O velório do cantor, compositor e instrumentista Arlindo Cruz, que morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, será realizado neste sábado (9) na quadra do Império Serrano, em Madureira, Zona Norte do Rio. Além da cerimônia tradicional, a despedida terá um gurufim, uma roda de samba especial, cheia de emoção, festa e reverência, exatamente do jeito que Arlindo queria.
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Mas afinal, o que é um gurufim?
O termo, que pode parecer desconhecido para quem não é do mundo do samba, representa uma tradição ancestral que atravessou gerações e continentes. O historiador Luiz Antônio Simas explicou que o gurufim tem raízes na cultura africana trazida pelos escravizados para o Brasil. Era uma forma de driblar a morte: enquanto as pessoas cantavam e festejavam no velório, a morte “passava reto”, enganada pela energia da vida que ali pulsava.
“Chamamos de gurufim, ainda que a brincadeira não seja realizada, o velório com festa. O gurufim é uma das multiplas festas da morte que afirmam seu oposto complementar: a força da vida”, explicou no Instagram.
No mundo do samba, o gurufim virou sinônimo de homenagem sincera aos mestres que deixaram marcas eternas. Confira os velórios que também foram desse jeito:
Bira Presidente
Integrantes do Fundo de Quintal e do Cacique de Ramos tomaram seus instrumentos e começaram a cantar no velório de Bira Presidente. A primeira canção, como era de se esperar, marcou o tom da despedida: “O show tem que continuar”, lançada em 1988 pelo grupo. Depois, veio “A amizade” (2000), em que a existência do artista foi celebrada com gratidão. Fãs cantavam, estendendo CDs e instrumentos indígenas.
Sérgio Cabral
Pouco antes de o corpo do jornalista e escritor Sérgio Cabral deixar a sede náutica do Vasco, na Lagoa, na Zona Sul, e seguir para o Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária, onde foi cremado, em 2024, um grupo de ritmistas da Mangueira, que já estava de prontidão desde cedo, se postou ao lado do caixão levando nas mãos surdo, tamborim e pandeiro. Ao som dos primeiros batuques, parentes e amigos começaram a entoar “Meninos da Mangueira”, que Cabral compôs com Rildo Hora nos anos 1970. Foi o que bastou para que o clima de tristeza se transformasse numa emocionante e festiva despedida.
Monarco
O corpo de Monarco, presidente de honra da Portela e símbolo do samba, foi velado em dezembro de 2021, na quadra da Portela, em Oswaldo Cruz, Zona Norte do Rio. Em meio à presença de torcedores ilustres da escola e amigos do sambista, como Paulinho da Viola, Marisa Monte e Diogo Nogueira, uma grande roda de samba com canções de Monarco e da Portela tomou conta da quadra.
Beth Carvalho
O velório de Beth na sede do Botafogo, em 2019, se tornou uma roda de samba, com a presença de parentes, amigos e muitos sambistas, como Zeca Pagodinho, que tiveram na “Madrinha do Samba” uma grande incentivadora de suas carreiras. Ao som de “Andanças” e outros sambas marcantes, familiares, amigos e fãs fizeram uma despedida emocionante da cantora e compositora.
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O que é gurufim? Assim como em velório de Arlindo Cruz, despedidas de Bira Presidente e Beth Carvalho tiveram música
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