A regularização do abastecimento de água tem alterado a rotina de milhares de famílias fluminenses desde novembro de 2021. Nesse período, cerca de 621 mil moradores do estado passaram a contar com um comprovante de residência associado ao fornecimento de água tratada. Para muitos, o documento representa não apenas o acesso a um serviço básico, mas também a possibilidade de formalizar direitos e acessar políticas públicas. O número integra o balanço dos quatro primeiros anos da concessão operada pela Águas do Rio.
Segundo dados da concessionária, a Tarifa Social, voltada para famílias em situação de vulnerabilidade, já atende aproximadamente 2 milhões de usuários, o que representa um aumento de 110% desde o início da operação. O benefício do desconto na fatura, de R$ 29, tem ajudado a aliviar despesas domésticas e ampliado o acesso a serviços essenciais para a saúde pública.
Especialistas atribuem esse avanço ao processo de concessão decorrente do leilão da Cedae. A Águas do Rio é responsável pelo abastecimento de água e pelos serviços de coleta e tratamento de esgoto em 27 municípios fluminenses, com contrato válido por 35 anos.
Entre os beneficiados está Vanessa de França, de 43 anos, moradora do Morro do Amor, em São João de Meriti. Ela não escondeu a emoção ao conseguir fazer o cadastro da sua residência na Tarifa Social e obter acesso ao seu comprovante de residência durante uma ação itinerante da Águas do Rio no seu bairro.
“Eu precisava de um comprovante no meu nome para resolver tudo que estava travado: abrir conta no banco, conseguir benefícios e até fazer matrícula dos meus filhos. Estava esperando por essa ação há muito tempo e finalmente consegui. É um alívio enorme”, comentou.
Reduzindo desigualdades históricas
O subsídio cruzado é modelo adotado pela concessionária, que integra o grupo Aegea Saneamento, para avançar com os serviços de água e esgoto no estado. A modelagem estabelecida pelo contrato de concessão utiliza a receita obtida em áreas com maior capacidade de pagamento para financiar obras e tarifas mais baixas em regiões de menor renda. A proposta busca reduzir desigualdades históricas e garantir que o saneamento alcance quem mais precisa.
Segundo o Marco Legal do Saneamento, o Brasil deve universalizar o acesso até 2033, com 99% da população abastecida por água tratada e 90% com coleta de esgoto. Desde o início da operação, em 2021, a Águas do Rio já investiu R$ 5,1 bilhões em melhorias que beneficiaram 10 milhões de pessoas. Até 2033, estão previstos R$ 19 bilhões em investimentos, parte de um total que deve chegar a R$ 40 bilhões ao fim da concessão.
Avançando com saneamento no estado
Na Baixada Fluminense, região marcada pela carência de infraestrutura, os resultados do trabalho da concessionária também começam a aparecer. Em São João de Meriti, 123 mil moradores passaram a contar com abastecimento regular após a instalação de dezenas de sistemas de bombeamento. Júlia Santana, do bairro Parque Araruama, lembra bem o antes e o depois.
“Chegamos a ficar semanas sem água em casa, mas, com as melhorias e a bomba instalada no pé do morro, agora temos pressão suficiente para encher a caixa sem depender da vizinhança nem usar equipamento elétrico”, diz.
Ainda na região, em Japeri e Queimados, R$ 750 milhões estão sendo aplicados em obras de esgotamento sanitário, que incluem 700 quilômetros de redes coletoras e a construção da futura Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Queimados. A unidade vai tratar o esgoto de 270 mil pessoas e evitar que 51 milhões de litros de dejetos cheguem por dia à Bacia do Guandu, manancial que abastece 80% da Região Metropolitana.
Baía de Guanabara também mostra sinais de recuperação
Os avanços no abastecimento, na inclusão social e nas intervenções estruturais também têm repercussões diretas no meio ambiente, especialmente na Baía de Guanabara, que historicamente reúne parte dos impactos da falta de coleta e tratamento de esgoto na Região Metropolitana.
Nos últimos quatro anos, a Águas do Rio modernizou sistemas, restaurou redes antigas e intensificou a fiscalização de ligações clandestinas, impedindo que 127 milhões de litros de esgoto cheguem diariamente à baía, o equivalente a 53 piscinas olímpicas de água contaminada. As melhorias já aparecem nos relatórios do Inea, com avanços na balneabilidade de praias como Flamengo, Glória e Botafogo. Em São Gonçalo, uma nova rede evita o despejo de esgoto no Rio Alcântara, e em Mesquita, obras em Chatuba e Edson Passos impedem que 15 milhões de litros de água poluída cheguem ao ecossistema.
A recuperação ambiental da Baía de Guanabara não aparece apenas em documentos técnicos. Ela já é percebida no cotidiano de quem vive e observa o ecossistema de perto. O biólogo e presidente do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, afirma que a mobilização da população, somada às melhorias recentes de saneamento, abriu um novo ciclo para a relação dos cariocas com a orla. Segundo ele, praias antes consideradas impróprias passaram a receber visitantes, esportistas e escolas de natação, devolvendo vida aos espaços e fortalecendo a economia local.
“Hoje vejo a população envolvida e consciente de que a Baía de Guanabara ainda está viva. Depois de tantas reportagens sobre tartarugas e sobre a Praia do Flamengo, as pessoas falam disso, se interessam. E o mais marcante é ver a Praia do Flamengo cheia no domingo, algo que achei que nunca veria. O mesmo com a Praia de Botafogo, onde filmei a água clara e pude mergulhar, outro cenário que jamais imaginei. A biodiversidade sempre esteve ali, mas a água turva escondia tudo. Agora, com a água mais limpa, ela aparece com força, exuberância, e toda a sociedade agradece”, afirma.

