O governo do Reino Unido anunciou nesta terça-feira que poderá reconhecer o Estado palestino em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, caso o governo de Israel não dê “passos concretos” para resolver a guerra em Gaza, a começar por um cessar-fogo, e insista na política de anexações na Cisjordânia, consideradas ilegais pela lei internacional. Caso o premier Keir Starmer cumpra sua promessa, ele seguirá os passos da França e será o segundo país do G-7 a anunciar o reconhecimento em menos de uma semana.
Segundo uma declaração oficial, Starmer discutiu o assunto com seu Gabinete nesta terça-feira, e cobrou passos concretos de Israel “para pôr fim à situação terrível em Gaza, para chegar a um cessar-fogo, deixar claro que não haverá anexação na Cisjordânia e se comprometa com um processo de paz de longo prazo que leve à Solução de Dois Estados”.
“Starmer reiterou que não há equivalência entre Israel e o Hamas e que nossas exigências ao Hamas permanecem: que eles devem libertar todos os reféns, assinar um cessar-fogo, aceitar que não desempenharão nenhum papel no governo de Gaza e se desarmar”, diz o comunicado. “Sempre dissemos que reconheceremos um Estado palestino como uma contribuição a um verdadeiro processo de paz, no momento de máximo impacto para a solução de dois Estados.”
Na semana passada, a França anunciou que reconhecerá o Estado palestino em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, se tornando o primeiro país do G-7 — o grupo de sete das maiores economias do planeta — a fazê-lo, e se juntando a uma crescente lista de nações, como Irlanda, Espanha e Noruega, que confirmaram o reconhecimento em maio. A decisão foi duramente criticada pelos EUA e por Israel, mas justificada pelo presidente Emmanuel Macron como parte do “compromisso histórico” de seu país com o Oriente Médio, e ligada à “necessidade urgente” de encerrar a guerra na Faixa de Gaza.
Embora em tom mais comedido, o Reino Unido também faz cobranças a Israel por causa da catástrofe humanitária no enclave. Há alguns dias, o país, que alega ter suspendido suas vendas de armas aos israelenses, se juntou a outras 27 nações em um duro comunicado no qual cobrou um cessar-fogo imediato e condenou “o fornecimento de ajuda gota a gota e a matança desumana de civis, incluindo crianças, que procuram satisfazer as suas necessidades mais básicas de água e comida”.
No fim de semana, Londres anunciou que lançaria cargas de ajuda humanitária, por via aérea, sobre Gaza, com os primeiros envios realizados nesta terla-feira. Outros países e o Exército de Israel também começaram a lançar as cargas sobre o território, mas organizações de ajuda humanitária e a ONU afirmam que esse formato, além de ineficaz, é perigoso para a população em terra — relatos independentes apontam que alguns dos contêineres caíram sobre barracas, deixando feridos.
Mas com a promessa, ou ameaça, de reconhecimento, o Reino Unido parece dobrar a aposta, e põe em xeque um discurso de décadas de Washington: para os EUA, uma eventual solução de Dois Estados precisa ser obtida por israelenses e palestinos, e reconhecimentos unilaterais mais atrapalham do que ajudam nos esforços pela paz. Na semana passada, ao comentar a decisão da França, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, disse que ela era um “presente para o Hamas”.