Os 3º sargentos da Polícia Militar Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, e Cleiton Serafim Gonçalves, de 42 anos, ambos lotados no Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), morreram nesta terça-feira durante a megaoperação conjunta das polícias Civil e Militar no Complexo da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. Além deles, outros dois policiais civil e mais de 50 suspeitos foram mortos em uma megaoperação — já considerada a mais letal da história do Rio.
Informações da polícia apontam que pelo menos três policiais do BOPE foram baleados e socorridos e dois foram baleados e morreram durante o confronto.
Documentos obtidos pelo GLOBO, mostram que, em fevereiro de 2024, ambos os agentes constavam na lista oficial de sargentos matriculados no Curso Especial de Formação de Sargentos à Distância (CEFS/EAD/2023), divulgado pela Diretoria-Geral de Ensino e Instrução (DGEI).
O policial Heber também participou do 8º Curso de Atirador de Precisão Policial (CAPP I) neste ano, realizado sob supervisão da Diretoria-Geral de Ensino e Instrução da PM, e tinha especialização em tiro de precisão.
Em outubro deste ano, o policial Cleiton tinha 40 anos. Ele participou do 2º e do 3º Curso de Extensão em Tiro de Apoio, mostrando especial interesse em técnicas avançadas de apoio tático.
Operação é a mais letal do Rio
Uma megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou quatro policiais mortos além de oito agentes feridos, na manhã desta terça-feira. De acordo com a Polícia Civil, 56 suspeitos foram mortos, dois deles da Bahia. Quatro moradores também foram atingidos. O objetivo da ação é cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV), 30 deles de fora do Rio, escondidos nos dois conjuntos de favelas, identificados pela investigação como bases do projeto de expansão territorial do CV. Até o fim da manhã, 81 pessoas foram presas e 42 fuzis foram apreendidos na ação, que mobiliza 2,5 mil policiais e também promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).
A operação marca uma mudança no padrão de enfrentamento entre as forças de segurança do Rio e as facções criminosas. Em uma demonstração inédita de poder bélico, traficantes utilizaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope, cenário típico de guerra. Para esse “bombardeio”, os criminosos acionam um gatilho mecânico ou elétrico que libera a carga enquanto mantêm o equipamento em voo, afastando-se sem se expor. Além disso, em outro sinal de uma escalada nos confrontos, o governo estadual declarou que não tem condições de atuar sozinho e que o conflito ultrapassou o âmbito da segurança pública tradicional.
— Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com Segurança Pública. É uma operação de Estado de Defesa. É uma guerra que está passando os limites de onde o Estado deveria estar sozinho defendendo. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com a segurança urbana, deveríamos ter um apoio maior e até das Forças Armadas. É uma luta que já extrapolou toda a ideia de Segurança Pública e que está na Constituição. O Rio está sozinho nessa guerra — disse o governador Cláudio Castro.
A declaração de Castro apontou para a necessidade de participação do governo federal, inclusive com possibilidade de acionamento das Forças Armadas. Segundo o governador, ele teve negado por três vezes o pedido que fez para ter ajuda de blindados da Marinha e Exército. Castro fez ainda um alerta para a possibilidade de forte tentativa de retaliação dos criminosos diante de tantos mortos e apreensões.
Integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que as declarações do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), de responsabilizar a falta de apoio federal pela crise de segurança, é um movimento político de Castro para antecipar a disputa eleitoral do ano que vem.
- Marcos Vinicius Cardoso Carvalho – policial civil da 53ª DP (Mesquita) que era conhecido como Máskara. Ele morreu no Hospital estadual Getúlio Vargas
- Policial civil da 39ª DP (Pavuna) – morto momentos após chegar ao Hospital Getúlio Vargas
- Dois policiais do Bope também morreram
- Três policiais civis – lotados na 38ª DP (Irajá), na 26ª DP (Todos os Santos) e na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE)
- Cinco policiais militares
- 56 suspeitos mortos, entre eles dois homens apontados como traficantes vindos da Bahia
- Quatro moradores
Um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi o primeiro a ser atingido durante o confronto. Ele estava numa região de mata conhecida como Vacaria e foi ferido de raspão, segundo a PM. O agente foi levado para o Hospital Central da corporação. Estão feridos ainda um morador em situação de rua que não foi identificados, e outros três moradores: Fernando Vinícius Lopes, Kelma Rejane Magalhães e Daniel Mello dos Santos. Kelma estava numa academia quando foi atingida na região dos glúteos. Todos têm estado de saúde estável.
Um dos presos é o operador financeiro de Edgard Alves de Andrade, o Doca, apontado como um dos principais chefes da cúpula do CV na Penha. O outro é Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quitungo, um dos braços armados de Doca.
Moradores dos conjuntos de favelas, formados por 26 comunidades, usam as redes sociais para relatar intensos tiroteios. Fogo foi ateado em barricadas e foi possível ver colunas de fumaça à distância. Policiais foram atacados por granadas lançadas por drones, afirmou o secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, em entrevista ao Bom Dia Rio. O telejornal mostrou ainda criminosos fugindo por uma área de mata. Ônibus foram usados como barricadas e linhas tiveram que ser desviadas. Unidades de saúde e educação tiveram o funcionamento suspenso.
A ação que visa a capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados e combater a expansão territorial do CV acontece após de mais de um ano de investigações. Segundo o Gaeco, são cumpridos 51 mandados de prisão expedidos contra traficantes que atuam na região, e um total de 67 pessoas denunciadas pelo crime de associação para o tráfico, além de três homens denunciados também por tortura.
De acordo com os promotores, Doca é a principal liderança do CV no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul e César Maia, na Zona Sudoeste, e Juramento, na Zona Norte, algumas delas recentemente tomadas da milícia. A denúncia do MPRJ aponta ainda que exercem liderança no CV Pedro Paulo Guedes, conhecido como Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão.
“Eles emitem ordens sobre a comercialização de drogas, determinam as escalas dos criminosos nas ‘bocas de fumo’ e nos pontos de monitoramento, e ordenam execuções de indivíduos que contrariem seus interesses”, afirma o Gaeco em nota. A denúncia diz ainda que, por estar perto de algumas das principais vias expressas do Rio e ser ponto estratégico para o escoamento de drogas e armamentos, o Complexo da Penha se tornou uma das principais bases do projeto expansionista do CV, especialmente em direção a comunidades da região de Jacarepaguá, na Zona Sudoeste carioca.
Participam também da operação desta terça-feira, chamada de Contenção, policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) e das unidades operacionais da PM da capital e da Região Metropolitana. A Polícia Civil mobilizou agentes de todas as delegacias especializadas, das distritais, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência.
É usado ainda aparato tecnológico, como drones, dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.
