Diretriz internacional propõe mudanças no conceito e no diagnóstico da obesidade, sugerindo avaliação mais completa e tratamentos mais personalizados, com foco na saúde integral do paciente
A obesidade é hoje um dos maiores desafios da saúde pública global, sendo responsável por prejuízos na qualidade de vida de milhões de pessoas e pelo aumento do risco de diversas doenças, como diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares e até alguns tipos de câncer. Por muito tempo, o diagnóstico foi baseado apenas no Índice de Massa Corporal (IMC), uma medida obtida dos valores de peso e altura. Embora útil, esse método tem limitações: não distingue massa magra de gordura, não avalia a composição corporal e a distribuição da gordura e tampouco mede os impactos reais do excesso de gordura sobre a saúde.
O que muda com a nova diretriz
Um consenso global publicado em janeiro de 2025 na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology propôs uma revisão importante do diagnóstico de obesidade. Agora, além do IMC, a avaliação orienta uma análise mais global da saúde, incluindo critérios antropométricos e clínicos:
- Medida da circunferência da cintura
- Cálculo da relação cintura-quadril e cintura-altura
- Exames de bioimpedância ou densitometria para medir a quantidade de gordura corporal
- Avaliação da habilidade nas atividades do dia-a-dia
- Presença de sinais e sintomas que indicam impactos do excesso de gordura sobre órgãos e sistemas do corpo
Essa abordagem mais ampla permite um diagnóstico mais preciso e individualizado, evitando erros comuns do modelo baseado apenas no IMC, como classificar com obesidade pessoas que tem predomínio de massa muscular ou, ao contrário, subestimar casos de acúmulo de gordura que não aparecem na visão isolada do IMC.
Obesidade pré-clínica e clínica: entendendo as diferenças
A nova classificação divide a obesidade em dois conceitos principais:
- Obesidade pré-clínica: quando há excesso de gordura corporal e risco aumentado para doença, mas ainda sem prejuízos visíveis para os órgãos. Nesse estado, o foco é em medidas preventivas para evitar a progressão para obesidade clínica e doenças associadas e envolve mudanças no estilo de vida, reeducação alimentar e prática regular de exercícios físicos.
- Obesidade clínica: quando o excesso de gordura já afeta órgãos e provoca sinais e sintomas que comprometem a saúde e a funcionalidade. Este já é um estado de doença crônica e sistêmica. Nesse cenário, o tratamento imediato já está indicado, envolvendo, juntamente com mudanças do estilo de vida, o uso de medicamentos e, em casos específicos, cirurgia bariátrica, sempre com acompanhamento médico.
O IMC continua sendo útil, mas não é suficiente
Apesar das mudanças, o IMC não foi descartado. Ele continua servindo como um ponto de partida para triagem, mas a confirmação do diagnóstico depende da avaliação dos critérios antropométricos e clínicos. Essa abordagem amplia a visão sobre a saúde do paciente, deixando de focar apenas no peso e passando a considerar a funcionalidade do organismo como um todo.
A obesidade não é resultado de preguiça ou falta de força de vontade. É uma doença crônica, complexa e multifatorial que pode ser controlada com o tratamento adequado. A nova classificação contribui para quebrar estigmas e preconceitos, colocando o foco do tratamento no que realmente importa: melhorar a saúde integral, controlar as manifestações clínicas, diminuir os riscos e promover bem-estar.
O papel da nutrologia no cuidado com a obesidade
A Nutrologia, especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), tem papel central nesse novo cenário. O Médico Nutrólogo estuda a prevenção, o diagnóstico e os tratamentos das doenças causadas pelos nutrientes e pelo estilo de vida desequilibrado, tendo na obesidade, uma de suas principais áreas de atuação. O acompanhamento médico individualizado é essencial para definir a melhor estratégia para cada paciente e deve ter como objetivo principal a melhoria da saúde, não apenas o peso e o IMC.
A mensagem final é clara: o tratamento da obesidade vai muito além de alcançar um número específico na balança. Não é apenas sobre o peso. É sobre proporcionar mais saúde, autonomia e bem-estar. Mais importante que a perda de peso são as transformações e mudanças que o tratamento proporciona na vida das pessoas. Com uma abordagem completa, baseada em evidências científicas, é possível controlar a doença, evitar complicações e transformar vidas.
Dr. Ricardo Pacheco — CRM-SP 210952 | RQE 134452
Médico Nutrólogo