A prisão do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias (MDB), realizada na manhã desta quarta-feira (3), precisará passar pela análise do plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A medida decorre do que estabelece a Constituição estadual, que condiciona a manutenção da prisão de parlamentares ao aval da Casa de Leis.
Nos bastidores do Poder Legislativo Estadual, especialmente no entorno do Largo da Carioca, a situação já provoca movimentação intensa. O cenário envolve não apenas o futuro do suplente, mas também a posição de Rafael Picciani (MDB), atual secretário estadual de Esporte e Lazer, que detém a titularidade da cadeira. Caso Picciani deixe o cargo no governo de Cláudio Castro (PL) e volte ao Parlamento, TH perderia automaticamente o mandato e seria tratado judicialmente como um cidadão comum.
Operação integrada
A captura ocorreu em um condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, durante ação conjunta da Polícia Federal, do Ministério Público estadual e da Polícia Civil. A operação inclui 18 ordens de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão, além do bloqueio de bens e valores que ultrapassam R$ 40 milhões.
Entre os alvos estão integrantes do Comando Vermelho atuantes no Complexo do Alemão, além de policiais militares, um delegado da PF e um ex-secretário com passagem por gestões municipais e estaduais. Foram presos também Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, apontado como traficante, e Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, assessor de TH Joias.
Acusações contra o parlamentar
De acordo com a apuração, o político utilizava o cargo para beneficiar grupos criminosos. As investigações indicam sua participação na intermediação de negociações de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Alemão. Há também indícios de que empresas ligadas a ele eram usadas para lavagem de dinheiro.
Consta ainda que a esposa de Índio do Lixão teria ocupado função em seu gabinete por indicação direta. Outro ponto levantado pelos órgãos de investigação envolve a suposta articulação para transferir lideranças do Comando Vermelho para presídios federais, além da facilitação de informações sigilosas, importação de armamento e aquisição de dispositivos tecnológicos no exterior, especialmente no Paraguai e na China.
Outros envolvidos
A operação judicial, com ordens expedidas pela Justiça Federal e Estadual, também resultou no afastamento de servidores e na suspensão de empresas investigadas. Entre os principais alvos estão lideranças do Comando Vermelho e agentes públicos de diferentes esferas.
Reação do MDB
O MDB decidiu retirar TH Joias de seus quadros. O presidente estadual da sigla, Washington Reis, anunciou a expulsão imediata, alegando que o suplente já não acompanhava a orientação política da legenda em votações na Alerj. A nota oficial afirma que o partido não poderia manter vínculo com um parlamentar investigado por tráfico internacional, corrupção, movimentação ilícita de valores e comércio de armamentos destinados a facções.
Trajetória de TH Joias
Aos 36 anos, nascido no Morro do Fubá, na Zona Norte do Rio, TH iniciou a vida profissional como ourives, atividade herdada do pai. Ainda jovem, assumiu a administração da joalheria da família, localizada em Madureira, ampliando o negócio e conquistando espaço entre personalidades do futebol e da música, como Neymar, Vini Jr., Adriano e Ludmilla.
Em 2022, obteve 15.105 votos como suplente pelo MDB. Assumiu o posto em junho de 2023, após a morte de Otoni de Paula Pai e a permanência de Rafael Picciani na Secretaria de Esportes. Porém, sua trajetória política foi marcada por antecedentes criminais: entre 2017 e 2018, chegou a ser preso sob acusações de corrupção policial, tráfico de drogas e armas, além de repasse de informações a grupos criminosos. À época, conseguiu habeas corpus e respondeu em liberdade
