O que antes era sinônimo de paz, beleza natural e hospitalidade, hoje se converte em território dominado por facções criminosas. Os principais destinos turísticos do Nordeste brasileiro — como Porto de Galinhas (PE), Pipa (RN) e Jericoacoara (CE) — estão sob o jugo de organizações que transformaram o turismo em um dos braços mais lucrativos do crime organizado.
Essas facções, entre elas o Comando Vermelho, o Sindicato do Crime e a Trem Bala, impõem regras próprias, controlam o comércio local, vendem drogas abertamente nas praias e mantêm uma estrutura paralela de poder que desafia o Estado brasileiro.
Outros destinos como São Miguel dos Milagres (AL), Trancoso e Caraíva (BA) também apresentam presença crescente de facções.
Destinos turísticos dominados
Porto de Galinhas (PE)
– Facção dominante: Trem Bala / Comando do Litoral Sul
– Instalação de câmeras de vigilância pelas facções para monitorar moradores e turistas
– Proibição informal de contato com a polícia; agentes públicos precisam se identificar para entrar em comunidades
– Em 2022, um toque de recolher imposto pela facção paralisou a cidade
Pipa (RN)
– Facção dominante: Sindicato do Crime
– Triplo homicídio em plena Avenida Baía dos Golfinhos chocou turistas e moradores
– Facção impõe hierarquia rígida com “olheiros” e “vapores” para o tráfico de drogas
Jericoacoara (CE)
– Facção dominante: Comando Vermelho
– Assassinato de um turista de 16 anos, confundido com membro de facção rival, expôs a brutalidade do controle local
Turismo como motor do tráfico
A alta circulação de dinheiro em vilas turísticas — impulsionada por festas, consumo de drogas e turismo de luxo — tornou esses locais altamente lucrativos para o crime organizado. Uma única caderneta apreendida em Porto de Galinhas revelou movimentação de quase R$ 10 milhões por ano. Em Pernambuco, uma facção ligada ao PCC movimentou R$ 15 milhões com drogas sintéticas como LSD e ecstasy.
Expansão nacional e passividade governamental
O avanço das facções não se limita ao Nordeste. Segundo o Ministério da Justiça, 46 dos 88 grupos identificados operam nos nove estados nordestinos. A falta de controle nas fronteiras, a entrada indiscriminada de armas e a política de desencarceramento têm contribuído para a consolidação dessas organizações, que já atuam como verdadeiras empresas — com hierarquia, prestação de serviços e até tribunais do crime.
A legislação penal ultrapassada, aliada à ausência de reformas estruturais, agrava o cenário. Enquanto o governo federal mantém uma postura tímida, o Brasil se aproxima perigosamente da condição de narcoestado, onde o poder paralelo dita as regras e o Estado se torna mero espectador.
Armas, justiça paralela e cemitérios clandestinos
– Facções impõem “leis locais” que regulam desde som alto até disputas de vizinhos
– Tribunais do crime aplicam punições brutais, como decapitações com escopetas calibre 12
– Cemitérios clandestinos foram encontrados em manguezais, usados para ocultar execuções
O impacto na segurança nacional
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública revela que 16 das 20 cidades mais violentas do Brasil estão no Nordeste, com destaque para Maranguape (CE), Jequié (BA) e Cabo de Santo Agostinho (PE). A percepção de insegurança é crescente: 58% dos brasileiros acreditam que a criminalidade aumentou em suas cidades.
Um país à beira do abismo
O Brasil vive uma contradição alarmante: enquanto promove suas praias como paraísos tropicais, permite que o crime organizado se instale e prospere nesses mesmos locais. Sem ações contundentes, o país corre o risco de ver sua principal vitrine turística se tornar o epicentro da violência e da ilegalidade.
A pergunta que ecoa entre moradores, turistas e especialistas é:
Até quando o Estado vai assistir à transformação do Brasil em um narcoestado?
2025-07-29 07:31:00