A Subprefeitura dos Grandes Complexos, criada em janeiro deste ano pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), nasceu com um desafio imenso: levar a rotina de serviços básicos — comum nas áreas centrais — para as grandes favelas do Rio. Sob o comando de Marli Peçanha, a única subprefeita mulher da atual gestão, a aposta tem sido em um modelo de “gestão porta a porta”, focando em parcerias e na escuta atenta aos moradores.
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O objetivo é transformar espaços antes esquecidos em lugares de pertencimento, saúde e direitos. As ações têm se desdobrado em mutirões de limpeza, revitalização de praças e, mais recentemente, na instalação de polos de tecnologia e cultura. No entanto, a própria subprefeitura reconhece que as ações são apenas o ponto de partida e precisam ser expandidas para mais localidades, inclusive dentro dos complexos já atendidos.
A subprefeita Marli Peçanha explica que o cuidado com o lixo, como ocorre no Complexo da Penha, é, na verdade, um cuidado com a vida, mas reforça que a conscientização é contínua.
— Quando o lixo se acumula, atrai ratos, mosquitos e aumenta o risco de doenças. E quando ele é jogado em locais indevidos, pode causar deslizamentos e alagamentos — disse.
A subprefeita destaca, porém, que a atenção não pode ser apenas pontual.
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— A presença do poder público tem que ser permanente, não pode ser só quando chove, quando tem enchente, quando aparece na televisão.
Além das ações de rotina, a subprefeitura articulou um grande evento no Complexo do Jacarezinho, reunindo diversos órgãos municipais em um “mutirão de cidadania” que ofereceu vacinação, exames preventivos, orientações sobre saúde bucal e até “aulões” de dança.
O trabalho conjunto de vários órgãos, como as Secretarias Municipais de Saúde e a Defesa Civil, também chegou em mutirão no Complexo de Manguinhos, levando serviços de saúde e cidadania, como relata a moradora Daniela Carvalho:
— Eu tinha dúvida sobre o uso correto de aparelhos elétricos em casa para evitar risco de incêndio. Pude conversar com a equipe da Defesa Civil e aprendi como agir para proteger minha família em uma emergência.
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À frente da tarefa
Educadora, gestora pública e mulher negra, Marli Peçanha carrega no olhar a firmeza de quem conhece de perto os desafios das comunidades. À frente da Subprefeitura dos Grandes Complexos, ela lidera uma das regiões mais difíceis do Rio com sensibilidade, escuta ativa e a certeza de que o poder público precisa estar presente todos os dias.
Marli também preside o Conselho Municipal de Favelas (COMFAV), órgão que aproxima a prefeitura dos territórios populares. Com uma trajetória marcada pela educação e pela luta por dignidade, ela acredita que o caminho para transformar a cidade passa pelo investimento nas pessoas. Única mulher entre os subprefeitos, ela destaca o olhar cuidadoso e atento que as mulheres trazem à gestão pública.
— A mulher tem um olhar diferente, mais sensível, mais atento ao detalhe. E isso faz muita diferença. A gente enfrenta muita coisa, principalmente por estar em um ambiente ainda muito masculino. Mas quando a gente vê o resultado, quando um problema é resolvido, tudo vale a pena.
A agenda da subprefeitura é ambiciosa: levar melhorias a territórios mais vulneráveis e facilitar o acesso a serviços e oportunidades.
— Nosso foco é continuar levando dignidade para as pessoas. Investir em saneamento, em mobilidade, em educação, mas também em pertencimento. Quero fazer com que o morador sinta que o bairro dele é importante.
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O que já foi feito
Complexo da Penha
Do lixo na porta ao ecoponto do parque proletário
O Complexo da Penha, berço do samba e da capoeira com história que remonta à época da escravidão, sofre há anos com o descarte irregular de resíduos, um problema que vai além da estética e atinge diretamente a saúde. A subprefeitura, em parceria com a Comlurb, atacou o problema com uma solução que uniu infraestrutura e autoestima.
Em vez de apenas instalar caçambas, a ação implantou ecoponto com apelo artístico, um local estruturado para receber e armazenar temporariamente resíduos recicláveis. O Ecoponto do Parque Proletário, que também atende a Vila Cruzeiro, foi revitalizado com pinturas que retratam a própria cultura local, como a Igreja da Penha, transformando um ponto crítico de lixo em um mural de pertencimento. Além disso, a região recebeu a instalação de 103 novos contêineres.
Complexo do Jacarezinho
Manutenção e cuidado básico
No Jacarezinho, uma das favelas mais tradicionais da Zona Norte, o foco da subprefeitura foi na infraestrutura urbana e na manutenção das áreas de lazer. Em parceria com a Comlurb, Conservação, RioLuz, Rio Águas e Fundação Parques e Jardins, foram realizados mutirões de limpeza de ruas, capina, iluminação pública, poda de árvores e ações de tapa-buraco que trouxeram a sensação de cuidado de volta ao território.
Foram reformadas e revitalizadas as praças Tancredo e da Paulinha, além do Campo do Abóbora, que ganhou troca de bancos, mesas e pintura do guarda-corpo e da arquibancada.
Dona Marilene Luiza Alves, de 68 anos, manicure e moradora do Jacarezinho, sente que a comunidade está voltando a viver, mas não esquece dos anos de abandono.
— Estou achando tudo maravilhoso! Quando a gente sai na rua, já dá para ver a diferença. Os postes arrumados, os buracos tapados, as praças limpas. As coisas estão ficando muito boas, as ruas mais bonitas e bem cuidadas. Foi um mutirão mesmo! Eu vejo como um grande avanço, a favela está mais organizada, mais limpa e com mais vida. Eu só tenho a agradecer pelo cuidado com a nossa comunidade.
Complexo de Manguinhos
Imóvel ocioso que virou escola de futuro
No Complexo de Manguinhos, o impacto mais transformador veio por meio de uma parceria que resgatou um imóvel público ocioso para reescrever o futuro de jovens da comunidade. A Subprefeitura dos Grandes Complexos cedeu o espaço para a Associação de Moradores Mandela 1 e o Grupo Cultural AfroReggae, que instalou ali o AfroGames, um programa de inclusão digital e formação profissional por meio de esportes eletrônicos. Com isso, um local antes subutilizado ganhou nova vida, passando a oferecer aulas gratuitas de games e inglês para jovens a partir de 11 anos.
Para o pai de um dos alunos do AfroReggae, essa iniciativa é um sopro de esperança. Douglas Santos Pereira, 52 anos, motorista, tem o filho de 11 matriculado no curso com orgulho.
— A gente está vendo a diferença! A Subprefeitura dos Grandes Complexos está presente, a comunidade está mais limpa, mais iluminada, e essa parceria com o AfroReggae mudou tudo. Antes era medo, hoje é cultura e educação. Meu filho faz aula de games e inglês, vem todo dia, até fora do horário! Essa parceria trouxe esperança e fez a gente voltar a acreditar num futuro melhor para os nossos filhos.
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/rio/noticia/2025/10/pasta-criada-em-janeiro-pela-prefeitura-tem-a-missao-de-levar-servicos-essenciais-aos-grandes-complexos-do-rio.ghtml
Pasta criada em janeiro pela prefeitura tem a missão de levar serviços essenciais aos grandes complexos do Rio
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