Pai de jovem morto após contaminação em hemodiálise cobra justiça: “O sentimento é de raiva, estamos arrasados”

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“Ele lutou bravamente”, disse o gestor comercial Márcio Luiz, que esteve presente no Instituto Médico Legal (IML) de São Gonçalo na manhã desta terça-feira (9) para liberação do corpo do filho, o jovem entregador Bruno Rodrigues Ventura dos Santos, de 29 anos, morador de Maricá morto na noite de segunda-feira (8) após passar 18 dias em coma na UTI do Pronto Socorro Central de São Gonçalo.

Em entrevista à imprensa, Márcio deu detalhes sobre os últimos dias de vida do filho após a internação, ocorrida após uma sessão de hemodiálise realizada no dia 20 de agosto na clínica particular Nice Diálise, localizada no bairro São Miguel. O jovem foi contaminado com ácido peracético – uma fórmula química comumente usada na limpeza de equipamentos e materiais médicos. O ácido estava presente na máquina utilizada na hemodiálise.

“Durante essas três semanas, era um dia após o outro. A gente chegava um dia no hospital, ele estava melhorando; no outro, piorando. No último final de semana, por exemplo, ele estava melhor, mas chegou no domingo à noite e teve uma recaída muito grande. Ontem, quando chegamos para a visita, a pressão dele já estava muito baixa, e o médico falou que tudo que tentavam fazer não era suficiente para que ele conseguisse reagir. Estávamos lá quando a pressão zerou, pediram para sairmos um pouco do quarto; foi a pior cena que já vimos”, contou Márcio Luiz.

Márcio esteve no IML de São Gonçalo na manhã desta terça-feira (9) |  Foto: Kiko Charret


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Ainda de acordo com o pai, Bruno era um “adulto com coração de criança”, o que o tornava ainda mais especial para todos que o rodeavam.

“Uma pessoa ímpar, não fazia mal a ninguém. O negócio dele era o videogame, as motos que ele tinha […] Não saía pra noite, não bebia, não fumava, era uma criança grande, amava anime. O Bruno tinha 29 anos, mas o coração de criança mesmo. Estamos todos arrasados, mas vamos nos lembrar dele sempre rindo, porque até na clínica de hemodiálise ele era conhecido pelo sorriso”, afirmou Márcio, emocionado. 

Investigação

Os pais de Bruno relataram à Polícia Civil que o diretor técnico da clínica Nice Diálise admitiu a falha e informou que resíduos do ácido estavam presentes na máquina utilizada na hemodiálise de Bruno.

O caso, que aconteceu na manhã do dia 20 de agosto, é investigado pela Polícia Civil como lesão corporal por imperícia. Contudo, com a morte de Bruno, a tipificação do crime deverá ser alterada.

“A polícia está apurando, antes era lesão corporal, mas com a morte dele, passa para homicídio […] Tudo que eu tinha que fazer eu fiz, toda a parte de denúncia, delegacia, órgãos reguladores, então tenho certeza que junto à ajuda da imprensa, isso não vai ser esquecido. É muito clichê falar sobre querer justiça, mas é o que queremos, hoje meu coração é raiva pura […] mas eu sou uma pessoa muito tranquila, tenho mais uma filha para cuidar, uma esposa, mas realmente o sentimento é de raiva nesse momento”, disse o pai de Bruno Ventura.

Tratamento de hemodiálise

De acordo com Márcio Luiz, Bruno realizava o tratamento de hemodiálise – tratamento médico para remover resíduos, excesso de líquidos e toxinas do sangue, quando os rins não conseguem mais desempenhar essa função – na clínica de São Gonçalo há exatos um ano e um mês.

“Tudo sempre ocorreu de forma muito tranquila, normal. Durante todo esse tempo foi uma mesma enfermeira que tratava ele, muito dedicada. Só que nesse dia, eu não lembro se ela não foi, ou se chegou atrasada, e uma outra enfermeira ficou responsável pelo atendimento dele”, contou o pai da vítima, que informou ainda que Bruno estava na fila para a realização de transplantes há três meses, mas a incompatibilidade durante uma seleção impediu o procedimento cirúrgico.

“Os exames são muito caros, então tem muita gente que não tem condição de fazê-los para entrar na fila do transplante. A gente custeou todos esses exames para ele poder entrar e há três meses atrás conseguimos colocar ele na fila. E há um mês ele foi chamado para a seleção, para ver sobre compatibilidade, mas infelizmente o Bruno não estava “mais compatível” do que os outros”, explicou Márcio Luiz.

“O que estou fazendo é não querer que isso seja esquecido, para que não se repita”, completou o pai de Bruno Ventura.

Sepultamento

Na manhã desta terça-feira (9), a irmã de Bruno Ventura abriu uma vaquinha virtual para que a família pudesse arrecadar fundos para arcar com o sepultamento. Porém, no início da tarde, Márcio Luiz informou que a clínica particular Nice Diálise se ofereceu para arcar com os custos.

“Após consultar minha advogada, chegamos a conclusão de que isso é o mínimo a ser feito, não os eximindo das outras responsabilidades”, afirmou Márcio.

Ainda não há definição de data e horário para o enterro de Bruno, mas o mesmo será realizado em Maricá, cidade onde o jovem morava.



Conteúdo Original

2025-09-09 10:13:00

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