Microsoft se aproxima de acordo com a OpenAI para garantir acesso contínuo à tecnologia de IA do ChatGPT

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A Microsoft está em negociações avançadas para firmar um acordo que pode garantir acesso contínuo à tecnologia crítica da OpenAI — um passo que removeria um grande obstáculo aos esforços da startup de inteligência artificial (IA) criadora do ChatGPT para se tornar uma empresa com fins lucrativos.

As empresas discutem novos termos que permitiriam à Microsoft usar os modelos mais recentes da OpenAI e outras tecnologias, mesmo que a startup declare ter alcançado seu objetivo de desenvolver uma forma mais avançada de IA conhecida como inteligência artificial geral (AGI), segundo duas pessoas familiarizadas com as negociações. Pelo contrato atual, atingir a AGI representa um marco em que a Microsoft perderia alguns direitos sobre a tecnologia da OpenAI.

As negociações têm ocorrido com regularidade, e um acordo pode ser fechado nas próximas semanas, de acordo com três pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg, que pediram anonimato para discutir informações privadas. O CEO da OpenAI, Sam Altman, e seu equivalente na Microsoft, Satya Nadella, discutiram a reestruturação durante a conferência da Allen & Co., em Sun Valley (Idaho), no início deste mês, disseram duas das fontes.

Sam Altman, CEO da OpenAI — Foto: Yuichi YAMAZAKI / AFP

Embora o tom das conversas seja positivo, algumas pessoas alertam que o acordo ainda não está fechado e pode enfrentar novos obstáculos. Além disso, os planos de reestruturação da OpenAI enfrentam outros desafios, incluindo escrutínio regulatório e um processo judicial movido por Elon Musk — investidor inicial que se afastou da empresa e a acusou de enganar investidores sobre seu compromisso com a missão filantrópica. (A OpenAI contestou as alegações e afirma que o bilionário quer apenas atrasar seu avanço.)

As negociações sobre o futuro da OpenAI como empresa lucrativa se arrastam há meses. A Microsoft — que investiu cerca de US\$ 13,75 bilhões na empresa e detém direito ao uso de sua propriedade intelectual — é o principal obstáculo entre os investidores da criadora do ChatGPT, como já havia sido reportado pela Bloomberg. A questão central é o tamanho da participação acionária da Microsoft na nova estrutura societária.

Desde então, as conversas se expandiram para uma renegociação mais ampla da relação entre as empresas. A Microsoft busca evitar perder abruptamente o acesso à tecnologia da OpenAI antes do fim do contrato atual, que vence em 2030. Microsoft e OpenAI não comentaram.

A parceria entre as duas empresas marcou o início da era da IA. A Microsoft construiu o supercomputador usado pela OpenAI para desenvolver os modelos de linguagem por trás do ChatGPT e, em troca, obteve o direito de incorporar essa tecnologia em seus produtos.

A relação começou a se desgastar quando o conselho da OpenAI demitiu (e depois recontratou) Altman em novembro de 2023 — episódio que abalou a confiança da Microsoft.

O racha aumentou à medida que ambas passaram a competir pelos mesmos clientes — consumidores domésticos que usam chatbots e empresas que adotaram assistentes de IA para aumentar a produtividade.

Mesmo com discursos públicos exaltando a parceria, a OpenAI buscava reduzir sua dependência da Microsoft, recebendo autorização para construir data centers e outras infraestruturas de IA com empresas rivais.

A OpenAI quer mudar sua estrutura jurídica complexa, parcialmente para obter novos financiamentos e continuar construindo data centers que suportem seus modelos de próxima geração. O SoftBank Group Corp., que manifestou interesse em investir dezenas de bilhões de dólares, pode reduzir esse montante se a reestruturação não for concluída até o fim do ano.

A startup também quer uma fatia maior da receita atualmente compartilhada com a Microsoft e busca ajustes no acesso da gigante à sua propriedade intelectual, disseram duas fontes. A Microsoft, por sua vez, deseja manter o acesso à tecnologia da OpenAI após o fim do contrato atual.

Há várias preocupações do lado da OpenAI. A empresa quer garantir uma posição sólida, independentemente da fatia de receita ou participação acionária da Microsoft, e assegurar que sua entidade sem fins lucrativos mantenha uma participação significativa. A OpenAI também quer poder oferecer produtos próprios, mesmo que a Microsoft use a mesma base tecnológica, e atender mais clientes — inclusive órgãos públicos que não utilizam a nuvem Azure, da Microsoft.

Ao mesmo tempo, quer garantir que a Microsoft respeite padrões rigorosos de segurança ao usar sua tecnologia, especialmente à medida que se aproxima da AGI.

Chegar a um acordo sobre o que acontece quando a OpenAI atingir a inteligência artificial geral tem sido particularmente delicado. Não está claro por que essa cláusula foi incluída no contrato, mas ela dá à OpenAI uma forma automática de seguir em frente sozinha justamente quando sua tecnologia atinge maturidade.

A startup define publicamente AGI como “sistemas altamente autônomos que superam os humanos na maioria das atividades economicamente valiosas”. O contrato atual inclui cláusulas distintas sobre esse marco, que podem ser acionadas por fatores técnicos ou comerciais, segundo duas fontes.

O conselho da OpenAI tem autoridade para decidir quando a empresa atingiu a AGI do ponto de vista técnico. Nessa situação, a Microsoft perderia acesso a qualquer tecnologia desenvolvida após esse marco.

O marco de negócios seria alcançado quando a OpenAI demonstrasse ser capaz de gerar cerca de US$ 100 bilhões em lucros para os investidores — incluindo a Microsoft — o suficiente para reembolsar o retorno a que a empresa tem direito segundo o contrato. Nesse cenário, a Microsoft perderia os direitos sobre a tecnologia da OpenAI, inclusive produtos desenvolvidos antes desse gatilho, disse outra fonte.

A Microsoft tem direito a opinar sobre esse marco de negócios, mas, se houver discordância entre as partes, a disputa pode parar nos tribunais. Outra cláusula do contrato atual impede a Microsoft de desenvolver sua própria tecnologia de AGI, segundo algumas fontes.

A Microsoft tem demonstrado alguma flexibilidade nos termos do novo contrato. A empresa aceitou abrir mão de certos direitos de propriedade intelectual relacionados à aquisição da io — startup cofundada pelo designer do iPhone, Jony Ive — por US$ 6,5 bilhões, segundo duas fontes.

No entanto, foi menos flexível diante da tentativa da OpenAI de adquirir a startup de codificação Windsurf. Esse acordo fracassou no início deste mês, em parte por causa do impasse com a Microsoft, segundo a Bloomberg.

A Windsurf — que vende ferramentas de programação concorrentes dos produtos da Microsoft — não queria que a gigante tivesse acesso à sua propriedade intelectual, algo que a OpenAI não conseguiu garantir. No fim, os cofundadores da Windsurf e parte da equipe aceitaram se juntar ao Google (da Alphabet ) em um negócio de US$ 2,4 bilhões.

Nas últimas semanas, as empresas vêm negociando a participação acionária da Microsoft na OpenAI reestruturada — e discutem uma fatia entre 30% e 35%, segundo uma fonte. O *Financial Times* já havia noticiado essas tratativas. No entanto, se a Microsoft considerar que essa participação e as demais mudanças no contrato são insuficientes, está disposta a encerrar as negociações e manter os termos atuais.

— Se um acordo for fechado, isso removeria um obstáculo, ao menos na visão dos investidores — afirmou Kash Rangan, analista do Goldman Sachs, à Bloomberg TV. — Ambas as partes têm muito a ganhar com isso.



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