A Polícia Civil do Rio deflagrou, nesta quinta-feira, a Operação Refinaria Livre para desarticular uma associação criminosa responsável por extorsões sistemáticas contra empresas que atuam no entorno da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense. A operação reúne agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-CAP), da Baixada Fluminense (DRE-BF) e da 60ª DP (Campos Elíseos), e tem como alvos um grupo liderado pelo traficante Joab da Conceição Silva, o Joab, integrante do Comando Vermelho — e por um pastor que se apresentava como líder comunitário e religioso, mas atuava como intermediador do tráfico nas ações de coação empresarial. Três homens foram presos até o momento.
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Os agentes cumprem mandados de prisão temporária e de busca e apreensão em endereços na Baixada, expedidos a partir de investigação conduzida pela DRE-CAP. Segundo a polícia, a ação mira profundar provas, impedir a coação de testemunhas, frear a interferência criminosa sobre empresários e trabalhadores. A investigação revelou ainda que empresas instaladas na área industrial da Reduc vinham sendo obrigadas a pagar valores mensais ao tráfico sob ameaça de incêndio de caminhões, agressões a funcionários, interrupção violenta das atividades produtivas e impedimento de acesso às instalações industriais.
Pastor atuava como emissário direto das ordens de Joab
De acordo com o inquérito, um pastor ligado a facção visitava pessoalmente as empresas, apresentando-se aos funcionários como representante comunitário, mas impondo regras ditadas diretamente por Joab da Conceição Silva. Entre elas estavam a proibição de permanência de caminhões nos pátios e a imposição de contratação de moradores específicos ligados ao tráfico. Além disso, o religioso também era responsável por “negociar” acordos amigáveis com os empresários sob a condição de evitar represálias.
A polícia reuniu relatos formais de representantes empresariais, termos de declaração e atas do Ministério do Trabalho, revelando que companhias chegaram a interromper atividades por diversos dias devido às ameaças do grupo criminoso. As investigações apontam ainda que sindicatos e associações de fachada estavam sendo instrumentalizados pela facção para pressionar as empresas e ampliar o poder de coerção.
Controle de contratações e infiltração no polo industrial
A quadrilha, segundo a Polícia Civil, infiltrou-se até no setor de Recursos Humanos das empresas —responsáveis por contratação de funcionários—, controlando ilegalmente processos seletivos. Integrantes do grupo obrigavam os empresários a efetivar candidatos sem qualificação, cobravam vantagens indevidas em troca de vagas e determinavam a contratação de parentes e aliados do tráfico, garantindo presença e controle direto dentro do polo industrial.
Um dos casos identificados foi o da companheira de Joab: ela teria sido contratada por uma das empresas “sem critérios técnicos e por imposição territorial”, poucos dias antes do ataque criminoso à 60ª DP de Campos Elíseos, em fevereiro de 2025. A ofensiva contra a delegacia foi ordenada e comandada pelo próprio Joab.
Pastor preso com granadas e munição
O pastor que ajudava a facção já vinha sendo monitorado pelas forças de segurança. No início deste mês, ele foi preso em Betim (MG) durante a Operação Aves de Rapina, que mirava grupos criminosos que faziam armazenamento ilegal de armas.
No carro dele, agentes encontraram uma pistola, seis granadas artesanais, munições e valores em espécie. Ele admitiu ter transportado os explosivos de Duque de Caxias até Minas Gerais para realizar ações de intimidação e interrupção de serviços na Refinaria Gabriel Passos (Regap), sob o pretexto de atender a um “movimento grevista” organizado por sindicatos alinhados ao grupo criminoso.
No veículo também estava o presidente de uma associação de empresas de transporte de combustível, o que, segundo os investigadores, evidencia a participação direta de sindicatos e entidades formais na estrutura criminosa montada para sustentar o esquema de extorsão.
Para a Polícia Civil, a apreensão de explosivos reflete o modus operandi da quadrilha, que recorria a ameaças de atentados contra empresas e trabalhadores como instrumento de controle. Esse modelo de atuação, segundo os investigadores, “representava risco direto ao polo industrial da Reduc e ao transporte nacional de combustíveis”.
A operação segue em andamento, com policiais nas ruas para cumprir os mandados restantes, identificar outros envolvidos.

