Republicanos e democratas pressionam governo Trump após revelação de ataque contra sobreviventes no Caribe: ‘Crime de guerra’

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Deputado republicano Mike Turner manifestou preocupação com as recentes operações no Caribe — Foto: Eric Lee/The New York Times


Parlamentares republicanos e democratas passaram a pressionar no domingo o governo de Donald Trump por explicações sobre a crescente campanha militar dos Estados Unidos no Caribe, após a imprensa americana revelar que oficiais teriam realizado um segundo ataque para matar sobreviventes de uma embarcação apontada por Washington como suspeita de narcotráfico — uma ação que, segundo os políticos, pode configurar crime de guerra se confirmada. A pressão representa um avanço por parte dos republicanos, que passaram grande parte do ano acatando as decisões do presidente americano e se abstendo de exercer fiscalização sobre suas ações — um sinal de crescente desconforto com a legalidade das operações no Caribe e no Pacífico.

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Comissões lideradas por republicanos que supervisionam o Pentágono prometeram realizar uma “fiscalização rigorosa” dos ataques americanos, após a publicação da reportagem do Washington Post na última sexta-feira. A matéria afirma que o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, havia dado uma ordem verbal para neutralizar todos a bordo das embarcações suspeitas. Segundo o jornal, após um ataque em 2 de setembro deixar sobreviventes na água, um comandante ordenou uma segunda investida para cumprir a determinação de Hegseth.

O secretário, por sua vez, classificou a reportagem como “fake news (notícia falsa), fabricada e inflamatória”. No X, Hegseth repudiou a reportagem — sem, porém, negá-la diretamente — e defendeu as ações dos militares, afirmando que as autoridades sempre deixaram claro que os ataques aos barcos foram planejados para serem “letais e cinéticos”. “Todos os traficantes que matamos são afiliados a uma Organização Terrorista Designada”, escreveu ele.

Imagem divulgada pelo secretário da Guerra dos EUA, Pete Hegseth, de barco afundado pelos EUA no Pacífico — Foto: Arte/ O GLOBO

O senador democrata Tim Kaine disse à emissora americana CBS News que, se o relatório apresentado na reportagem fosse preciso, o ataque “configuraria um crime de guerra” e que a revelação apenas intensificou as dúvidas já existentes entre os legisladores sobre a operação. Na rede CNN, o senador Mark Kelly, também democrata, concordou com as afirmações de Kaine.

— Há preocupações muito sérias no Congresso sobre os ataques aos chamados barcos de narcotráfico no Caribe e no Pacífico — afirmou Kaine. — Mas isso está completamente fora de qualquer discussão feita com o Congresso, e há uma investigação em andamento.

No domingo, o presidente americano, Donald Trump, saiu em defesa de Hegseth, dizendo acreditar “100%” em seu secretário de Defesa. Trump sugeriu que “não gostaria” de um segundo ataque que matasse sobreviventes, reiterando que Hegseth havia negado essa versão.

— Eu não gostaria que isso tivesse acontecido, não uma segunda vez — afirmou Trump, acrescentando que o governo vai analisar o assunto.

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— Se isso aconteceu, seria muito sério e claramente ilegal — afirmou o deputado republicano Mike Turner, referindo-se ao suposto segundo ataque americano, em entrevista ao programa Face the Nation, da CBS.

O senador democrata Chuck Schumer, líder da minoria, pediu que Hegseth divulgasse “as gravações completas e sem cortes para que o povo americano possa ver por si mesmo”.

As investigações conduzidas pelas comissões de Serviços Armados da Câmara e do Senado representam o escrutínio mais rigoroso até o momento do Congresso sobre a crescente ofensiva militar do governo Trump no Caribe, realizada sem a aprovação ou consulta dos congressistas.

Horas depois da publicação da reportagem do Post, na última sexta-feira, os senadores Roger Wicker, presidente republicano do Comitê de Serviços Armados, e Jack Reed, principal democrata do comitê, disseram que haviam “encaminhado questionamentos” ao Departamento de Defesa. “Realizaremos uma supervisão rigorosa para apurar os fatos relacionados a essas circunstâncias”, escreveram eles.

Senador Roger Wicker é um dos republicanos que expressou preocupação com a forma como o Departamento de Defesa está lidando com as embarcações no Caribe — Foto: Tierney L. Cross/The New York Times
Senador Roger Wicker é um dos republicanos que expressou preocupação com a forma como o Departamento de Defesa está lidando com as embarcações no Caribe — Foto: Tierney L. Cross/The New York Times

Já no sábado, em uma declaração conjunta, o republicano Mike Rogers e o democrata Adam Smith disseram que estavam “comprometidos em fornecer uma supervisão rigorosa” dos ataques a barcos e que estavam “tomando medidas bipartidárias para obter um relato completo da operação em questão”.

Os Estados Unidos reforçaram sua presença militar no Caribe com o objetivo de pressionar a Venezuela. Autoridades do governo Trump afirmaram que estão tentando deter o tráfico de drogas e que os 21 ataques a embarcações, que mataram mais de 80 pessoas desde o início de setembro, fazem parte de um conflito armado com os cartéis de drogas.

‘Limite que jamais deveria ultrapassar’

Os democratas têm criticado repetidamente os ataques a barcos, classificando-os como ilegais e comparando-os a execuções extrajudiciais. O senador democrata Mark Kelly, por exemplo, fez parte de um grupo de seis parlamentares que gravaram um vídeo lembrando às tropas que elas não eram obrigadas a aceitar ordens ilegais.

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No domingo, Kelly, que está sendo investigado pelo Pentágono por suas declarações no vídeo, disse ter “sérias preocupações sobre qualquer pessoa nessa cadeia de comando ultrapassar um limite que jamais deveria ultrapassar”.

Já os republicanos da extrema direita, incluindo o senador Markwayne Mullin, um aliado de Trump, desconsideraram a reportagem do Post e defenderam o governo. Mullin, que é membro do Comitê de Serviços Armados do Senado, disse que o presidente estava “protegendo os Estados Unidos ao ser muito proativo”.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/12/01/republicanos-e-democratas-pressionam-governo-trump-apos-revelacao-de-ataque-contra-sobreviventes-no-caribe-crime-de-guerra.ghtml

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