Qual a beleza do futuro? Especialistas fazem retrospectiva e indicam os tratamentos que merecem apostas

Tempo de leitura: 9 min


Ao longo dos séculos, olhar-se no espelho significava confrontar-se com o belo e também com aquilo que talvez quiséssemos esconder ou mudar. Dos corpos com proporções perfeitas da Grécia Antiga às formas voluptuosas do século XVIII; dos traços “naturais” das divas do cinema dos anos 1950, caminhando para a magreza e a pele corada de sol como ideais das últimas décadas, nunca a beleza foi tão posta à mesa. E nunca estivemos tão insatisfeitas. Com os avanços da tecnologia e o uso da inteligência artificial, nos vemos agora diante de procedimentos focados em diminuir ainda mais os efeitos do tempo, do boom da harmonização facial e da “glass skin”, tendência coreana que exalta uma pele lisa e luminosa. Com tanto em curso, para onde caminha a beleza do futuro?

“Cada vez existirão mais testes genéticos específicos, individualizados para a pele. E as tecnologias estão voltadas para intensificar o colágeno e melhorar a estrutura natural da derme”, acredita a dermatologista Juliana Neiva. “O futuro é high tech e focado em regeneração e naturalidade”, diz ela. Para Maria Bussade, o movimento “slow aging” traz como lema menos correção e mais cuidado. “Há uma transição para esse caminho, ainda com abusos e transformações. Mas a harmonização já vem caindo por terra. A beleza do futuro será viva, autêntica e profundamente conectada à saúde da pele”, explica a dermatologista.

A dermatologista Juliana Neiva, do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação

O aspecto natural, sem intervenções e que transmite jovialidade na medida, parece ser o olimpo dessa nova beleza. Mas, para chegarmos até aqui, houve muita História. Mesmo sendo impossível datar quando os cuidados com a pele começaram, há registros de que Cleópatra banhava-se em leite de cabra com mel. No início do século XX, uma cútis clara, traços suaves, boca pequena e um ar de mistério eram os requisitos para uma mulher ser considerada bela. “Greta Garbo e Clara Bow simbolizavam essa estética. A maquiagem era discreta, quase proibida em certos círculos sociais. Já a silhueta oscilou entre o corpo curvilíneo da virada do século e a androginia dos anos 1920”, relembra o dermatologista Alessandro Alarcão. Os recursos eram artesanais, e as mulheres lançavam mão de máscaras caseiras, gelo no rosto e água de rosas. “Algumas esteticistas já faziam massagens faciais, máscaras de parafina e até eletroterapia rudimentar. Era o começo da estética como um ritual de cuidado, mais do que como uma intervenção”, explica o médico.

Com a chegada da Era de Ouro de Hollywood, a beleza virou espetáculo, e surgiu o padrão ultrafeminino: curvas acentuadas, cintura marcada, seios generosos e cabelo volumoso. Marilyn Monroe é o símbolo maior, ao lado das atrizes Elizabeth Taylor e Ava Gardner. “O bronzeado começa a ser valorizado, muito por influência de Coco Chanel. Sem querer, a estilista apareceu bronzeada na Riviera Francesa e lançou moda”, aponta a dermatologista Juliana Piquet. “O lifting facial dava os primeiros passos fora dos bastidores médicos. Ainda era restrito, caro, e envolvia um segredo que poucas admitiam ter.”

A dermatologista Maria Bussade, de São Paulo — Foto: Divulgação
A dermatologista Maria Bussade, de São Paulo — Foto: Divulgação

Até então, os cuidados existentes eram pensados para mulheres brancas. A dermatologista Katleen Conceição diz que os protocolos para as negras se resumiam ao clareamento da pele e ao alisamento dos cabelos. A maquiagem tampouco respeitava a diversidade de tons. “Protocolos seguros para mulheres negras consolidaram-se só nos anos 2000. Antes, elas corriam o risco de manchas, hiperpigmentações pós-inflamatórias, queloides e queimaduras”, afirma a médica, que é especialista em peles negras. Os primeiros protetores solares e os cremes antienvelhecimento apareceram entre as décadas de 1950 e 1960. O conhecimento científico do pós Segunda Guerra Mundial levou as primeiras cirurgias estéticas aos consultórios. “Liftings faciais, rinoplastias e correções discretas eram feitos de forma silenciosa e caríssima. Também nesta época, peelings químicos foram estudados com fórmulas mais seguras e embasamento científico”, explica Juliana Piquet.

O protetor solar, aliás, teve um papel fundamental em meados dos anos 1980 e 1990. Quem não se lembra da moda de “torrar” ao sol, sem proteção, nas praias brasileiras? “Não era o senso comum usar filtro. Graças às campanhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), no início dos anos 2000, o produto se tornou mais popular”, conta Juliana Neiva. É sabido que a exposição prolongada ao sol sem qualquer barreira é um dos principais fatores para o avanço do envelhecimento da pele. “Nós advogamos a favor da fotoproteção, porque não adianta gastar rios de dinheiro com lasers e outros protocolos pegando sol”, adianta Regina Carneiro, membro da diretoria da SBD.

A dermatologista Juliana Piquet, do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação
A dermatologista Juliana Piquet, do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação

A internet, no final dos anos 1990, ajuda na democratização dos procedimentos estéticos no Brasil. Mais do que isso: alça a negócio protocolos, fórmulas mirabolantes e um padrão de beleza muitas vezes inalcançável. A toxina botulínica e os preenchimentos viram febre e, a custos reduzidos, criam a aura de uma aparência perfeita, sem rugas e marcas de expressão. “O crescente número de clínicas especializadas e publicidade médica permitiram mais acesso à informação. Por outro lado, as redes sociais intensificaram a comparação e a harmonização facial”, diz a dermatologista Aline Vieira, do Rio de Janeiro. Exemplos como os da cantora Anitta e os de Kris e Kylie Jenner, matriarca e filha da família Kardashian, acenderam, recentemente, o debate sobre os limites da busca por um “novo” rosto.

A dermatologista Paula Bellotti, do Rio de Janeiro — Foto: Márcia Faisol
A dermatologista Paula Bellotti, do Rio de Janeiro — Foto: Márcia Faisol

“Há uma procura por satisfação instantânea, achando que a segurança emocional pode vir da aparência. As pessoas tentam se encontrar no lugar errado”, diz Aline. O etarismo, no entanto, como lembra a dermatologista Paula Bellotti, é ainda bastante impositivo às mulheres, aliado à padronização da simetria. “Há exagero, perda de identidade e exaustão. São muitas cobranças. Encarar o envelhecimento não é olhar para trás e querer ter 30. É saber como melhorar com a própria idade.”

A dermatologista Aline Vieira, do Rio de Janeiro — Foto: Rafael Hansen
A dermatologista Aline Vieira, do Rio de Janeiro — Foto: Rafael Hansen

Segundo os especialistas, o básico, antes de qualquer procedimento, é fazê-lo com um médico. “Ele entende a anatomia e a fisiologia da pele, como é feita a absorção das substâncias. Recebemos muitos pacientes que têm problemas com quem não é profissional”, alerta Regina. Os protocolos para o futuro incluem técnicas mais refinadas. “Ultrassom microfocado, radiofrequência fracionada, lasers com tratamentos mais rápidos e personalizados”, destaca Juliana Piquet. Em breve, surgirão também novas medicações, com pesquisas já em andamento na Inglaterra, adianta Paula Bellotti. “Elas vão diminuir a glicação (processo natural que pode danificar proteínas como colágeno e elastina), a inflamação da pele e também melhorar os danos causados nos processos de envelhecimento no DNA.” E a personalização, com uma estética regenerativa, será a palavra-chave: “Células-tronco, bioestimuladores, enfim, uma medicina de precisão, com a parte genética, será aplicada ao tratamento de diagnóstico”, finaliza Maria Bussade.

O futuro da beleza é ela ser só sua.



Conteúdo Original

Compartilhe este artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *