Enquanto o Brasil debate a gratuidade no transporte público, Maricá já vive há 11 anos uma revolução silenciosa sobre rodas. Com uma frota de 158 ônibus gratuitos — os icônicos “Vermelhinhos” — a cidade litorânea do Rio de Janeiro registra impressionantes 115 mil embarques por dia, garantindo mobilidade, inclusão social e economia direta para seus 212 mil habitantes.
Economia que circula
Desde janeiro, os moradores deixaram de gastar R$ 127,4 milhões em passagens, o equivalente a R$ 16 milhões mensais que agora são redirecionados para consumo, poupança e investimentos familiares. O impacto é sentido em todos os setores da economia local, com base na tarifa média de R$ 5,21 praticada nas cidades vizinhas.
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Modelo de gestão pública e inclusão
A operação é feita pela Empresa Pública de Transportes (EPT), criada pela prefeitura. Segundo Celso Haddad, presidente da EPT, Maricá lidera em número de ônibus, viagens e usuários entre as cidades com Tarifa Zero no país — superando até Caucaia (CE), que tem população maior. “De segunda a sexta, 65% da população usa ônibus para se deslocar. É o oposto do padrão nacional, onde o carro domina”, afirma Haddad.
Impacto social e constitucional
Para Haddad, o debate sobre a origem dos recursos precisa ser ampliado: “A Tarifa Zero é uma decisão política. Em Maricá, começamos com poucos royalties. Hoje, 140 cidades já adotaram o modelo, que consome de 1% a 5% do orçamento municipal. É um investimento que reverbera na saúde, educação, cultura e desenvolvimento. Transporte público é um direito constitucional, como moradia e segurança.”
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Sustentabilidade e inovação
Maricá não para. A cidade está investindo R$ 11,5 milhões para transformar sua frota em veículos movidos a hidrogênio verde, etanol e eletricidade até 2030. A meta é zerar emissões e reduzir custos operacionais. Desde 2021, a EPT também oferece 570 bicicletas gratuitas em 57 estações espalhadas pela cidade.
FGV comprova: Tarifa Zero impulsiona empregos e empresas
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas comparou 57 cidades com Tarifa Zero a outras com cobrança tradicional. O resultado: 3,2% mais empregos e 7,5% de crescimento no número de empresas nas cidades com transporte gratuito. A mobilidade sem barreiras é um motor de desenvolvimento.
Brasil em debate
O tema ganhou força nacional. Em agosto, o presidente Lula solicitou estudos sobre a viabilidade da Tarifa Zero em todo o país. Em setembro, Belo Horizonte iniciou votação para se tornar a primeira capital brasileira a adotar o modelo. A proposta já inspira projetos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com vistas à Região Metropolitana.
Maricá, que começou como exceção, agora é referência.