O júri de uma das categorias do Prêmio Jabuti Acadêmico, concedido a obras científicas pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi acusado de conflito de interesses. Foram apontados vínculos entre jurados da categoria Psicologia e Psicanálise e organizadores do livro “Prática baseada em evidências em Psicologia Clínica: fundamentos teóricos, questões metodológicas e diretrizes para implementação” (Manole), finalista na mesma categoria.
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O jurado Henrique Caetano Nardi orientou o mestrado de Ramiro Nasser Catelan, um dos organizadores. Em maio, os dois publicaram um artigo científico juntamente com outros quatro autores. Para Tamara Melnik, professora do Programa de Saúde Baseada em Evidências da Unifesp, a relação “configura um vínculo formal, hierárquico e duradouro, com potenciais implicações para a independência do julgamento”. Ela ressalta ainda que outro organizador do livro finalista, Jan Luiz Leonardi, assinou um artigo científico com outra jurada, Maria Amália Andery, em 2017.
Melnik é uma das organizadoras do livro “Psicologia baseada em evidências”, também publicado pela Manole. A obra foi semifinalista do Jabuti Acadêmico, mas não passou pelo corte final. Ela disse ter feito a denúncia incentivada por seus pares, que também consideram que o caso configura conflito de interesses.
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Segundo Melnik, a relação entre os jurados e os finalistas vai na contramão de boas práticas de integridade científica e imparcialidade. Documentos internacionais, como os Guidelines for Managing Conflicts of Interest in Peer Review Processes (Cope, 2020) e o Code of Conduct for Research Integrity (Allea, 2017), reforçam a necessidade de evitar situações que possam comprometer, ou parecer comprometer, a imparcialidade de julgamentos em contextos científicos e acadêmicos, aponta a professora.
— Eu já orientei quase 100 alunos, de iniciação científica a pós-doutorado. Não posso participar de uma banca para avaliar nenhum deles porque seria um conflito de interesses — insiste Melnik. — Eu gostaria apenas de ter sido avaliada por uma banca isenta.
Procurado, o Jabuti Acadêmico enviou nota afirmando que “o caso apresentado não fere o regulamento da premiação nem configura conflito de interesses”. “O regulamento estabelece que os jurados não podem ter vínculo exclusivo com editora, autor(a), obra ou iniciativa inscrita em qualquer categoria, tampouco parentesco com os autores participantes”, diz a nota.
“Os jurados são profissionais amplamente reconhecidos e respeitados no meio acadêmico, com trajetórias consolidadas e reputação ilibada. Todos assumem contratualmente o compromisso de atuar com imparcialidade, rigor acadêmico e confidencialidade. Qualquer suspeita envolvendo os jurados ou o processo de avaliação é tratada com seriedade e agilidade, a fim de assegurar a equidade entre os concorrentes”, conclui o comunicado.
A cerimônia de entrega do 2º Prêmio Jabuti Acadêmico será realizada no dia 5 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.