A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, nesta terça-feira (28), teve um planejamento de 60 dias e contou como chamado “Muro do Bope”, uma estratégia usada na área de mata anexa às favelas. Funcionou da seguinte forma: outros batalhões se posicionaram nas entradas das favelas e foram subindo, para “empurrar” os traficantes para a região sem moradias, e conhecida como rota de fuga dos criminosos. Chegando à área de mata, os traficantes encontraram um paredão formado por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
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O secretário de Polícia Militar, Marcelo Menezes, explicou que a ação foi planejada com análise de informações de inteligência e de cenários. O comandante da PM ainda disse que quem quis se entregar foi preso.
— Incluímos a incursão de tropas do Bope para a parte mais alta da Serra da Misericórdia criando um muro do Bope, fazendo com que os marginais fossem empurrados para a área mais alta pelas outras incursões. Nosso objetivo principal era proteger as pessoas de bem da comunidade. A maior parte do confronto se deu na área de mata, onde a nossa tropa estava disposta, e foi uma opção dos marginais — diz ele.
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A megaoperação, que deixou ao menos 119 mortos, sendo 115 suspeitos de serem traficantes e quatro policiais militares e civis, foi detalhada pelas polícias nesta quarta-feira (29). Com 113 presos e 118 armas apreendidas, a operação é considerada o maior baque na história do Comando Vermelho.
— A operação foi o maior baque que o Comando Vermelho já tomou em sua história, desde a fundação na década de 1970. Foi uma grande perda de armas, drogas e lideranças — disse Felipe Curi, secretário de Polícia Civil.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que levar o confronto para a área de mata da favela foi uma estratégia para preservar vidas inocentes e que “a alta letalidade era previsível, mas não desejada”. O secretário ainda repetiu a fala do governador Cláudio Castro (PL) e disse que as únicas vítimas foram os policiais mortos na operação.
— Optamos por deslocar o contato com os criminosos para a área de mata, onde eles efetivamente se escondem e atacam os policiais. A opção foi feita para preservar a vida dos moradores. Tivemos um dano colateral pequeno, quatro pessoas feridas inocentes feridas, sem gravidade. Não utilizamos aeronave para não expor os policiais que estavam na área de mata. Essa alta letalidade que se verificou durante a operação, ela era previsível, mas, obviamente, não era desejada — disse.
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Para Santos, todos os mortos que não foram os policiais são criminosos.
— Todo planejamento foi feito para retirar o conflito da área edificada da comunidade porque lá tem muitas pessoas inocentes. Quando retiramos isso, diminuímos a chance de ter uma pessoa inocente ou morador em uma mata fechada. Até pelo horário era difícil ter alguém que não estava a serviço do tráfico naquela mara fechada. Por isso, temos a base para dizer que os 115 mortos são criminosos. A gente não consegue ver o inocente com roupa camuflada ou colete balístico.
O secretário de Polícia Civil Felipe Curi exibiu vídeos gravados pelas câmeras corporais de agentes feridos durante os intensos confrontos. Ele seguiu a linha do governador Cláudio Castro e criticou o governo federal, citando uma fala do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) desta semana sobre traficantes serem também vítimas de usuários. Lula se desculpou pela fala no dia seguinte. Ele também citou uma postagem do rapper Oruam, filho de Marcinho VP, que afirmou que “se tirar o fuzil da mão, existe um ser humano”.
— Hoje em dia tudo é vítima. O traficante outro dia passou a ser vítima do usuário. E o policial está sendo tratado como vilão, o policial é o herói — afirmou Curi.
Curi também afirmou que um possível emprego da Força Nacional não é adequado nessas operações, já que a tropa não seria especializada e “teve que ser resgataram sempre que se aventuraram a entrar em comunidade”. O delegado ainda defendeu que em áreas conflagradas, quanto mais trabalhos de inteligência “mais confrontos irenos ter”.
— Eu desafio qualquer um aqui chamar Scotland Yard, CIA, quiser chamar o Mossad, quer chamar o FBI, pode chamar quem for, até a NASA, não vai fazer o que nós fazemos — completou Curi.
Nesta quarta-feira, dezenas de familiares e parentes entraram na mata em busca de mais corpos. Ao ser questionado sobre o motivo das polícias Civil e Militar não ajudarem na retirada do corpo da mata, o secretário Victor Santos respondeu:
— Não ajudaram porque não sabiam da existência deles. Quando acontece confronto em uma área de mata, muitos baleados acabam adentrando ainda mais buscando ajuda e a gente não consegue atender essa demanda. Naquelas condições, é impossível realizar qualquer outra ação além de preservar a sua própria vida. Todos aqueles retirados na madrugada eram criminosos que a polícia sequer sabia da existência deles — disse Cesar, que foi completado pelo delegado Carlos Antônio Luiz Oliveira, subsecretário de planejamento da Polícia Civil:
— A polícia tem seus protocolos para retiradas de corpos. O policial tem que comunicar a civil, acionar a delegacia de homicídio, fazer uma perícia de local e só depois liberar o corpo. Não foi isso que foi feito. Os familiares retiraram os corpos e só depois o poder público foi acionado — disse o delegado.

 
			 
			
 
			 
		 
		 
		