Nos últimos dias as redes sociais vêm sendo inundadas por uma onda de solidariedade dirigida à intérprete e apresentadora Wic Tavares. As mensagens partem de amigos, admiradores, das escolas de samba do Rio e de São Paulo, além da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Xande de Pilares está entre as pessoas que manifestaram apoio à cantora. “Por mais que eles tentem nos oprimir não vão conseguir”, diz o sambista em vídeo.
Wic conta que o ataque racista foi feito no começo desta semana. Num dos comentários no perfil que traz conteúdos da atração que ela apresenta na Band, “Bom dia favela”, um seguidor escreveu: “Uma macaca falante”. Outro seguidor escreve: “comenta aí o alojamento que o governo deu para mulheres negras, em baia de cavalo”. Ela disse que não tinha visto e foi alertada por uma admiradora que marcou seu nome na postagem. Feito o print, o passo seguinte foi preencher um boletim de ocorrência online. Na tarde desta quinta-feira, a artista se reuniu com seu advogado para saber que medidas tomar.
—Não é a primeira vez que essas ofensas chegam aos meus perfis nem aos trabalhos que eu faço. Dessa vez tirei print. Na segunda-feira estava no estresse de uma rotina de trabalho e da vida pessoal. Veio esse comentário e falei que não ia deixar passar, até porque já vi outras pessoas da minha família passando por isso, inclusive crianças. Meu afilhado, um menino de seis anos, já passou por isso. Foram num post do time de futebol que ele joga e fizeram o ofensas como essa. Não posso me silenciar diante disso. Tenho de dar exemplo. A gente não pode deixar que isso seja normalizado —desabafou.
Segundo Wic, o comentário foi feito na postagem de um vídeo de sua apresentação na TV. Ela chamava uma matéria que falava de um projeto social, quando o seguidor se achou no direito de se manifestar com uma ofensa racista. Ela diz que a manifestação foi gratuita, pois não teria dito nada que pudesse acender no seguidor o sentimento de ódio.
—Estava esperando um advogado para me auxiliar. Vou fazer uma reunião com ele agora para me auxiliar sobre os próximos passos. Saber o que eu posso fazer, já que foi um ataque feito pela internet e a gente sabe que pode ter partido de uma conta fake. Mas não quero que esse crime fique impune— disse, acrescentando que muitas vezes essas pessoas se valem do anonimato na internet para atacar.
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Wic disse que ficou feliz com as manifestações de apoio e que não vai descansar enquanto não levar esse caso adiante.
— Não fiz um post (falando sobre o assunto). Apenas compartilhei com minha família. As pessoas souberam e gerou essa comoção. Isso acontece diariamente com muitas pessoas, mas nem todo mundo tem essa rede de apoio nem vive num ambiente artístico ou trabalha num veículo que dê visibilidade. (Esse caso) furou a bolha e foi passando para as pessoas e quando vi tinha saído do nicho da minha galera e virado essa coisa toda.
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Como na transmissão da comemoração do Dia Nacional do Samba, a apresentadora sugeria que Virgínia Fonseca, rainha de bateria da Grande Rio, usasse meninos e meninas de comunidade para durante o carnaval divulgar sua marca, a WePink, muitos associaram o comentário com uma crítica. Isso fez surgir burburinhos de que os ataques teriam partido de fãs da influenciadora, mas Wic nege.
—Foi numa página que não tem nada a ver com carnaval. Não tem nada a ver com a Virgínia — garantiu.
Um outro caso de racismo relatado por Wic Tavares aconteceu num festival do qual participava. Ela conta que foi procurada por uma mulher que elogiou a sua beleza e veio com uma proposta de trabalho com estrangeiros. Como ela demonstrou uma certa hesitação, a interlocutora teria dito: “Não se preocupe. Eles não vão encostar em você, porque têm medo de pegar a melanina”.
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—Na hora não raciocinei. Mas depois vi que era errado. Eu não transmito nenhuma doença. Fiquei chocada de ver onde a ignorância pode levar as pessoas. Está entre os casos que mais me marcou.
Ela acredita que os ataques podem ter relação com o sucesso de algumas pessoas negra:
—Quando a gente começa a ter espaço e notoriedade essa galerinha, não seu porque motivo, cria asa e começa a nos atacar com esse tipo de ofensa. Não sei se é para desestabilizar. Mas acredito que eles ficam incomodados com o aumento da presença de de pessoas negras na TV. Sinto muito, mas essas pessoas têm de se acostumar, pois cada vez mais a gente vai estar tomando protagonismo nessa história. Por muitos anos a gente não teve, mas agora chegou nossa oportunidade.
A Polícia Civil informou que não localizou o registro online, mas disse que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) está ciente do ocorrido.
Wictoria Pereira Tavares, a Wic Tavares, destaque na disputa de samba-enredo para o Carnaval 2022 da Unidos da Tijuca, estreou como voz oficial no primeiro carnaval pós-pandemia da covid-19 na Marquês de Sapucaí, quando cantou ao lado do pai, Wantuir, à frente do carro de som da agremiação do Borel. No mesmo ano recebeu o Estandarte de Ouro como revelação, em cerimônia realizada no Morro da Urca.
No entanto, sua história com o carnaval começou bem antes. Aos seis anos de idade já frequentava a quadra da Unidos da Tijuca, sempre acompanhando o pai. Em entrevista à TV no desfile de 2005, aos oito anos, respondeu à repórter que a entrevistava que seria a futura puxadora da escola, num ato premonitório.
Mas, até chegar percorreu um longo caminho. Passou em 2013, ainda adolescente, pelo carro de som da Inocentes de Belford Roxo, acompanhou o pai em sua passagem pela Portela, em 2014 e 2015 e foi passista na São Clemente, cantora de apoio na Beija-Flor, Viradouro, Renascer, Acadêmicos do Tucuruvi e Estácio de Sá. Atualmente, além de apresentar o “Bom dia, Favela”, é embaixadora do Rio Carnaval e vocalista no grupo Melanina Carioca.

