Nas alegações finais enviadas ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro rebate o parecer enviado há duas semanas por Gonet, para quem a omissão de “fatos graves” e a adoção de uma “narrativa seletiva” por parte de Mauro Cid provocou “prejuízos relevantes ao interesse público”, o que exige uma “criteriosa ponderação” quanto à concessão de eventuais benefícios ao militar.
O delator também pediu a Moraes que seja absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ou condenado a uma pena inferior a dois anos de prisão, em um esforço para manter o posto e a patente e não correr o risco de ser expulso das Forças Armadas.
“A colaboração de Mauro Cid conferiu densidade, narrativa interna e autenticidade a diversos aspectos estruturais da organização criminosa”, rebate a defesa de Cid, criticando a postura de Gonet de promover uma “tentativa absurda de desqualificação da colaboração”.
FOTOS: Mauro Cid pratica exercícios físicos no Quartel da Polícia do Exército.
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
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Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz corrida durante a manhã no Quartel da Polícia do Exército, aonde esta preso. — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Atualmente é investigado pela PF.
“Mesmo diante de omissões pontuais levantadas pela acusação, que se deram por absoluto desconhecimento das eventuais ações planejadas, Mauro Cid jamais retirou sua adesão ao acordo ou se insurgiu contra sua validade. Ao contrário, reafirmou a espontaneidade e voluntariedade de sua decisão diversas vezes perante a Polícia Federal e essa Corte, acompanhado de defensores técnicos”, sustenta a defesa do delator.
Gonet criticou a “ambiguidade do comportamento” do delator e os depoimentos “superficiais” sobre sua própria atuação na trama para impedir a posse do presidente Lula.
“Em um Estado Democrático de Direito, aquele que decide falar a verdade — especialmente quando isso lhe custa a reputação, a carreira, a segurança e o vínculo com os círculos de poder — deve ser protegido, e não descartado, como quer a PGR”, dizem os advogados do militar.
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A defesa de Cid enviou nesta noite as alegações finais no âmbito da ação penal na qual ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto e outros cinco réus são acusados de integrar o “núcleo crucial” da trama golpista.
Eles podem ser condenados por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado.
Em 2023, Mauro Cid fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, homologado por Moraes, com uma cláusula que previa perdão judicial ou pena privativa de liberdade não superior a dois anos. Em tese, todos os crimes imputados a Cid podem levar a uma condenação de 43 anos de prisão.
Para o time jurídico de Cid, a PGR “em um linha muito tênue entre a realidade e a deslealdade processual, utiliza-se de todas as informações e provas colhidas a partir da colaboração premiada, ancorado nela a base de toda a sua acusação, sustentando, ao final da instrução em suas razões, que o Colaborador não merece o prêmio ajustado no acordo, uma vez que ele ‘resistiu ao reconhecimento de sua efetiva participação nos eventos sob investigação’, como se um dos termos acordados, exigisse e obrigasse o colaborar confessar crimes para obter seus benefícios, ainda que deles não tivesse qualquer participação”.
Na avaliação de Gonet, a redução da pena para o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro deve ser fixada em “patamar mínimo” – com a diminuição de apenas ⅓ da pena. Na prática, o parecer de Gonet pavimentou o caminho para Cid perder posto e patente no âmbito da Justiça Militar, caso a posição da PGR seja acolhida pelo Supremo.
Bolsonaro, Cid e outros réus depõem no STF sobre trama golpista
Depoimentos são conduzidos pelo relator da ação penal, ministro Alexandre de Moraes
Isso porque o Estatuto dos Militares prevê que ficará sujeito à declaração de indignidade para o oficialato, com a perda de posto e patente, o oficial que for condenado a uma pena restritiva de liberdade individual superior a dois anos. Esse risco, afastado no acordo que Cid fechou com a PF, acaba de voltar à tona com a manifestação da PGR.
A cláusula foi feita sob medida para evitar esse efeito colateral, mas, caso a proposta de Gonet vá adiante, a maior redução que Cid terá em sua pena será de ⅓. Como as penas para os crimes atribuídos pela PGR a Cid somam 43 anos, dificilmente ele ficaria com apenas dois anos de condenação.
“Se for mais de dois anos (de condenação no Supremo) existe a possibilidade de perda de patente e posto (na Justiça Militar), o que será um balde de água fria no Cid”, diz um general ouvido reservadamente pelo blog.
Caso seja condenado a mais de dois anos pelo Supremo, Cid deverá ser alvo de um futuro julgamento no âmbito do Superior Tribunal Militar (STM) que decidirá se o tenente-coronel é indigno ou não de pertencer às fileiras do Exército. É um julgamento que vai tratar dos aspectos éticos e morais do oficial sob o prisma do Estatuto dos Militares.