Problemas no cartão Jaé persistem após um mês de uso exclusivo- Agência de Notícias

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Saldo insuficiente. Passageiro no Terminal Gentileza se depara com mensagem ao usar o Jaé: multiplicam-se queixas de que cartões, mesmo recarregados, não estão sendo aceitos nos validadores — Foto: Júlia Aguiar

Com informações do Extra. Há um mês, o Jaé se tornou o cartão exclusivo nos transportes municipais, mudando a rotina de milhões de passageiros. A implantação do sistema foi promessa do prefeito Eduardo Paes, que defendia o fim da “caixa-preta” dos ônibus. O objetivo era retirar dos empresários o controle da bilhetagem.

Depois de idas e vindas, a prefeitura assumiu o sistema. Hoje, sabe que o Jaé foi usado em 67,8 milhões de embarques nos últimos 30 dias. No entanto, nem todos os dados estão disponíveis, e muitos usuários ainda enfrentam dificuldades com o cartão.

Problemas no cartão Jaé: filas e falhas de integração

Na estação Sete de Setembro, ao embarcar em um trem do VLT, a jornalista Angela Tostes percebeu que a integração não funcionou. Como resultado, pagou a passagem mesmo tendo direito ao benefício.

— Reclamei com uma fiscal, que confirmou que não era para ser cobrado, mas disse que o problema está acontecendo com frequência. Muitas pessoas estão reclamando — contou.

Quem enfrenta problemas procura atendimento em lojas do Jaé. Na segunda-feira (1º), no Terminal Gentileza, em São Cristóvão, a espera chegou a mais de duas horas.

O técnico em segurança do trabalho Lucas Eduardo foi um dos atendidos. Ele relatou que suas recargas não apareceram no cartão. Sem solução, foi embora.

— Trata-se de uma quebra de confiança entre o serviço público e o cidadão que paga por ele. O transporte coletivo é um direito e precisa prezar por transparência, acessibilidade e eficiência — desabafou.

Situação semelhante viveu a doutoranda em Química Ana Carolina de Oliveira, que perdeu R$ 100 em créditos.
— Como eu vou para casa? — questionou, cogitando pedir carona ao motorista do ônibus.

Espera. Usuários com problemas no Jaé enfrentam fila de mais de 2 horas em um dos postos de atendimento da empresa — Foto: Júlia Aguiar
Espera. Usuários com problemas no Jaé enfrentam fila de mais de 2 horas em um dos postos de atendimento da empresa — Foto: Júlia Aguiar

Jaé promete solução, mas problemas continuam

A empresa orienta que os passageiros priorizem o cartão preto, já que o saldo pode ser acompanhado em tempo real no aplicativo. “Nos casos pontuais em que a integração não for registrada corretamente, o valor é estornado após análise”, informou em nota. Em caso de problemas, a recomendação é procurar atendimento pelo app ou em postos presenciais.

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), o primeiro mês do Jaé teve 2,2 milhões de usuários únicos, dos quais 759 mil com direito a gratuidade (idosos, pessoas com deficiência, doentes crônicos e estudantes). Desde 5 de julho, esse público passou a usar apenas o Jaé.

Ao todo, 3,8 milhões de pessoas estão cadastradas no sistema. Outros 191 mil usuários compraram o cartão verde, disponível em máquinas de autoatendimento. A média diária de embarques em dias úteis foi de 2,8 milhões.

Dados retirados do ar

Apesar da promessa de transparência, a prefeitura restringiu o acesso a informações do “Painel do Sistema de Bilhetagem Eletrônica”. Até a semana passada, era possível comparar os dados de agosto de 2025 com os de 2024.

Esse levantamento mostrava forte aumento de passageiros desde que o Jaé virou bilhete único. O caso mais emblemático foi o das vans, que passaram de 700 para 6,6 milhões de embarques em um ano. A própria secretaria admitiu que o salto de quase mil por cento era um erro.

Depois disso, a prefeitura passou a divulgar apenas os dados dos ônibus, somando Jaé e Riocard. Segundo a pasta, a decisão foi tomada para evitar interpretações equivocadas.

Por outro lado, outros painéis de transparência continuam desatualizados e só apresentam dados do primeiro semestre. A promessa é de atualização ainda nesta semana.

Linhas mais usadas

Entre os dados ainda disponíveis, a linha 371 (Praça Seca—Praça da República) aparece como a mais usada em agosto, com 880 mil embarques. Esse número considera tanto Jaé quanto Riocard, que ainda é aceito em casos de beneficiários do Bilhete Único Intermunicipal.

Na sequência estão as linhas 908 (Deodoro—Bonsucesso), 606 (Gentileza—Engenho de Dentro), 629 (Irajá—Saens Peña), 309 (Central—Alvorada), 565 (Tanque—Gávea) e 457 (Abolição—Copacabana), todas na faixa dos 600 mil passageiros.

Os serviços 232 (Lins—Castelo) e 426 (Usina—Jardim de Alah) completam o top 10. Já as linhas executivas, os conhecidos “frescões”, tiveram queda de 32% na comparação com agosto de 2024.

Análise dos especialistas

O engenheiro Licínio Machado Rogério, coordenador do Fórum de Mobilidade Urbana do Rio, avaliou como os dados poderiam ser melhor usados:
— Não temos informações sobre onde os passageiros descem, mas sabemos onde embarcam. Quando há integração, é possível supor que o usuário saiu de um modal e entrou em outro. Esses dados podem ajudar a prefeitura no planejamento — explicou.

Atualmente, os horários de maior movimento são entre 7h e 8h da manhã e entre 17h e 18h da tarde. Os ônibus concentram 65,6% dos embarques, seguidos por BRT (18,21%) e vans (11,85%). Já o pagamento por QR Code foi usado em 28% das viagens.



Conteúdo Original

2025-09-02 11:14:00

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