Jessica Martin faz história e estreia como 'puxadora' oficial da Beija-Flor: ‘Quero permanecer 50 anos se puder’

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Criada num lar evangélico, Jessica Martin nem saberia o que é carnaval não fosse por Dona Graça. A vizinha e mãe da melhor amiga dos tempos da Praça Seca, bairro da Zona Oeste do Rio, era quem tutelava a então garota durante os dias de folia. Na casa dela, assistir aos desfiles das escolas de samba pela TV era o programa mais aguardado do ano.
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“Ela fazia um camão na sala e ficávamos eu e a Thais, minha melhor amiga até hoje, vendo tudo pela televisão. Eu tinha muitas fantasias, e não dessas que a gente usa. Eu achava tudo aquilo mágico demais. Botei na cabeça que um dia seria passista”, relembra.
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A vizinha era uma torcedora apaixonada pela Beija-Flor. Não importava a hora que fosse, ela acordava as meninas para ver sua escola do coração na Avenida. Jessica acabou herdando da mãe da amiga a mesma devoção pela Azul e Branco de Nilópolis.
“Aquilo foi aflorando, mas eu pensava: ‘nunca que vou conhecer a quadra’. Era longe, eu não tinha ninguém para me levar e para mim estava naquele lugar do sonho, sabe”, recorda.
Jessica Martin
Leo Martins
A cada ano a epopeia carnavalesca se repetia, mas nada de Jessica ir à Baixada Fluminense pisar naquele chão, para ela, sagrado. Que Dona Renata, a mãe, não nos leia. Ela sempre achou que carnaval não era coisa para a filha. Já o pai sucumbiu aos apelos da menina e, quando ela fez 16 anos, a levou a um teste para passistas na quadra da escola.
“De tanta perturbação, meu pai me levou e fui apresentada à Sônia Capeta (passista lendária e por 19 anos rainha de bateria da Beija-Flor). Ela me convidou para o teste e eu passei”, conta.
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Acontece que na época o diretor de carnaval era Laíla e ele não admitia que suas passistas tivessem mais de três faltas aos ensaios. Como Jessica não tinha o apoio dos pais e não podia ir sozinha para Nilópolis, já que era “de menor”, perdeu a vaga. O carnaval ficou na lembrança…
Jessica chorou por dias e. mais uma vez, prometeu a si mesma que voltaria ao posto e brilharia por lá. Por insistência de Dona Renata, Jessica entrou na faculdade de Fisioterapia porque “esse tal de samba” não a levaria a lugar algum. A contragosto foi até o penúltimo ano e abandonou a universidade. Decidiu trabalhar de carteira assinada como recepcionista.
“Já tinha 18 anos e ninguém podia mais me prender. Desfilei na União Parque Curicica, na Caprichosos, na Renascer de Jacarepaguá e fui passista show, tá? Porque sou dessas”, orgulha-se.
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Foi nessa época que conheceu Maurício, o marido, que já era frequentador assíduo das quadras das escolas de samba: “Com uma semana de namoro, engravidei! Em pleno carnaval! E lá se foi meu sonho outra vez…”.
Se o sonho de sambar sobre o salto não prosperava, o de cantar profissionalmente começava aflorar. A vida toda ela estudou na rede pública de ensino e foi lá que descobriu que a vocação para a arte ia além de querer viver em meio a paetês e lantejoulas. Passou a ser a voz principal do coral e enfiou na cabeça que um dia faria algo como sua “ídola” Whitney Houston: cantar à capela o hino de seu país. Foi lá e fez.
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Anos mais tarde, a mãe de Jessica se casou de novo e o padrasto era um cara da música. Visionário, ele percebeu que a enteada tinha futuro e tirou do próprio bolso a produção do primeiro CD da jovem cantora. Foi ele também que a levou para a fila do “Ídolos”, em 2009, e Jessica chegou aos 40 finalistas. A fase de investimento não durou muito. Quando ele se separou da mãe de Jessica, levou os CDs junto. A música ficou na lembrança…
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Foi Maurício quem passou a investir na mulher anos mais tarde. Ele a incentivou a entrar numa banda de rock e a fazer um dueto, voz e violão, com um músico. A ideia dele, no entanto, era ampliar o projeto e formar uma banda baile. O parceiro de Jessica não gostou:
“O cara me esculachou. Disse que eu era muito velha e não tinha como competir com as menininhas novas, com cara de maçã”.
O cara me esculachou. Disse que eu era muito velha e não tinha como competir com as menininhas novas, com cara de maçã”.
Jessica Martin
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Jessica e Maurício decidiram empreender, abriram lojas de roupa e trabalharam duro. Até que numa obra dessas do destino ele conheceu Diogo Nogueira numa pelada que o sambista sempre promove. Os dois viraram “brother”.
“Aí pensei, acho que já posso falar que minha mulher canta, vai que tem uma vaga de backing vocal, sei lá. Cheguei na pelada e contei pra ele, que foi super solicito. E, justo nesse dia, ele me pediu para jogar no time contra porque alguém tinha faltado. No meio do jogo, dei uma entrada forte nele, mas foi sem querer, coisa ali do momento. Nossa, ele acabou comigo, me mandou embora, disse que não queria nunca mais me ver”, relata, aos risos. E o sonho de Jessica? Pois é…
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Como é tinhoso, Maurício decidiu comprar os equipamentos, chamar músicos e montar a banda para sua estrela. Nisso, veio a pandemia. Endividados, com equipamento parado, o casal passou um perrengue. Quando as coisas começaram a reabrir, cataram a carteira de clientes e Jessica voltou a se apresentar.
Foi no fim de 2021 que tudo mudou. Numa festa, um senhor filmava Jessica no palco. No intervalo, pediu uma música de Roberto Carlos. Ela mandou logo duas.
“Ele me perguntou se eu cantava samba-enredo. Não, mas daria um jeito. Quando acabou o show, ele me chamou e disse que tinha mandado um vídeo meu para o diretor musical da escola de samba dele e falou: ‘Menina, quero que você entre cantando na Sapucaí’. Aceitei, né, tinha o sonho de conhecer o Sambódromo”, descreve.
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O tal do homem era Almir Reis, presidente da Beija-Flor. Sim, a escola dos sonhos de menina:
“Ele disse: ‘Olha, mas você vai cantar com o maior intérprete do mundo’. Gelei e perguntei qual era a escola. Quando ele contou, virei as costas e falei, ‘ih, garoto, tá maluco? Não vou não’”.
Não só foi como, cinco anos depois, é ao lado de Nino, que venceu com ela um reality show para descobrir a nova voz da escola, que Jessica, de 36 anos, vai entrar na Avenida. Desta vez como a puxadora oficial da campeã de 2025, que durante meio século desfilou embalada por Neguinho da Beija-Flor.
Sei que muita gente acha que caí nessa de paraquedas, que não tenho nenhuma relação com a escola. Reconheço o preconceito. Eu não sou uma substituta. Eu e Nino temos uma responsabilidade imensa, mas eu só quero pensar nisso no dia do desfile. Acho que a minha missão hoje é tornar o cenário diferente para as mulheres. Tornar real. E eu quero permanecer, 50 anos se puder. Nós mulheres também somos capazes de carregar uma escola, fazendo 3 mil componentes cantarem junto. Meu sonho é tornar isso possível”.
Produção: Carla Garan @carlagaran
Beleza: Ewerton Pacheco @ewertonpacheco
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Com informações da fonte
https://extra.globo.com/famosos/noticia/2025/12/jessica-martin-faz-historia-e-estreia-como-puxadora-oficial-da-beija-flor-quero-permanecer-50-anos-se-puder.ghtml

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