vida da população.” O vereador também destacou pontos de melhoria fundamentais para garantir a acessibilidade, como pisos táteis, painéis sonoros e ônibus com elevadores.
Já o diretor executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), Miguel Lago, apontou que o modelo de organização urbana do município é problemático. Para ele, o Rio não aproveitou a oportunidade de reverter a horizontalidade da cidade antes dos Jogos Rio 2016. “Precisamos aprender com os erros do passado. A verticalidade é o que garante uma melhor acessibilidade à cidade, mas para atingi-la precisamos reorganizar o Rio”, afirmou o diretor do IPES.
Lago também retomou a discussão do painel anterior sobre a tarifa zero e defendeu que o Rio deve começar a discuti-la: “Outros municípios estão implementando a gratuidade tarifária e seria importante que o Rio passasse a debater isso entre o poder público e demais setores da sociedade”.
O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Gustavo Guerrante, informou que há uma tentativa da prefeitura de diminuir o espraiamento da cidade e, principalmente, o tempo de deslocamento da população. Ele citou a conclusão do BRT TransBrasil e do Terminal Gentileza como projetos que mudaram a vida do carioca. “Essas duas iniciativas fizeram com que os cidadãos reduzissem o uso do carro, porque eles têm a certeza de que vão chegar mais rápido usando o transporte público”, afirmou Gustavo, que relacionou o sucesso desses projetos também à implementação do Jaé, que permite a integração entre modais.



