Rio terá 300 guardas municipais armados em janeiro: ‘a Força Municipal não é bico e não é hora extra’, diz delegado diretor do grupo

Tempo de leitura: 10 min




Nomeado na última quarta-feira como o primeiro diretor-geral da Divisão de Elite da Guarda Municipal, batizada de Força Municipal, o delegado Brenno Carnevale, de 35 anos, deixou o comando da Secretaria de Ordem Pública (Seop) para já acompanhar a fase de preparação do novo pelotão. Com foco em “grandes centros urbanos”, a promessa é que os 660 agentes das duas primeiras turmas da guarda armada — selecionados entre os integrantes que já compõem o quadro da GM — estejam nas ruas até o carnaval do próximo ano, com “grande possibilidade” de que as primeiras áreas de atuação sejam as do Centro e da Zona Sul do Rio, conforme detalha Carnevale, em entrevista ao EXTRA.
Do turismo ao medo: facções impõem regras e restringem circulação em Itatiaia, Valença e outras cidades do Sul Fluminense
Ex-jogador: Laudo do IML aponta alterações de equilíbrio em ex-jogador do Botafogo que atropelou quatro pessoas
Que armamentos serão usados pela Força Municipal?
Temos a contratação já encaminhada das pistolas Glock, em quantidade suficiente para suprir as duas primeiras turmas. São armas que têm uma comprovada eficiência e um mercado vasto nos órgãos de defesa. Acreditamos que, assim, conseguimos equipar a tropa com equipamento de qualidade.
Será uma arma por guarda?
Não vai ter necessariamente uma arma por agente. Temos um quadro de reserva de armamento, pensado por conta do dia a dia de uma força armada, com manutenção e reparo. Precisamos contar com essa “gordura”.
Eles poderão levar o armamento para casa?
Essa foi uma questão superada pela legislação, quando aprovada no parlamento municipal, que indicou que será permitido ao agente fazer o transporte da arma. Isso será devidamente estruturado quando ele estiver formado, a depender da base onde estará, da residência que ocupa e até de uma decisão pessoal do agente, porque pode optar por deixar a arma acautelada no trabalho. A arma de fogo é apenas um componente de uma questão maior: a decisão do Supremo Tribunal Federal, que permite que a Guarda Municipal passe a exercer atividades de policiamento preventivo, o que obviamente desemboca na necessidade de emprego de arma de fogo.
Esses agentes devem trabalhar em dupla?
A formação policial, em nível nacional, é sempre de, no mínimo, dois agentes fazendo patrulhamento juntos, a pé, em motocicleta ou numa viatura.
Os crimes também são cometidos com fuzis no Rio. Acha que vai conseguir ficar de igual, para contê-los?
O foco do agente da Força Municipal são áreas com manchas criminais de roubos e furtos de rua. Em nenhum momento vai trabalhar para recuperar território tomado pelo crime organizado ou fazer frente ao sequestro territorial que esses indivíduos fazem com fuzis e drones antiaéreos. Vamos fazer policiamento preventivo contra o problema de roubo e furto em áreas previamente definidas que são, em regra, centros urbanos.
Veja também: Reunião entre CV e Celsinho da Vila Vintém selou criação de app do crime na Vila Kennedy visando expansão para Rocinha
Além do Leblon, as outras bases serão em Piedade e Inhoaíba, duas áreas com questões de segurança. Vê risco das unidades serem atacadas para pegar armas?
Não. Estamos desenvolvendo uma engenharia própria para esse armazenamento, que ainda não é uma questão posta em todas as bases. A gente trabalha com o fator surpresa. O que posso garantir é que, em todos os locais onde a Divisão de Elite tiver armazenamento de material bélico, garantiremos a segurança desse material.
Brenno Carnevale, delegado de Polícia Civil e diretor-geral da força municipal
Marcelo Theobald
Quais serão as áreas e as datas para o início da Força?
A previsão é que os primeiros 300 agentes estejam prontos para estar nas ruas servindo a população em janeiro de 2026, e, até o carnaval, provavelmente já tendo os 660 completos. O local onde o efetivo será empregado tem a ver com estratégia, inteligência e uso de dados, avaliados e reavaliados o tempo inteiro. Mas acredito que é uma grande possibilidade começar pelo Centro e pela Zona Sul, porque a gente tem visto um aumento expressivo de crimes de furto e roubo nesses locais.
Quantos agentes na rua por turno? Quais serão os turnos?
Vou olhar a mancha criminal, que é espacial, temporal, periódica. Locais em que o roubo e o furto acontecem de quinta a domingo, das 18h às 23h, não precisam necessariamente ter um agente baseado nesse local pela manhã. Teremos uma escala de 12 por 36 horas, com um emprego inteligente, controlado pelo uso da câmera e do GPS. Temos certeza de que vamos alcançar bons resultados na redução dos crimes de furto e roubo, inclusive, como bem falou o prefeito Eduardo Paes, permitindo a liberação de certas partes dos órgãos policiais para cuidarem de assuntos que têm no seu DNA, como combater o crime organizado e o domínio territorial por milícia, tráfico e narcomilícia.
Todo mundo começa a trabalhar com câmera?
Nossa perspectiva é que, no dia 1, todos os agentes da Força Municipal já estejam nas ruas com a câmera corporal em pleno funcionamento.
É possível convocar guardas para trabalhar na folga?
A Força Municipal não é bico, não é RAS, não é hora extra. É o serviço ordinário do agente que passar a integrá-la. Portanto, esse agente não trabalhará na folga, e o nosso objetivo é que ele tenha a sua capacidade de descanso preservada.
Vídeo: Influenciador preso em operação contra jogos de azar grava dentro de cela e posta nas redes
Vão conseguir acompanhar se agentes estão usando o celular em serviço?
Sim. Estamos em fase final de modelação desse sistema de controle, que terá a possibilidade de monitoramento em tempo real dos agentes na rua, com possibilidade do supervisor abrir a imagem da câmera (de quem está na rua). O agente da Força Municipal estará terminantemente proibido de fazer uso de celular durante o serviço, a não ser que seja para efetivamente cumprir uma missão inadiável em prol do seu trabalho de segurança, que exige atenção.
A Força vai começar em ano eleitoral. Vai ter disputa de territórios com a PM?
Ao longo desses últimos anos, organizamos grandes eventos, como os shows do “Todo Mundo no Rio”, réveillons, carnavais de rua, final de Libertadores, G20, Brics. E em todos os momentos houve absoluto diálogo institucional entre as forças de segurança, municipais, estaduais e federais. Inclusive, no Compstat (modelo de segurança de Nova York, em que o Rio irá se basear) existe a possibilidade de participação de órgãos municipais, mas também de órgãos externos, justamente as polícias, o batalhão da área, a delegacia da área, do Ministério Público. Isso vai servir para qualquer ano: 2025, 2026, 2027, 2028…
Há conversas com o Estado para não baterem cabeça no policiamento?
Evidente. Temos reuniões encaminhadas sobre a própria Divisão de Elite com o Ministério Público, com as forças policiais, e certamente o nosso planejamento vai passar por um diálogo institucional dentro do município e com órgãos de outros entes federativos, federais e, principalmente, estaduais de segurança.
Existe a preocupação de, ao contratar e treinar temporários, possa ter uma “milícia armada” ao fim do contrato?
Com relação a desvio de conduta, isso serve para qualquer agente público, mas da área de segurança principalmente: teremos ouvidoria e corregedoria fortes e autônomas, protocolo de operação, canais de denúncias. Vamos ter proatividade de investigação desses órgãos, tudo para tornar muito difícil a vida daquele indivíduo que, porventura, resolva se desvirtuar do código de conduta do agente que compõe a Divisão de Elite da GM.
No treinamento da Força Municipal há preocupação com direitos humanos?
O nosso curso de formação vai ser ministrado pela Polícia Rodoviária Federal e pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), órgão de formulação de políticas públicas e pedagógicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Na nossa grade curricular, que está praticamente finalizada, estão as disciplinas de direitos humanos e de direitos humanos aplicados na prática policial, o que inclui abordagens, gerenciamento de crise e preservação dos direitos. Acreditamos que a câmera corporal, dentro desse sistema de controle, é também uma proteção para o agente. Vamos trabalhar para que esse agente esteja bem equipado, bem treinado, bem remunerado, com a convicção de que o curso vai torná-lo apto a entregar um serviço eficiente e que respeite o cidadão.



Conteúdo Original

Compartilhe este artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *