Não deve haver trégua no combate ao crime organizado

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O ex-delegado Ruy Ferraz (à esquerda) foi responsável por indiciamentos de líderes do PCC; à direita, Marcola, chefe da facção — Foto: Reproduções


Na segunda-feira, o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes foi perseguido e alvejado a tiros depois de sair da Prefeitura de Praia Grande (SP), onde era secretário de Administração Pública. A identidade dos assassinos ainda não foi revelada, mas as circunstâncias sugerem o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC). Quando chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos da Polícia Civil paulista em 2006, Ferraz foi responsável por indiciar toda a cúpula da facção criminosa. Há menos de três semanas, uma força-tarefa incluindo Polícia Federal (PF), Receita Federal e Ministério Público de São Paulo realizou a maior operação de asfixia financeira contra o PCC. A execução no litoral paulista, em via movimentada e horário de grande circulação, foi aparentemente uma reação destinada a chocar a opinião pública e amedrontar quem investiga o crime organizado.

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Ante o assassinato covarde, o Estado precisa reagir de forma implacável. A principal medida a tomar é fortalecer os esforços para amputar os tentáculos do PCC e demais facções em diferentes esferas da economia e da política, promovendo sua asfixia financeira. Seria inaceitável esmorecer. Além disso, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve reforçar a busca pelos culpados do crime, mas agir com firmeza para evitar a truculência policial. É inegável que a maior parte da força policial é composta de profissionais sérios e destemidos, que se arriscam e respeitam as leis na defesa dos cidadãos. Mas o histórico recente justifica a preocupação. Em julho de 2023, um policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da PM paulista, também foi morto no litoral paulista. Nos meses seguintes, as mortes por ação policial na região foram objeto de denúncias de violações. Por fim, o governo paulista tem a missão de rever seu programa de proteção a agentes da ativa e também a aposentados.

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Ferraz tinha um currículo impar pelo combate ao PCC. Nos últimos tempos, preocupava-se com a própria segurança e a de seus familiares. Em entrevista ao GLOBO e à rádio CBN no final de agosto, afirmou estar desamparado. “Tenho proteção de quem? Moro sozinho, vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Para mim é muito difícil. Se fosse um policial da ativa, teria estrutura para me defender. Hoje não tenho nenhuma”, disse. Em 2023, ele foi vítima de assalto, quando saía com a mulher de um restaurante.

Seu assassinato foi a segunda execução no estado em menos de 12 meses. No fim do ano passado, o delator do PCC Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros ao sair do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o mais movimentado do Brasil. Três PMs envolvidos com o PCC foram denunciados pelo assassinato e outros 14 por trabalhar na escolta de Gritzbach. A contaminação das forças policiais pelo crime precisa ser extirpada.

As principais facções criminosas em ação no Brasil estão preocupadas com a atuação conjunta dos governos federal e estaduais. Com trabalho de inteligência meticuloso, as investigações chegaram até o coração financeiro do país, a Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Também desvendaram fraudes e crimes no mercado de combustíveis. Há muito mais a fazer. A melhor forma de honrar a memória de Ferraz e a de todos os policiais mortos em confronto com criminosos é não haver trégua no combate obstinado — e dentro da lei — ao crime organizado.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2025/09/nao-deve-haver-tregua-no-combate-ao-crime-organizado.ghtml

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