Como informou há pouco Lauro Jardim, Lobo causou controvérsia na reunião desta terça-feira ao declarar que votava como diretor e também como presidente (cargo que tem voto de minerva), mesmo após seu antecessor já ter votado na condição de presidente no mês passado. Com isso, e com o voto contrário do diretor João Accioly, Lobo conseguiu transformar um placar de 2 a 0 a favor da OPA em um resultado de 3 a 2 contra a operação.
A explosão das ações da Ambipar, que levou a área técnica da CVM a exigir a realização de uma OPA, teve como base uma série de operações realizadas pelo Banco Master, de Daniel Vorcaro. Na ata da última reunião da CVM sobre o caso, a área técnica “pontuou o interesse do Banco Master nas operações narradas, inicialmente por meio dos três fundos (Esna, Kyra e Texas) e, posteriormente, como beneficiário final apenas do Kyra e do Texas, robustecendo seu patrimônio com a valorização expressiva das ações de emissão da Ambipar.”
A tese dos técnicos da CVM é que, em coordenação com o fundador da Ambipar, os fundos geridos por uma companhia do grupo do Banco Master realizaram operações que buscavam valorizar os papéis da Ambipar com o objetivo expresso de inflar o patrimônio do banco.
Antes da votação de hoje, o ex-presidente João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola, embora tenham votado pela realização da OPA, entendiam que apenas o fundador e controlador da Ambipar, Tércio Borlenghi Júnior, deveria arcar com os custos. (A área técnica divergia, argumentando que o fundo Esna — que inicialmente pertencia ao grupo do Master e depois passou para as mãos de Nelson Tanure — também deveria participar da operação.)
Em maio, Lobo já havia surpreendido em reunião do colegiado sobre a proposta de acordo do Banco Master e de Vorcaro para encerrar processo sancionador relacionado a operações com cotas de um fundo imobiliário em 2018. Lobo, que é relator, havia pedido vistas em dezembro do ano passado. No entanto, ao retomar o tema em maio, causou surpresa ao não apresentar voto algum. O caso segue parado por um novo pedido de vistas, feito por Accioly.
O temor de observadores da CVM é que o caso Ambipar abra precedente para o caso Master, já que João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola votaram contra a celebração de acordo.
No caso Ambipar, a OPA é um mecanismo de proteção aos investidores minoritários e obriga aqueles que adquirirem fatias relevantes de uma empresa a oferecer condições semelhantes aos demais acionistas. Com o cavalo de pau de Lobo, a OPA só sairá caso algum investidor que entenda ser ela necessária apresente recurso ou entre na Justiça tentando derrubar a decisão.