Regular criptoativos ajudará a combater o crime organizado

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O Banco Central, em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo


O Banco Central (BC) fez bem ao aumentar o controle sobre o mercado de criptomoedas. Não é novidade que, em razão das características semelhantes ao dinheiro em espécie e da facilidade de armazenamento digital, elas se tornaram o recurso preferido para lavagem de dinheiro. Não haverá como asfixiar as finanças de organizações criminosas a cada dia mais sofisticadas sem dispor de mecanismos eficazes para vigiar os criptoativos. Pelas novas regras, para prestar serviço no Brasil, as empresas que operam nesse mercado deverão obter autorização formal do BC e cumprir diversos requisitos de transparência, em tudo similares aos já exigidos de bancos e instituições financeiras. Investimentos feitos por brasileiros em criptomoedas no exterior também terão de ser informados.

O Brasil está na liderança latino-americana na adoção de criptoativos, de acordo com o Relatório de Geografia das Criptomoedas 2025, da empresa de monitoramento Chainalysis. Nos 12 meses encerrados em junho, os negócios por aqui movimentaram o equivalente a US$ 318,8 bilhões, cerca de R$ 1,8 trilhão, pouco mais que o dobro do período anterior. Na América Latina, continente onde operam organizações criminosas poderosas, cerca de US$ 1,5 trilhão circulou em criptomoedas entre julho de 2022 e junho de 2025.

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Além da facilidade para lavar dinheiro — já que as transferências são anônimas —, as criptomoedas se tornaram o meio mais usado para pagar chantagem e resgate de sequestros de bancos de dados e sistemas corporativos por quadrilhas especializadas. O rastreamento das transações é especialmente difícil, pois tudo se dá em instantes, preservando a identidade das partes. Daí a necessidade de controlar serviços de carteiras virtuais como se fossem bancos guardando dinheiro vivo.

As novas regras do BC se inspiram em princípios adotados na União Europeia (UE) que têm se revelado eficazes para coibir esquemas de lavagem de dinheiro. Relatório da Europol, a agência de polícia da UE, registra o crescimento do uso de criptomoedas e a existência de um sistema bancário completo, com cartões de débito capazes de realizar saques em caixas eletrônicos. Plataformas que facilitam a troca de moedas são usadas como forma de dificultar o rastreamento. É um mercado que já nasceu globalizado.

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Numa operação exemplar em 2023, a Europol desbaratou um esquema que lavou € 2,73 bilhões em bitcoins para grupos variados — traficantes de drogas, sequestradores de bancos de dados e sistemas de empresas, traficantes de armas, grupos fraudadores de cartões de crédito. A operação envolveu autoridades de Bélgica, Alemanha, Polônia, Suíça e Estados Unidos. O responsável pela criação da plataforma que permitia as operações era um vietnamita de Hanói. Todos os negócios transcorriam sob absoluto anonimato.

Além do BC, Polícia Federal e outros órgãos de controle como a Receita Federal precisarão manter conexões com o exterior para fazer um acompanhamento efetivo dos crimes cometidos nesse mercado. Emitidas sem autoridade central e de modo independente de países ou organizações globais, as criptomoedas são sem dúvida uma das maiores inovações no universo financeiro dos últimos tempos. Por isso mesmo exigem atenção redobrada das autoridades. A regulação pelo BC é apenas o primeiro passo.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2025/11/regular-criptoativos-ajudara-a-combater-o-crime-organizado.ghtml

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