A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que classificou traficantes como “vítimas dos usuários de drogas”, provocou uma onda de indignação no Brasil. A declaração, feita durante entrevista à imprensa em Jacarta, na Indonésia, foi recebida com repulsa por parlamentares da oposição e por uma população que convive diariamente com os efeitos da violência urbana — assaltos, assassinatos e o domínio do tráfico em comunidades inteiras.
Durante a coletiva, Lula afirmou que “seria mais fácil combater os viciados” e que “os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”. A frase foi interpretada como mais um episódio da chamada bandidolatria, termo usado por críticos para descrever o suposto favorecimento ideológico da esquerda a criminosos em detrimento das vítimas da violência.
A repercussão foi imediata. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou: “Só falta o PCC virar ONG e receber incentivo do governo”. Já o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disparou: “Os traficantes são vítimas dos usuários, os assaltantes são vítimas dos assaltados, os assassinos são vítimas dos mortos… Vítima é o povo!”.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), também se manifestou: “É inacreditável. O homem que governa o país defende quem destrói famílias, quem enche os cemitérios e quem espalha violência nas ruas. Para ele, o bandido é vítima e o cidadão de bem é o culpado”.
A fala reacende o debate sobre a resistência da esquerda em aprovar legislações que endurecem o combate ao crime. Projetos que propõem penas mais severas para traficantes, maior autonomia para operações policiais e restrições à progressão de regime frequentemente enfrentam barreiras ideológicas no Congresso, especialmente entre partidos da base governista.
Além disso, Lula criticou ações militares dos Estados Unidos contra o narcotráfico, como os ataques a barcos na costa da Venezuela autorizados por Donald Trump. Para o presidente brasileiro, tais ofensivas violam a soberania dos países e transformam o mundo em uma “terra sem lei”.
A polêmica reacende a tensão entre segurança pública e ideologia, num país onde mais de 47 mil pessoas foram assassinadas em 2024, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Enquanto a população clama por medidas eficazes contra o crime, a declaração de Lula é vista por muitos como um sinal de desconexão com a realidade das ruas.
